Atleta vira exemplo de superação no esporte brasileiro
O surf brasileiro ganhou um novo capítulo de inspiração e conquista. Depois da consagração do Bi Campeonato Brasileiro do pernambucano Douglas Silva, o paraibano José Francisco Silva Neto, conhecido nacionalmente como Fininho, tornou-se tricampeão catarinense profissional, um feito raro em um dos estados mais tradicionais e competitivos do surf no país. O título foi confirmado neste fim de semana, durante a terceira etapa do circuito estadual, o São Chico Surf Festival, em São Francisco do Sul (SC). Ele já tinha sido campeão em 2022 e 2023.
ISA Games e estreia no Challenger Series WSL
Além do destaque regional, Fininho vem expandindo sua trajetória no cenário internacional. O atleta já representou o Brasil em duas edições do ISA Games, na categoria Open, competindo com alguns dos melhores surfistas do planeta.
Em 2025, deu outro passo importante: estreou no Challenger Series, divisão de acesso da WSL que define quem chega à elite do Circuito Mundial de Surf.
- Ranking Challenger Series 2025: 80º lugar, com 1.450 pontos.
- Ranking WSL Sul-América: 64º lugar, com 1.720 pontos.
Os resultados mostram a evolução técnica e competitiva do atleta, que agora mira alcançar uma vaga na primeira divisão da WSL.
Tricampeão em território de elite
Radicado em Florianópolis há dez anos, Fininho abriu a temporada vencendo a primeira etapa e encerrou o circuito com o vice-campeonato na última prova — resultado suficiente para garantir o título geral. Na final decisiva, ele perdeu por margem mínima para o jovem talento Heitor Mueller: 15,43 a 14,83 pontos.
O paraibano terminou o ranking estadual com 6.000 pontos, seguido pelos catarinenses Matheus Navarro (5.110) e Lucas Vicente (4.690), numa das disputas mais equilibradas dos últimos anos.

Um nordestino no topo do surf de Santa Catarina
Ser tricampeão de Santa Catarina, estado que revela campeões mundiais e grandes nomes do surf, é um feito que poucos atletas alcançam. E o detalhe que dá ainda mais brilho à conquista: Fininho é nordestino, nascido em Cabedelo (PB), berço do Mar do Macaco, palco de sua primeira grande inspiração nas ondas.
Com o título, o atleta entra de vez para a história do surf catarinense e reforça a presença cada vez mais forte de surfistas do Nordeste no cenário nacional.
A história por trás do campeão: das ruas ao pódio
Por trás do tricampeonato, existe uma trajetória marcada por dificuldades, superação e determinação.
Fininho enfrentou uma infância extremamente difícil. Fugiu de casa ainda criança para escapar de um ambiente de violência doméstica e passou quase dois anos vivendo nas ruas da orla de Cabedelo, grande João Pessoa. Ali, pedia comida e ajuda a quem passava.
Foi nessa fase que encontrou seu primeiro lar de verdade: o Bar do Surfista, de Valdir Silva — o homem que mudou sua vida. Valdir acolheu Fininho, ensinou disciplina, cobrou estudo e ofereceu as primeiras pranchas, ainda quebradas ou emprestadas.
“No começo, deixava que ficassem surfando com pranchas emprestadas. Depois, condicionei: só surfava quem estudasse. Quando ele aprendeu a ler e escrever, dei até uma bicicleta”, lembra Valdir, emocionado.
O bar — que se tornaria uma espécie de museu da trajetória do atleta — está prestes a ser demolido por um projeto de reurbanização, mas seguirá eternizado como o local onde o campeão encontrou abrigo, afeto e futuro.
Da rua ao mundo: o sonho agora é global
Além do tricampeonato estadual, Fininho foi convocado para representar o Brasil no Mundial de Surf. Entretanto, ele vive um novo desafio: não tem patrocínio para custear a viagem.
“Vai ser complicado. Estou correndo atrás. Já deixei currículo em várias empresas. Quem sabe agora aparece um apoio? Meu sonho é ser campeão mundial”, disse.
O atleta já acumula títulos como campeão paraibano, destaque em etapas nacionais e em competições júnior.
Por que a conquista de Fininho tem importância nacional?
- Marca o avanço do surf nordestino entre os grandes polos do esporte.
- Rompe barreiras regionais: um nordestino tricampeão em um dos estados mais fortes do surf.
- Serve de inspiração para jovens de origem humilde que sonham em mudar a própria realidade.
- Mostra a necessidade de mais investimentos no esporte e no talento brasileiro.
A vitória de José Francisco “Fininho” representa muito mais que um título: simboliza resistência, talento e esperança. De menino de rua em Cabedelo a tricampeão em Santa Catarina e convocado para o Mundial, o paraibano prova que sonhos resistem — mesmo diante de todas as ondas contrárias.
Agora, o surf nordestino tem seu novo ícone, e o Brasil, mais um motivo para acreditar no poder transformador do esporte.
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