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João Pessoa: as camadas históricas que moldaram a terceira cidade mais antiga do Brasil

João Pessoa, fundada em 5 de agosto de 1585, é frequentemente apontada como a terceira cidade mais antiga do Brasil. Ao longo de mais de quatro séculos, a capital da Paraíba acumulou um patrimônio arquitetônico ...
Eliseu Lins, da Agência NE9
5 de novembro de 2025 - às 12:16
Atualizado 5 de novembro de 2025 - às 12:16
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João Pessoa, fundada em 5 de agosto de 1585, é frequentemente apontada como a terceira cidade mais antiga do Brasil. Ao longo de mais de quatro séculos, a capital da Paraíba acumulou um patrimônio arquitetônico e cultural que mistura influências indígenas, coloniais, africanas e modernas — um mosaico que explica por que a cidade é hoje referência histórica no Nordeste.

Entenda as principais camadas históricas que ainda estão visíveis nas ruas, praças e festas pessoenses

1. Raízes indígenas e o lugar antes da cidade

Antes da chegada dos europeus, o território era ocupado por povos indígenas, entre eles os Potiguara, cujas práticas de pesca, festas e saberes sobre o litoral influenciaram desde o começo a ocupação do espaço que viria a ser João Pessoa. Essas marcas se refletem hoje em topônimos, festividades locais e na gastronomia tradicional. (contexto histórico: pesquisa local e estudos regionais).

2. Colonização portuguesa: cidade religiosa e porto comercial

Criada como Cidade Real de Nossa Senhora das Neves, a vila teve forte caráter religioso e administrativo desde o século XVI. Igrejas, conventos e largos foram erguidos pelos colonizadores portugueses, organizando o espaço urbano em torno do porto e do comércio da cana-de-açúcar e do açúcar refinado, produtos centrais da economia colonial. Muitas dessas edificações — como o Convento e Igreja de São Francisco — permanecem como símbolos do período barroco e da presença franciscana.

foto aerea de Joao Pessoa
Centro de Joao Pessoa foto divulgação

3. O período holandês e as disputas atlânticas

No século XVII, João Pessoa integrou o mapa das lutas entre portugueses e holandeses na região nordestina — fase ligada ao projeto da Nova Holanda. Esse capítulo deixou marcas nas rotas comerciais, no desenho urbano e na memória coletiva, colocando a cidade na rota das grandes disputas atlânticas da época.

4. Barroco, casarios e o Centro Histórico preservado

O conjunto arquitetônico religioso e residencial do período colonial e setecentista formou o embrião do Centro Histórico — reconhecido e preservado, com casarões, azulejos, igrejas barrocas e ancoradouros no Varadouro. Bairros como Tambiá, Varadouro e o entorno do centro comercial conservam fachadas, o Hotel Globo e prédios que contam a história urbana dos séculos XIX e XX. O status de patrimônio arquitetônico fortalece o turismo cultural e as ações de restauração.

A presença de povos africanos trazida pelo tráfico transatlântico deixou legado vivo na música, na culinária, nas festas e nas tradições religiosas afro-brasileiras. Ritmos, manifestações populares e saberes comunitários — como a produção artesanal e as festas juninas adaptadas ao clima e ao gosto local — são parte do tecido cultural que torna João Pessoa singular no mapa nordestino. (ver estudos de cultura regional e antropologia).

6. Modernismo e o traço contemporâneo: Niemeyer e o litoral litorâneo

O século XX e o início do XXI trouxeram a João Pessoa obras de vulto moderno, notadamente a Estação Cabo Branco – Ciência, Cultura e Artes, projetada por Oscar Niemeyer. Essa obra simboliza a integração entre conservação histórica e inovação arquitetônica, sinalizando a vocação da cidade para unir turismo de sol e mar com oferta cultural e científica. A capital também viu erguer-se equipamentos públicos e espaços culturais que dialogam com seu passado colonial.

7. Preservação, turismo e economia criativa

Hoje, João Pessoa equilibra proteção do patrimônio (centro histórico tombado), promoção cultural (museus, festivais e centros culturais) e desenvolvimento turístico — valorizando rotas como o Pôr do Sol no Jacaré, as praias do litoral sul (Tambaú, Cabo Branco) e circuitos históricos. A cidade aposta na economia criativa: roteiros gastronômicos, festivais de música e projetos de turismo cultural que potencializam os bens históricos como ativos econômicos.

Por que isso importa para o visitante e para a cidade

  • Para o turista: João Pessoa oferece um roteiro que vai do barroco sacro ao modernismo, com praias reconhecidas e centros históricos caminháveis.
  • Para a cidade: A preservação e a promoção do patrimônio fortalecem a identidade local, atraem investimentos turísticos e fomentam empregos ligados à cultura e serviços.
  • Para pesquisadores e gestores públicos: o desafio é conciliar conservação com acessibilidade, infraestrutura e sustentabilidade.

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Eliseu Lins

Eliseu Lins é baiano de nascimento e paraibano de coração. Jornalista formado na UFPB, tem mais de 20 anos de atuação na imprensa do Nordeste. É pós-graduado em jornalismo cultural e ocupa o cargo de editor-chefe do NE9 desde 2022.