O potencial de Pernambuco para o biogás e o biometano é alto, porque o Estado é um grande produtor de açúcar e álcool
Segunda redonda do Seminário Gás – O combustível da transição energética que contou com a participação de Renato Cunha, do Sindaçúcar-PE
Historicamente vocacionado ao setor sucroenergético, o estado pernambucano desponta como um forte indutor de biocombustíveis, consequentemente, com um aliado do biogás e do biometano. Do açúcar ao biocombustível de avião, a cana-de-açúcar caminha para uma integração com o milho e, a partir da lógica da agricultura energética, aumentando a oferta de bioenergia sem afetar a produção de alimentos, segundo informações da palestra apresentada pelo presidente da Datagro Consultoria e um dos maiores especialistas em agricultura Plínio Nastari, que ocorreu no Seminário Gás – O combustível da transição energética na terça-feira (19) no auditório da Casa da Indústria.
Ele defende que o biometano e o biogás podem fazem parte da rota de diversificação da cana-de-açúcar em Pernambuco. Ao produzirem açúcar e álcool, as usinas geram dois subprodutos que podem ser usados como matéria-prima para fazer o biogás e, posteriormente, o biometano: a vinhaça e a torta de filtro.
Em 2021, só a produção mundial de etanol atingiu os 105 bilhões de litros. O Brasil foi o segundo produtor e contribuiu com pouco mais de 30%. Pernambuco, de acordo com a Datagro, é o terceiro Estado da região no ranking de transição de consumo de combustíveis fósseis no transporte, são 38% de presença do etanol (biocombustível).
“O biocombustível nada mais é do que o hidrogênio capturado, armazenado e distribuído de forma eficiente com economia e segurança. Nessa perspectiva de rumo à era do hidrogênio, o etanol e o biometano podem ser entendidos como hidrogênio na forma de combustíveis práticos, fáceis, seguros, eficientes e econômicos de capturar, armazenar e distribuir”, afirmou Plinio Nastari.
Presidente do Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool (Sindaçucar) e um dos idealizadores do RenovaBio, Renato Cunha, defendeu que o Renovabio pode ser um dos instrumentos de fortalecimento do biogás e do biometano como tem sido para o etanol. “É preciso estimular o financiamento para garantir a hibridização das fontes de energia”, destacou.
Esse olhar urgente se deve ao atraso que o Brasil vive no desenvolvimento do biogás e do biometano em relação à Europa, contrariando o tamanho do seu potencial. São 18.770 plantas de biogás em 31 países europeus e 992 de biometano em 18 países naquele continente. Só na Alemanha, as 9.009 fábricas de biogás tem capacidade de geração elétrica de 4.166 MW, 51% dessa potência vem de fontes renováveis, sendo 73% da silagem do milho.
Potencial do biogás
A gerente executiva da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), Tamar Roitman, afirmou que o Brasil tem o potencial que nenhum outro país tem e que esse ativo tem sido desperdiçado pela falta de incentivo de políticas públicas, regulação e certificação do setor. “Temos biogás sendo gerado em diversos estados, mas que não está sendo transformado em energia e acabamos perdendo esse recurso. Algumas distribuidoras têm feito chamadas públicas para a compra de biometano e esse é um bom caminho, porém é preciso equilibrar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) porque alguns Estados cobram mais do biogás do que do gás natural. É valorizar o renovável porque têm empresas dispostas a pagar por esse atributo”, explicou.
Ainda de acordo com Tamar, o biometano é o caminho para interiorizar o desenvolvimento, o que deve ocorrer com a implantação de 25 fábricas do combustível, nenhuma delas no Nordeste. “Primeiro, é preciso levantar quais podem ser as fontes para a produção do biometano de acordo com a cultura local, aqui em Pernambuco temos a cana-de-açúcar, por exemplo. A partir daí é desmistificar o setor e apresentar as vantagens econômicas e ambientais”, declarou.
Um exemplo de uso do biomatando foi apresentado no seminário pelo presidente da Companhia de Gás do Ceará (Cegás), Hugo Figueirêdo. A empresa começou a injetar o biometano em sua rede em maio de 2018 – e hoje, o insumo representa quase 15% no volume de distribuição de todo o gás canalizado comercializado pela companhia cearense.
“É um dos maiores percentuais de gás renovável do mundo injetado em rede por uma distribuidora. Com isso, foi possível diversificar o portfólio de suprimentos e oferecer um produto renovável, fundamental para essa fase de transição energética”, contou Figueirêdo.