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Nordeste atrai R$ 127,8 bilhões em projetos para o edital Chamada NORDESTE

a iniciativa, lançada em maio de 2025, visa estimular projetos estruturantes no Nordeste com foco em inovação, reindustrialização e desenvolvimento sustentável.
Eliseu Lins, da Agência NE9
18 de setembro de 2025 - às 08:00
Atualizado 18 de setembro de 2025 - às 08:00
5 min de leitura

A Chamada Pública “Chamada Nordeste” da Nova Indústria Brasil (NIB), ligada ao BNDES, superou em quase 13 vezes o valor estimado inicialmente: foram submetidas propostas que somam R$ 127,8 bilhões, muito acima dos R$ 10 bilhões de crédito disponíveis. A princípio, a iniciativa, lançada em maio de 2025, visa estimular projetos estruturantes no Nordeste com foco em inovação, reindustrialização e desenvolvimento sustentável.

Setores estratégicos e distribuição dos projetos

A Chamada Nordeste recebeu 246 propostas de todos os nove estados nordestinos, repartidas entre cinco áreas estratégicas definidas no edital. Veja abaixo tabela com os números por setor:

Área estratégicaNº de projetos submetidosDemanda por crédito estimada
Hidrogênio verde32R$ 54,3 bilhões
Setor automotivo (incluindo máquinas agrícolas)40R$ 25,2 bilhões
Data Center Verde35R$ 16,9 bilhões
Transição energética (foco em armazenamento)54R$ 15,3 bilhões
Bioeconomia (foco em fármacos)44R$ 5,4 bilhões
Propostas múltiplas (abrangem mais de um tema)41R$ 10,4 bilhões
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Participação de empresas, portes e cooperação técnica

  • 88% das propostas vieram de Pequenas e Médias Empresas (PMEs).
  • 73% envolveram alguma cooperação com instituições de ciência e tecnologia (universidades, institutos de pesquisa etc.).
  • Cerca de 30% foram projetos em consórcio entre empresas.

Importância para o Nordeste: novo momento

Este volume de propostas indica vários sinais de transformação para a região:

  1. Maior maturidade e articulação institucional: a convocação envolveu diversas instituições de fomento federais (BNDES, Banco do Nordeste, Caixa, Banco do Brasil, Finep), a Sudene e o Consórcio Nordeste.
  2. Mudança na percepção de risco/investimento: o fato de os projetos se concentrarem em setores de futur o — hidrogênio verde, data centers, bioeconomia — sinaliza que o Nordeste está sendo visto como ambiente propício para inovação sustentável, e não apenas como destino de política de compensação ou bolsas.
  3. Geração de emprego, renda e desenvolvimento regional: investimento privado, crédito, subvenção e participação técnico-científica favorecem não só grandes empresas mas PMEs, cooperativas e redes produtivas locais. Isso pode impactar positivamente as cadeias produtivas, indústrias locais e impacto social.
  4. Desenvolvimento sustentável integrado: as áreas prioritárias incluem aspectos ambientais e de sustentabilidade — energia renovável, redução de carbono, eficiência, inovação — mostrando compromisso com novas trajetórias de crescimento econômico que não negligenciem o meio ambiente.

Cronograma e próximos passos

  • Inscrições encerraram em 15 de setembro de 2025.
  • Avaliação de enquadramento e mérito seguirá até 28 de novembro de 2025.
  • Formalização do Plano de Suporte Conjunto: prevista para até 15 de janeiro de 2026.
  • Início de contratação e execução dos projetos selecionados: a partir de 16 de janeiro de 2026.

Desafios e condições para que o cenário se concretize

Embora os números sejam promissores, alguns obstáculos precisam ser superados para que os benefícios sejam plenos:

  • Eficiência e agilidade na liberação de crédito: burocracia e trâmites institucionais poderão atrasar os projetos se não houver articulação clara.
  • Infraestrutura física e logística: para setores como data centers verdes, automotiva, hidrogênio verde, é preciso infraestrutura adequada — energia, transporte, conectividade, acesso à água, etc.
  • Capacitação técnica: as empresas e cooperativas devem estar preparadas para gerir inovação, pesquisa e desenvolvimento, e para cooperações com instituições científicas.
  • Sustentabilidade financeira: muitos projetos demandarão recursos não só de crédito, mas de subvenção, participação societária etc., o que requer modelos de negócio bem estruturados.
  • Equilíbrio entre estados: todos os estados do Nordeste participaram, mas será importante que os selecionados distribuam-se de forma regionalmente equilibrada para evitar concentração de benefícios.

Cenário futuro para o Nordeste

  • O Nordeste pode consolidar-se como polo de neoindustrialização no Brasil, não apenas em setores tradicionais mas nas cadeias de inovação, sustentabilidade, mobilidade limpa, bioeconomia e tecnologia de dados.
  • As propostas ligadas a hidrogênio verde, armazenamento energético, data centers indicam que os investimentos vindouros têm potencial de transformar a matriz produtiva local, agregando valor, reduzindo dependências externas e estimulando o mercado interno de tecnologia e serviços.
  • Se implementados, os projetos poderão gerar efeitos multiplicadores: novos empregos de nível técnico e superior, melhoria nas cadeias de fornecedores, crescimento de empresas de base tecnológica, fortalecimento de universidades e centros de pesquisa.
  • Políticas de apoio paralelo (educação técnica, incentivos fiscais, capacitação institucional e regional, melhoria de infraestrutura) serão críticas para garantir que o potencial mediático se converta em resultados concretos e duradouros.

A Chamada Nordeste da Nova Indústria Brasil (NIB) representa mais do que uma simples convocação de projetos: é um ponto de inflexão para o Nordeste. O fato de empresas de todos os estados enviarem propostas multimilionárias em setores de alta tecnologia e impacto ambiental mostra que a região está preparada para assumir protagonismo na nova industrialização do país.

Se as instituições envolvidas honrarem os compromissos de crédito, subvenção, cooperação técnica, e se os projetos selecionados forem executados de forma eficiente, o Nordeste tem condições de se tornar uma das maiores fronteiras de investimento e inovação do Brasil — impulsionando o crescimento econômico, reduzindo desigualdades e contribuindo para uma indústria mais sustentável e resiliente.

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Eliseu Lins

Eliseu Lins é baiano de nascimento e paraibano de coração. Jornalista formado na UFPB, tem mais de 20 anos de atuação na imprensa do Nordeste. É pós-graduado em jornalismo cultural e ocupa o cargo de editor-chefe do NE9 desde 2022.