Achado novo Sítio Arqueológico na Bahia

sitio arqueologico na Bahia
sitio arqueologico na Bahia FOTO REPRODUÇÃO

Na pacata vila de Santiago do Iguape, localizada à beira do rio Paraguaçu, no Recôncavo Baiano, história e arqueologia se encontram de forma surpreendente.

Fundada pelos jesuítas no século XVI, a vila já era conhecida por abrigar a primeira igreja do Recôncavo, que recebeu a sanção canônica de matriz de Santiago.

Pesquisadores trabalham cima de ossadas humanas e fragmentos

Recentemente, o local ganhou ainda mais destaque com a descoberta de um sítio arqueológico que guarda vestígios não apenas do período colonial, mas também da pré-história.

Sitio arqueologico na bahia
Fotos= Feijão AlmeidaGOVBA

Durante escavações para a construção de uma praça ao lado da igreja, trabalhadores se depararam com ossadas humanas e fragmentos que remontam a épocas distintas. O achado levou à suspensão das obras e à entrada em cena de arqueólogos, que já identificaram mais de 2 mil fragmentos e cerca de 30 ossadas de pessoas e animais, algumas datadas do século XVI. Entre as maiores surpresas, estão estruturas de sambaquis, depósitos milenares de conchas e restos alimentares, raros na região Nordeste.

Sambaquis: raridade no Nordeste

Os sambaquis encontrados são significativos, pois a maioria das estruturas similares no Brasil está localizada no Sul e Sudeste. “Eles podem ter até 10 mil anos. O fato de estarem aqui no Nordeste é muito especial”, explica a arqueóloga Bruna Brito. Essa descoberta ajuda a traçar um panorama único sobre os povos que habitaram a região ao longo dos séculos.

Estudos e impacto cultural

Todo o material encontrado está sendo analisado no laboratório de osteoarqueologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), onde serão realizados estudos de DNA. “Essa é uma oportunidade única de analisar geneticamente dezenas de indivíduos, incluindo suas heranças culturais e africanas, especialmente em uma região que é um dos maiores centros da c

Os Jesuítas e a Bahia

A chegada dos jesuítas ao Brasil, no século XVI, marcou um importante capítulo da história do país. Atuando de forma expressiva na Bahia, os membros da Companhia de Jesus deixaram contribuições significativas para a formação cultural, educacional e religiosa da região. Os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, acompanhando Tomé de Souza, o primeiro governador-geral, com o objetivo de catequizar os povos indígenas e promover a educação na colônia.

Na Bahia, os jesuítas estabeleceram missões, colégios e igrejas que se tornaram marcos históricos. Entre os seus principais legados estão o Colégio dos Jesuítas de Salvador, considerado o primeiro centro de ensino da América Latina, e a Igreja de São João Batista, em Abrantes, que ainda guarda vestígios da influência religiosa e arquitetônica da ordem.

AspectosDetalhes
Chegada ao Brasil1549, acompanhando Tomé de Souza
Objetivo principalCatequizar povos indígenas e promover a educação
Marcos na BahiaColégio dos Jesuítas de Salvador, Igreja de São João Batista em Abrantes
ContribuiçõesEducação, organização urbana, introdução de técnicas agrícolas
ConflitosImposição cultural sobre povos indígenas e conflitos com colonos
Expulsão1759, por decreto do Marquês de Pombal
Legado atualPatrimônio histórico e cultural, como igrejas, colégios e técnicas agrícolas

Sambaquis: raridade no Nordeste

Os sambaquis encontrados são significativos, pois a maioria das estruturas similares no Brasil está localizada no Sul e Sudeste. “Eles podem ter até 10 mil anos. O fato de estarem aqui no Nordeste é muito especial”, explica a arqueóloga Bruna Brito. Essa descoberta ajuda a traçar um panorama único sobre os povos que habitaram a região ao longo dos séculos.

Estudos e impacto cultural

Todo o material encontrado está sendo analisado no laboratório de osteoarqueologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI), onde serão realizados estudos de DNA. “Essa é uma oportunidade única de analisar geneticamente dezenas de indivíduos, incluindo suas heranças culturais e africanas, especialmente em uma região que é um dos maiores centros da cultura afro-brasileira”, ressalta Cláudia Cunha, professora de Arqueologia na UFPI.

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Entre o Colonial e o Pré-Histórico

A surpresa não para por aí. Durante as escavações, também surgiram indícios de sambaquis – antigos montes de conchas e restos de alimentos formados por comunidades ribeirinhas.
Esses sambaquis são típicos de populações que dependiam da pesca e da caça, e sua presença na região é uma revelação importante sobre a ocupação pré-histórica do Recôncavo Baiano. “É um achado inédito para essa área”, comenta Bruna Brito, arqueóloga responsável pela escavação. “Os sambaquis, que geralmente são encontrados nas margens de rios e mares, indicam uma ocupação muito mais antiga do que a da colonização portuguesa.”
Além disso, foram encontrados enterramentos indígenas ao lado de um cemitério cristão, o que evidencia a convivência de diferentes culturas no mesmo espaço. “Isso revela uma história de ocupação e convivência complexa e multifacetada. Não se trata apenas de um cemitério cristão, mas de uma camada de história que inclui a presença dos primeiros habitantes da região, suas práticas culturais e os efeitos da colonização”, conclui a arqueóloga.
À medida que as escavações continuam, mais segredos sobre a história da Bahia e do Brasil estão sendo desvelados. “O que estamos descobrindo aqui não são apenas vestígios isolados, mas fragmentos de uma identidade mais profunda e complexa. O Recôncavo Baiano, com sua história de resistência cultural, revela agora uma faceta ainda mais rica de seu passado”, finaliza Bruna Brito.

Envolvimento da comunidade

A descoberta também despertou grande interesse entre os moradores e estudantes locais.

Arqueólogos têm visitado escolas para compartilhar a relevância dos achados. Alunos, como Ana Clara de Jesus, de 13 anos, relatam experiências emocionantes ao visitar o sítio arqueológico: “Quando cheguei aqui, senti uma força maior do que eu. Imaginei como os povos negros passaram por aqui.”

A integração da comunidade com o projeto não apenas amplia o conhecimento histórico, mas também reforça os laços dos moradores com suas raízes culturais e ancestrais, contribuindo para uma nova compreensão da história da Bahia e do Brasil