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Conheça a engenheira que criou uma ONG para reformar casas de famílias pobres no RN

Ao longo da maior parte da infância, Fernanda e os cinco irmãos não tinham uma referência de lar, apesar de viverem com os pais em uma casa no bairro do Alecrim, na zona leste de Natal. A casa na qual moravam era de taipa (uma espécie de gradeamento feito com cipós ou pedaços de madeira reaproveitada, preenchido com barro amassado) e tijolo branco, construção comum nas regiões mais pobres do Nordeste. A cada dia de chuva, uma aflição. Os buracos no telhado faziam chover dentro de casa.

Por muitos anos, Fernanda escondeu o endereço dos amigos da escola. Sentia vergonha e se entristecia com frequência. Somente após um dos tios questionar o motivo da tristeza, e realizar uma reforma na casa, a vida de Fernanda Silmara Silva dos Santos, hoje com 25 anos, mudou. Inspirada no tio, ela passou a fazer reformas gratuitas em casas de famílias com histórias similares às dela e, desde 2018, já reformou 15 lares, melhorou a vida de dezenas de pessoas e inspirou tantas outras.

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Filha de um padeiro e uma empregada doméstica, Fernanda é a única com formação superior: tecnóloga em construção de edifícios e engenheira civil. “Comecei a pensar em reformar casas quando ainda fazia o curso de Construção de Edifícios. Conversei com alguns amigos, nos juntamos e reformamos a primeira casa em 2018. Foi difícil, pois as pessoas não acreditavam que faríamos o serviço de graça e a maioria sequer abria a porta da casa para ouvir nossa proposta”, afirma. O serviço custou aproximadamente R$ 1 mil e o custo foi dividido entre os cinco fundadores do que é hoje a ONG ReforAmar (@reforamar_). O primeiro passo havia sido dado e a ideia começou a crescer, agregando mais doadores e voluntários.

Uma das primeiras famílias contempladas foi a da autônoma Bruna Pereira, de 31 anos. Há pouco mais de três anos, quando a vida dela parecia ter virado de ponta-cabeça em virtude do adoecimento da mãe, que tinha sofrido um AVC, e da necessidade de sair do emprego para cuidar dela, a visita inesperada dos voluntários da ONG foi uma grata surpresa. “Fizeram a reforma da frente toda e pintaram até a sala. Eu não esperava, pois estava em um momento muito difícil. Eles me deram esperança, esperança em um mundo melhor quando eu não tinha como comprar um saco de cal para pintar uma parede.”

Hoje, com 15 lares reformados, a ONG ReforAmar conta com 300 voluntários, entre pessoal de apoio administrativo, financeiro, assessoria de comunicação, pedreiros, eletricistas, serventes de obras, encanadores, gesseiros, marceneiros, engenheiros e arquitetos. “A gratidão das famílias ao fim de cada reforma é o que motiva”, relata Fernanda. Os desafios, porém, são muitos. Nem todas as obras possuem um custo baixo e, somente em 2021, a inflação da construção civil fechou em 18,65%. A maior taxa em nove anos. Como a ONG ReforAmar depende de doações, os projetos para este ano ainda estão em análise. A expectativa é de que cinco imóveis sejam reformados, com tempo médio de obra estimado em dois meses.

VAQUINHA

“Nossa primeira reforma foi simples. Mas saímos da pintura, do reboco, para a demolição quase total de um imóvel e a reforma de três casas ao mesmo tempo em um dos projetos que fizemos ano passado. Essas casas estavam com rachaduras, com buracos no telhado e com os banheiros que não tínhamos como aproveitar nada”, afirma a engenheira civil. Essas reformas só foram viabilizadas pelo financiamento coletivo feito por meio de uma vaquinha virtual e da doação de material de construção por empresas do ramo que atuam no Rio Grande do Norte.

A velha casa de taipa com buracos no telhado ficou para trás. Hoje, ela carrega consigo o desejo de mudar mais moradias e vidas. “Tudo o que aconteceu comigo no passado me trouxe até aqui. É minha missão, meu propósito. Sou filha de um padeiro e de uma doméstica que sequer tinha expectativa de concluir uma faculdade. A educação e a sensação de ter um lar mudaram minha vida. E eu quero mudar a vida de outras pessoas.”

É possível colaborar e também indicar instituições
O trabalho da ONG ReforAmar, fundada pela engenheira civil Fernanda Silmara dos Santos Silva quando ela tinha 22 anos, hoje inspira outras pessoas ao redor do Brasil. A ONG surgiu da união de amigos em prol do bem-estar dos mais carentes, com reforma de casas e instituições da sociedade civil em situação de vulnerabilidade social. Hoje, os lares escolhidos para serem reformados passam por uma seleção que envolve engenheiros, arquitetos, entre outros profissionais, por meio de indicações no site da instituição. Para saber mais, se tornar um voluntário, indicar um lar ou instituição, acesse: https://reforamar.org.br/.

Fonte: Do Estadão

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