Visitar a exposição “Roxinha Lisboa – Meu Brasil Interior”, na CAIXA Cultural Recife, é mergulhar em um universo de cores, memórias e sentimentos que traduzem o Brasil mais profundo — o das festas de rua, da fé, da seca e da esperança. A mostra, dedicada à artista popular Maria José Lisboa da Cruz, a querida Roxinha, é mais do que uma exposição: é uma lição de vida, um encontro com a alma do Nordeste e com a força de uma mulher que transformou simplicidade em arte.
Logo na entrada, as paredes vibram com tons vivos e histórias que parecem conversar com o visitante. Roxinha, nascida em União dos Palmares (AL), é autodidata e construiu sua trajetória retratando o cotidiano do sertão, as festas religiosas, o trabalho, o amor e a fé do povo nordestino.
Suas obras, reconhecidas nacionalmente como um dos grandes expoentes da arte naïf brasileira, carregam uma beleza rara: a de ensinar sem pretensão e emocionar sem artifícios. São telas que mostram que a arte pode nascer de um olhar puro e de um coração que enxerga poesia no que é simples.
Uma história que inspira
Nascida em 1956, no povoado de Lagoa de Pedra, em Pão de Açúcar (AL), Maria José Lisboa da Cruz recebeu o apelido de Roxinha por causa do tom de sua pele. A vida da artista sempre foi marcada pelo trabalho duro: na juventude, cultivava macaxeira, feijão e milho, quebrou brita em pedreira e foi gari por quase 20 anos.
Foi apenas aos 59 anos que suas mãos descobriram o talento que mudaria sua vida. Mãe de sete filhos, com alguns morando em outros estados, Roxinha começou a pintar para ocupar o tempo e amenizar a saudade da filha que havia se mudado para São Paulo e deixado para trás um caderno de desenhos.
O papel logo se mostrou pequeno para tanta criatividade. Roxinha passou então a pintar nas paredes da casa, em ripas de madeira, telhas e pedaços de isopor — tudo o que estivesse ao alcance. Desse impulso espontâneo nasceu uma arte autêntica, de traços simples e narrativas cheias de emoção e humanidade.
Um olhar sobre o Brasil profundo
A mostra reúne mais de 80 obras que retratam o “Brasil interior” de Roxinha — o das novenas, dos casamentos no terreiro, das novilhas no curral, das procissões e da vida nas pequenas cidades. Cada quadro é um convite a lembrar, sentir e reconhecer o valor da cultura popular.
Dividida em três seções, a exposição leva o visitante por um verdadeiro percurso afetivo:
- Casa Ateliê de Roxinha – Vida no Interior: uma imersão no cotidiano da artista, onde suas paredes e objetos se transformam em extensão de suas telas. É como se cada cor e pincelada ainda carregasse o cheiro do café coado e o som da conversa no alpendre.
- Novelas da Vida – A Arte e a TV no Imaginário Brasileiro: um olhar afetuoso sobre como as telenovelas e personagens televisivos se misturam à memória coletiva do sertão, ganhando nova vida pelas mãos da artista.
- Cartas para Roxinha – Uma Conversa com a Arte: um espaço interativo em que os visitantes podem escrever cartas ou desenhar, enviando mensagens diretamente para a artista, em uma troca simbólica e emocionante.
Roxinha: arte, resistência e inspiração
Ao percorrer o salão, é impossível não se emocionar com a trajetória de Roxinha. Vinda de uma realidade simples, ela aprendeu sozinha a pintar e transformou sua vivência em expressão artística. Sua obra prova que a falta de acesso à educação formal nunca foi obstáculo para o talento, mas sim combustível para uma linguagem única e autêntica.
Portanto, hoje, suas criações estão entre as mais respeitadas do país, valorizadas por críticos e amantes da arte popular. Suas telas estão em acervos públicos e coleções particulares, e agora viajam o Brasil com esta exposição itinerante, que passará por Brasília, Curitiba, Fortaleza, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo — um dos maiores projetos de difusão da arte popular já promovidos pela CAIXA Cultural.
Serviço
Exposição: Roxinha Lisboa – Meu Brasil Interior
📅 Programação: até 24 de novembro,
📍 Local: CAIXA Cultural Recife
🎟️ Entrada gratuita
🖼️ Obras: mais de 80 pinturas
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