Em um movimento decisivo para proteger sua economia dos impactos das altas tarifas impostas pelos Estados Unidos, o Governo do Ceará está acelerando uma série de medidas de apoio aos empresários e trabalhadores locais. A situação, classificada como de “emergência” por decreto, mobiliza o estado em uma força-tarefa para evitar que a guerra comercial internacional cause estragos no mercado interno.
A princípio, a principal ação em curso é um edital de apoio direto a empresas de produção de alimentos. O estado vai comprar produtos como mel, castanha, filé de peixe, água de coco e cajuína daqueles exportadores que comprovarem uma queda nas vendas para o mercado americano. O edital, uma linha crucial de socorro, está com as inscrições abertas apenas até esta sexta-feira, 5 de setembro de 2025.
Como o Ceará encarou o tarifaço com uma resposta imediata
Ao mesmo tempo, a base legal para essa e outras ações é o Decreto nº 36.828, assinado pelo governador Elmano de Freitas na quinta-feira (4). Assim, o documento é claro ao “reconhecer, para todos os fins legais, a situação de emergência” provocada pelo tarifaço. O objetivo é agilizar a burocracia e facilitar a coordenação de um plano de defesa para amortecer o golpe sofrido pelas empresas cearenses.
A medida é mais do que necessária. O Ceará é o estado brasileiro mais dependente dos EUA como destino de suas exportações, com mais de 44% de seus produtos vendidos para lá. O problema é que a grande maioria desses produtos não conseguiu escapar das novas taxas.
Por que o Ceará é tão impactado pelo tarifaço?
Os Estados Unidos anunciaram um pacote de sobretaxas de 50% para uma série de produtos brasileiros, uma das medidas mais agressivas na guerra comercial promovida pelo presidente Donald Trump. No entanto, concederam algumas exceções. Foi aí que o Ceará saiu em desvantagem: mais de 90% de sua pauta exportadora para os americanos não foi contemplada pelas exceções e segue facing a tarifa máxima.
A tabela abaixo ilustra a dimensão do desafio para os principais produtos cearenses:
Produto | Situação perante o Decreto Americano | Impacto da Tarifa de 50% |
---|---|---|
Pás Eólicas | Não Contemplado pela exceção | Alto impacto na competitividade |
Caju e Derivados | Parcialmente Contemplado | Impacto severo em produtos como cajuína |
Frutas (Melão, Manga) | Parcialmente Contemplado | Impacto variável por tipo de fruta |
Pescados (Filé de Peixe) | Não Contemplado pela exceção | Perda grave de competitividade |
Produtos Siderúrgicos | Não Contemplado pela exceção | Impacto direto no setor industrial |
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A força-tarefa e o contexto maior das sanções
Vale contextualizar que o “tarifaço” é apenas uma face de uma pressão maior do governo Trump contra o Brasil. As medidas incluem desde investigações comerciais sobre sistemas de pagamento como o Pix até sanções financeiras diretas contra autoridades brasileiras, notadamente o ministro do STF Alexandre de Moraes.

O cerne do conflito, segundo Trump, é a atuação de Moraes como relator das investigações da tentativa de golpe de Estado de 2022 e dos ataques de 8 de janeiro. Para o governo americano, o ministro estaria “perseguindo” o ex-presidente Jair Bolsonaro. O caso ganhou contornos ainda mais complexos com o indiciamento nos EUA do deputado Eduardo Bolsonaro e do próprio ex-presidente por supostamente atuarem a favor das sanções contra seu próprio país.
Enquanto esses embates geopolíticos se desenrolam, o Ceará não pode esperar. A iniciativa de comprar a produção local é um primeiro e vital passo para garantir que o emprego e a renda de milhares de cearenses não sejam as próximas vítimas dessa guerra comercial. O estado mostra que, enquanto a diplomacia busca soluções, é no chão da fábrica e no campo que a resistência econômica começa.
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