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Senado aprova aposentadoria especial para agentes de saúde e de endemias

O Senado Federal aprovou, nesta terça-feira (25), o Projeto de Lei Complementar (PLP) 185/2024, que institui regras de aposentadoria especial para Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Combate às Endemias (ACE). A votação, ...
Eliseu Lins, da Agência NE9
26 de novembro de 2025 - às 06:53
Atualizado 26 de novembro de 2025 - às 06:53
4 min de leitura

O Senado Federal aprovou, nesta terça-feira (25), o Projeto de Lei Complementar (PLP) 185/2024, que institui regras de aposentadoria especial para Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e Agentes de Combate às Endemias (ACE). A votação, marcada por forte mobilização nacional, reuniu profissionais de diversos estados — com caravanas de Pernambuco, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte preenchendo a galeria e o auditório Petrônio Portella. O texto segue agora para análise da Câmara dos Deputados.

O autor da proposta, senador paraibano Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), destacou que a medida apenas regulamenta um direito previsto desde a Constituição de 1988.

“Quem conhece a realidade desses profissionais entende o peso dessa conquista. São anos de trabalho duro, visitas em áreas remotas, enfrentando riscos físicos, emocionais e sanitários”, afirmou.

O que muda com o PLP 185/2024

Com a aprovação, a categoria passa a ter direito à aposentadoria com integralidade e paridade, seguindo critérios diferenciados:

  • Homens: aposentadoria a partir dos 52 anos, com mínimo de 20 anos na função.
  • Mulheres: aposentadoria a partir dos 50 anos, também com no mínimo 20 anos de atividade.

Há ainda a possibilidade de aposentadoria para quem atuou 15 anos como ACS/ACE e mais 10 anos em outra função pública. Estados e municípios terão até 120 dias para ajustar suas legislações.

Além disso, a proposta garante:

  • pensão por morte com integralidade;
  • aposentadoria por incapacidade permanente quando decorrente de doença relacionada ao trabalho;
  • contagem de tempo para agentes que já exerceram a função em diferentes regimes de previdência.

Impacto direto no Nordeste

A região Nordeste concentra aproximadamente 30% dos agentes comunitários e de endemias do Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Eles atuam em áreas urbanas, rurais, ribeirinhas, sertanejas e quilombolas — muitas vezes em localidades de difícil acesso.

Nos municípios do Semiárido, onde o deslocamento sob sol forte pode ultrapassar 40 °C, ACS e ACE percorrem longas distâncias para acompanhar famílias vulneráveis, registrar gestantes, acompanhar hipertensos e diabéticos e realizar ações preventivas contra arboviroses como dengue, chikungunya e zika.

Em capitais como Salvador, Fortaleza, Recife e São Luís, o trabalho também é essencial para reduzir internações evitáveis e ampliar a cobertura vacinal.

O senador Wellington Fagundes (PL-MT), relator do projeto, ressaltou o impacto econômico do trabalho da categoria:
“Cada R$ 1 investido nesses profissionais evita de R$ 4 a R$ 7 em internações e tratamentos de alta complexidade. Prevenção não é gasto, é economia.”

Avanços reconhecidos por parlamentares

Durante a sessão, vários senadores destacaram a importância da categoria:

  • Izalci Lucas (PL-DF) lembrou do protagonismo dos agentes durante a pandemia de covid-19.
  • Zequinha Marinho (Podemos-PA) citou profissionais que percorrem rios na Amazônia em pequenas embarcações para atender comunidades isoladas.
  • Soraya Thronicke (Podemos-MS) reforçou que não se trata de privilégio, mas de correção histórica.
  • Marcelo Castro (MDB-PI) classificou o projeto como “necessário e humanitário”.
  • Zenaide Maia (PSD-RN) destacou que os agentes são “a linha de frente da medicina preventiva no Brasil”.
  • Damares Alves (Republicanos-DF) citou agentes que já adoeceram repetidas vezes em serviço e reforçou que o risco da atividade é real e contínuo.

O papel estratégico dos agentes

O Brasil possui mais de 400 mil agentes ativos. Eles realizam cerca de 300 milhões de visitas domiciliares por semestre, aproximando o Sistema Único de Saúde (SUS) da população.

Entre suas atribuições:

  • monitoramento de famílias;
  • vacinação e pré-natal;
  • ações contra endemias;
  • participação em campanhas de saúde;
  • identificação de situações de vulnerabilidade, inclusive violência contra crianças.

Para o Nordeste, onde muitos municípios têm áreas rurais extensas e índices mais altos de doenças infecciosas, o trabalho dos ACS e ACE é decisivo.

Direito previsto na Constituição

O PLP busca regulamentar a Emenda Constitucional 120/2022, que já garantia a paridade salarial e a aposentadoria especial da categoria. Agora, falta apenas a análise da Câmara para que a lei seja finalmente implementada.

“Hoje é um dia de justiça”, resumiu Damares Alves, em referência ao histórico de riscos enfrentados por esses profissionais na ponta do atendimento.

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Eliseu Lins

Eliseu Lins é baiano de nascimento e paraibano de coração. Jornalista formado na UFPB, tem mais de 20 anos de atuação na imprensa do Nordeste. É pós-graduado em jornalismo cultural e ocupa o cargo de editor-chefe do NE9 desde 2022.