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Surf nordestino faz história: paraibano José Francisco “Fininho” conquista tricampeonato catarinense

Atleta vira exemplo de superação no esporte brasileiro O surf brasileiro ganhou um novo capítulo de inspiração e conquista. Depois da consagração do Bi Campeonato Brasileiro do pernambucano Douglas Silva, o paraibano José Francisco Silva ...
Eliseu Lins, da Agência NE9
27 de novembro de 2025 - às 06:58
Atualizado 27 de novembro de 2025 - às 06:58
5 min de leitura

Atleta vira exemplo de superação no esporte brasileiro

O surf brasileiro ganhou um novo capítulo de inspiração e conquista. Depois da consagração do Bi Campeonato Brasileiro do pernambucano Douglas Silva, o paraibano José Francisco Silva Neto, conhecido nacionalmente como Fininho, tornou-se tricampeão catarinense profissional, um feito raro em um dos estados mais tradicionais e competitivos do surf no país. O título foi confirmado neste fim de semana, durante a terceira etapa do circuito estadual, o São Chico Surf Festival, em São Francisco do Sul (SC). Ele já tinha sido campeão em 2022 e 2023.

ISA Games e estreia no Challenger Series WSL

Além do destaque regional, Fininho vem expandindo sua trajetória no cenário internacional. O atleta já representou o Brasil em duas edições do ISA Games, na categoria Open, competindo com alguns dos melhores surfistas do planeta.

Em 2025, deu outro passo importante: estreou no Challenger Series, divisão de acesso da WSL que define quem chega à elite do Circuito Mundial de Surf.

  • Ranking Challenger Series 2025: 80º lugar, com 1.450 pontos.
  • Ranking WSL Sul-América: 64º lugar, com 1.720 pontos.

Os resultados mostram a evolução técnica e competitiva do atleta, que agora mira alcançar uma vaga na primeira divisão da WSL.

Tricampeão em território de elite

Radicado em Florianópolis há dez anos, Fininho abriu a temporada vencendo a primeira etapa e encerrou o circuito com o vice-campeonato na última prova — resultado suficiente para garantir o título geral. Na final decisiva, ele perdeu por margem mínima para o jovem talento Heitor Mueller: 15,43 a 14,83 pontos.

O paraibano terminou o ranking estadual com 6.000 pontos, seguido pelos catarinenses Matheus Navarro (5.110) e Lucas Vicente (4.690), numa das disputas mais equilibradas dos últimos anos.

Fininho comemorando seu primeiro título em 2022 foto fecasurf

Um nordestino no topo do surf de Santa Catarina

Ser tricampeão de Santa Catarina, estado que revela campeões mundiais e grandes nomes do surf, é um feito que poucos atletas alcançam. E o detalhe que dá ainda mais brilho à conquista: Fininho é nordestino, nascido em Cabedelo (PB), berço do Mar do Macaco, palco de sua primeira grande inspiração nas ondas.

Com o título, o atleta entra de vez para a história do surf catarinense e reforça a presença cada vez mais forte de surfistas do Nordeste no cenário nacional.

A história por trás do campeão: das ruas ao pódio

Por trás do tricampeonato, existe uma trajetória marcada por dificuldades, superação e determinação.

Fininho enfrentou uma infância extremamente difícil. Fugiu de casa ainda criança para escapar de um ambiente de violência doméstica e passou quase dois anos vivendo nas ruas da orla de Cabedelo, grande João Pessoa. Ali, pedia comida e ajuda a quem passava.

Foi nessa fase que encontrou seu primeiro lar de verdade: o Bar do Surfista, de Valdir Silva — o homem que mudou sua vida. Valdir acolheu Fininho, ensinou disciplina, cobrou estudo e ofereceu as primeiras pranchas, ainda quebradas ou emprestadas.

“No começo, deixava que ficassem surfando com pranchas emprestadas. Depois, condicionei: só surfava quem estudasse. Quando ele aprendeu a ler e escrever, dei até uma bicicleta”, lembra Valdir, emocionado.

O bar — que se tornaria uma espécie de museu da trajetória do atleta — está prestes a ser demolido por um projeto de reurbanização, mas seguirá eternizado como o local onde o campeão encontrou abrigo, afeto e futuro.

Da rua ao mundo: o sonho agora é global

Além do tricampeonato estadual, Fininho foi convocado para representar o Brasil no Mundial de Surf. Entretanto, ele vive um novo desafio: não tem patrocínio para custear a viagem.

“Vai ser complicado. Estou correndo atrás. Já deixei currículo em várias empresas. Quem sabe agora aparece um apoio? Meu sonho é ser campeão mundial”, disse.

O atleta já acumula títulos como campeão paraibano, destaque em etapas nacionais e em competições júnior.

Por que a conquista de Fininho tem importância nacional?

  • Marca o avanço do surf nordestino entre os grandes polos do esporte.
  • Rompe barreiras regionais: um nordestino tricampeão em um dos estados mais fortes do surf.
  • Serve de inspiração para jovens de origem humilde que sonham em mudar a própria realidade.
  • Mostra a necessidade de mais investimentos no esporte e no talento brasileiro.

A vitória de José Francisco “Fininho” representa muito mais que um título: simboliza resistência, talento e esperança. De menino de rua em Cabedelo a tricampeão em Santa Catarina e convocado para o Mundial, o paraibano prova que sonhos resistem — mesmo diante de todas as ondas contrárias.

Agora, o surf nordestino tem seu novo ícone, e o Brasil, mais um motivo para acreditar no poder transformador do esporte.

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Eliseu Lins

Eliseu Lins é baiano de nascimento e paraibano de coração. Jornalista formado na UFPB, tem mais de 20 anos de atuação na imprensa do Nordeste. É pós-graduado em jornalismo cultural e ocupa o cargo de editor-chefe do NE9 desde 2022.