Uma notícia que enche de orgulho a cultura brasileira: o Conjunto Arquitetônico Engenho Corredor, que fica no município de Pilar, na Paraíba, acaba de ter tombamento como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A decisão histórica ocorreu por unanimidade na 110ª Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, na última terça-feira (16), em Brasília.
Mais do que um conjunto de edificações, o Engenho Corredor é a casa onde nasceu um dos maiores nomes da literatura brasileira, José Lins do Rego. O tombamento consagra não apenas a importância arquitetônica do local, mas também sua inestimável carga histórica, social e literária.
Um Resgate da Memória Nordestina
O tombamento vai além das paredes de taipa e dos tijolos. Ele abrange todo um contexto que conta a história de uma era. O conjunto tem quatro edificações principais:
- Casa Sede: Onde o escritor José Lins do Rego nasceu.
- Casa de Purgar: Local onde o açúcar era processado e purificado.
- Casa de Engenho: O coração da produção, infelizmente atualmente em ruínas.
- Senzala: Um marco doloroso, porém fundamental, da nossa história. Também foi restaurada.
Além disso, a área de entorno, incluindo parte da várzea do rio Paraíba, também foi protegida. Essa decisão é crucial, pois conecta o engenho aos modos de transporte que foram sua veia vital: o fluvial (rio) e o ferroviário (trem), criando um panorama completo do funcionamento econômico e social da época.
A apresentação do Iphan durante a reunião detalhou a área tombada, mostrando a abrangência e a importância de preservar toda essa paisagem cultural.

Tabela: Engenho Corredor em Dados
Item | Descrição |
---|---|
Localização | Pilar, Paraíba, Brasil |
Data do Tombamento | 16 de Abril de 2024 |
Órgão Responsável | Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) |
Decisão | Unânime pelo Conselho Consultivo |
Edificações Principais | Casa Sede, Casa de Purgar, Casa de Engenho (em ruínas), Senzala |
Área Protegida | Conjunto arquitetônico e parte da várzea do rio Paraíba |
Livros de Tombo | Livro do Tombo Histórico e Livro do Tombo de Belas Artes |
Significado Cultural | Memória do ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste e local de nascimento de José Lins do Rego |
Funcionamento Atual | Museu, com visitas guiadas |
Por Que Esse Tombamento é Tão Importante?
Construído no século XIX, o Engenho Corredor foi um ativo ponto de produção e extração de açúcar, sendo um testemunho material do ciclo da cana-de-açúcar que moldou a economia e a sociedade nordestina. Sua relevância, porém, vai além dos aspectos econômicos.
Foi dentro da casa sede que, em 1901, nasceu José Lins do Rego. O autor se tornaria a voz literária daquela realidade, transformando as vivências, os cheiros, os sabores e as dores do engenho em obras-primas da literatura regionalista, como “Menino de Engenho” (o primeiro livro do chamado “Ciclo da Cana-de-Açúcar”) e “Fogo Morto”, considerado por muitos sua obra-prima.
Hoje, o local funciona como um museu, oferecendo visitas guiadas que permitem ao público mergulhar nessa narrativa powerfulosa. O tombamento garante que essa memória – tanto a literária quanto a histórica e social – tenha preservação para as futuras gerações. Dessa forma, protegendo-a do esquecimento e da degradação.
José Lins do Rego: O Menino do Engenho que Conquistou o Brasil
Nascido no próprio Engenho Corredor, José Lins do Rego Cavalcanti (1901-1957) foi um romancista, jornalista e cronista essencial para entender o Brasil. Sua obra, de forte caráter memorialista e social, expôs as estruturas, os conflitos e a decadência dos engenhos de açúcar nordestinos, retratando com maestria a vida dos coronéis, dos trabalhadores e dos escravizados.
O tombamento de sua casa natal é uma homenagem justa ao seu legado. É a materialização do universo que ele tão brilliantemente imortalizou em palavras, garantindo que o “menino de engenho” continue vivo na cultura nacional.
Conhecer o Engenho Corredor é, portanto, fazer uma viagem no tempo. É pisar no mesmo chão que inspirou algumas das páginas mais vívidas e importantes da nossa literatura e reconhecer as raízes de uma parte fundamental da identidade brasileira.
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