Sergipe pode se beneficiar em uma possível guerra comercial com os EUA

petroleo OLEO EXPORTAÇÃO SERGIPE
petroleo OLEO EXPORTAÇÃO SERGIPE

Caso uma eventual guerra comercial com os Estados Unidos atinja os produtos brasileiros, o impacto pode ser mais severo no Nordeste do que no restante do país. O Brasil ocupa o quarto lugar entre os países mais vulneráveis a essa situação, segundo dados compilados pela Bloomberg com base em informações da UN Comtrade, da ONU.

Especialistas consultados pelo Portal Movimento Econômico acreditam que as possíveis tarifas impostas pelo governo americano podem prejudicar fortemente as exportações nordestinas. No entanto, Sergipe desponta como um dos poucos estados que podem ser beneficiados por esse cenário.

Dos 10 produtos mais exportados pelo NE, seis estão entre os mais comprados pelos EUA

O coordenador dos cursos de Gestão da UNIFBV e mestre em Economia, Gustavo Delgado, afirma que o Nordeste está mais exposto a uma taxação dos EUA do que o restante do Brasil. Isso porque seis dos dez produtos mais exportados pela região fazem parte da lista de itens que os americanos mais compram do país.

Entre esses produtos estão:

  • Pasta química de madeira
  • Semimanufaturados de ferro ou aço
  • Óxido de alumínio
  • Ferro fundido
  • Outros produtos de origem animal impróprios para alimentação humana
  • Material para fabricação de ração animal

Com uma possível elevação de tarifas, essas indústrias seriam diretamente impactadas, com reflexos na produção e no setor industrial da região.

A balança comercial entre Brasil e EUA

Em 2024, o Brasil exportou um total de US$ 40,3 bilhões para os Estados Unidos, distribuídos em 3.525 itens. Apenas os 10 produtos mais vendidos representaram US$ 18,5 bilhões desse montante.

No Nordeste, as exportações para os EUA totalizaram US$ 2,8 bilhões em 856 produtos, sendo que quase 60% desse valor veio de apenas dez itens comercializados. No mesmo período, a região importou US$ 6 bilhões em 1.316 itens dos Estados Unidos.

Sergipe pode ganhar com as tensões comerciais

O economista do Sistema Fecomércio em Sergipe, Márcio Rocha, destaca que, apesar dos possíveis impactos negativos, o estado pode sair ganhando com as tensões comerciais entre Brasil e EUA.

“Sergipe pode sofrer algum efeito colateral, mas ao mesmo tempo, temos um setor que pode se beneficiar. No ano passado, pela primeira vez, exportamos óleo bruto para os Estados Unidos, o que pode ser um reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia. Os americanos precisaram buscar novos fornecedores de petróleo e aumentaram as compras da commodity brasileira”, explica.

Em 2024, Sergipe exportou US$ 72 milhões para os EUA, sendo US$ 44,3 milhões apenas em petróleo bruto.

Dependência americana do oleo sergipano

PRODUÇÃO SERGIPE foto divulgação
PRODUÇÃO SERGIPE foto divulgação

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A balança comercial de Sergipe ainda é negativa, pois o estado importou US$ 102 milhões dos EUA no mesmo período. No entanto, Rocha acredita que o estado dificilmente enfrentará barreiras tarifárias no setor petrolífero.

“O Brasil não é autossuficiente em combustíveis refinados, como gasolina e diesel. Os americanos exportam esses produtos para nós, enquanto dependem de óleo bruto brasileiro. Isso pode ser vantajoso para Sergipe, que nunca havia exportado essa commodity para os EUA, mas agora se tornou um fornecedor relevante”, afirma o economista.

Sergipe exporta apenas 0,77% do total de US$ 5,7 bilhões em petróleo que os Estados Unidos compraram do Brasil em 2024. No entanto, para um estado pequeno, esse número representa um marco significativo.

O município de Japaratuba foi responsável por toda a exportação de petróleo de Sergipe em 2024, somando R$ 237 milhões. Esse volume pode crescer caso os EUA intensifiquem as compras de óleo bruto sergipano, tornando o estado uma peça-chave no setor energético nacional.

Conclusão

Enquanto uma guerra comercial entre Brasil e Estados Unidos poderia afetar negativamente boa parte da economia nordestina, Sergipe surge como um possível beneficiado, especialmente no setor petrolífero.

Assim, se as tensões comerciais se mantiverem, o estado pode consolidar sua posição como um fornecedor estratégico de petróleo para o mercado americano, fortalecendo sua economia diante desse novo cenário global.

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