Os babados, rendas, adereços e calçados dos quadrilheiros chamam a atenção do público e colorem os arraiás de Sergipe durante os festejos juninos. Por trás de cada peça, há o trabalho incansável de figurinistas e da equipe de costura, que materializa em peças de roupa o conceito artístico e a narrativa contada pela quadrilha. Além de toda beleza dos trajes juninos, toda uma cadeia que envolve estilistas, figurinistas, costureiros e lojas do segmento de tecidos e armarinhos vê, e sente, durante esse período, uma oportunidade de alavancar os lucros proporcionados por quem tem na costura de roupas estilizadas típicas dessa época sua profissão.
Quem vê as roupas dos quadrilheiros cheias de cores, beleza e simbolismos culturais talvez não tenha ideia do esforço que demanda produzi-las, o que exige meses de trabalho, bem antes do público pensar em São João. O costureiro Wanderson Aurélio, 32 anos, trabalha desde 2023 com os festejos. Este ano ele é o responsável pelos figurinos da quadrilha junina Assum Preto, de Aracaju. O profissional lembra que a preparação começou com o desenho dos trajes ainda em janeiro, e a busca pelos materiais iniciou em fevereiro. Ao comentar o assunto, ele brinca: “No fim de abril, pegamos todos os materiais e começamos a trabalhar mesmo. Enquanto todo mundo está pulando Carnaval, a gente está pensando no São João”, conta, rindo.
Já o costureiro e estilista Alécio Carvalho, 28 anos, deu início aos trabalhos com antecedência ainda maior. Responsável pelas vestimentas da quadrilha Massacará, em Carmópolis, no leste sergipano, tem participado do desenvolvimento dos figurinos desde novembro do ano passado. Alécio pontua que, por também ser estilista, participa diretamente das reuniões de discussão sobre o tema a ser trabalhado pela equipe: “Preciso da temática muito antes para fazer o desenvolvimento dos croquis, passar um orçamento e começar a confeccionar”, detalha.
É um trabalho que, na visão de Alécio, resume-se como “um processo duro com dias sem dormir, mas que no final é muito gratificante ao ver o resultado”. Não se tratam apenas de simples roupas: as vestimentas juninas seguem todo um conceito para ficarem prontas: elas devem ornar com o tema, a história da quadrilha, e até mesmo a coreografia, que precisa combinar com as vestes.
Onde o público enxerga beleza, as quadrilhas também enxergam competição, e o figurino é um dos critérios de julgamento, por isso a responsabilidade de quem está na produção é dobrada. Nesse sentido, Wanderson carrega uma demanda ainda maior, pois, além de costureiro, também estará dançando na Assum Preto em 2024. “Quando entra a parte competitiva, a gente doa o nosso melhor, mesmo não estando 100% naquele dia. Seja no figurino, na coreografia ou na música”, reforça.
Tudo isso, obviamente, demanda investimentos consideráveis. Por se tratar de uma competição, e envolver quadrilhas que em geral possuem muitos componentes atuantes, os custos são altos. “Somente na questão do figurino, trabalhamos com uma base de R$ 80 a 90 mil, por conta do material em tecido, aviamentos e costura. Isso só a indumentária, além do cenário, luz, fotos e trio”, frisa Alécio.
Comércio aquecido
Pensando nessa demanda, as lojas que trabalham com confecções apostam bastante no mês de junho como uma oportunidade de faturamento. Victoria Alles, 27 anos, é administradora de um armarinho no Centro de Aracaju, e conta que o investimento neste ano foi na casa dos R$ 100 mil. “Estamos no Nordeste, e o São João é a nossa essência. Entre todos os momentos sazonais, ele é o que reúne a nossa espiritualidade. Vamos ter uma grande programação de festas, e nós investimos muito mais”, pontua.
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Os festejos pelo estado nos próximos dois meses impulsionam ainda mais o comércio. É o caso do Arraiá do Povo. Victoria vê com empolgação a aproximação das comemorações, e não esconde a felicidade: “As pessoas já chegam aqui na expectativa, comentando que serão 30 dias de festas e que precisam se preparar. Tudo isso favorece o comércio inteiro em vários segmentos. Estamos preparados e felizes com esses dias de festas”, enfatiza.
País do forró
Durante 60 dias, o clima junino tomará conta do estado, fortalecendo o turismo, a cultura popular e aquecendo a economia em vários setores envolvidos na realização dos eventos. A programação do Arraiá do Povo e Vila do Forró é uma realização do Governo de Sergipe, por meio da Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Funcap), Secretaria Especial da Comunicação (Secom), Secretaria de Estado do Turismo (Setur) e Banese, com apoio da Energisa, Netiz e Shopping Jardins, e patrocínio da Eneva, Pisolar, Deso, Maratá, GBarbosa e Serviço Social do Comércio (Sesc).