Nas celebrações religiosas do Nordeste brasileiro, um som forte e inconfundível toma conta do ambiente: o estrondo dos bacamartes. Disparados ao céu em rituais carregados de fé, respeito e simbolismo, os bacamarteiros mantêm viva uma das manifestações culturais mais tradicionais da região. Com roupas típicas, fardamentos militares e espingardas artesanais — os bacamartes — eles misturam religiosidade, memória e identidade.
Origens históricas dos bacamarteiros
A tradição dos bacamarteiros tem raízes profundas na história do Brasil. Originária das tropas portuguesas dos séculos XVII e XVIII, a prática foi incorporada pelas comunidades nordestinas como uma forma de devoção popular e exibição cultural.
Durante a colonização, os bacamartes — espingardas de cano curto e largo — eram usados como armas de defesa. Com o tempo, seu uso foi ressignificado: passou a representar força espiritual e proteção simbólica durante festas religiosas, principalmente em homenagem a santos como São João, Santo Antônio e São Pedro.
Onde a tradição é mais forte no Nordeste
Embora a cultura dos bacamarteiros esteja presente em diversos estados nordestinos, ela encontra suas expressões mais intensas e organizadas nos seguintes locais:
Estado | Cidades de destaque | Observações |
Pernambuco | Caruaru, Bezerros, Cabo de Santo Agostinho | Caruaru abriga a maior quantidade de grupos e é referência nacional |
Paraíba | Campina Grande, Ingá | Presentes em eventos religiosos e no São João tradicional |
Alagoas | Marechal Deodoro, Pilar | Grupos se apresentam em datas religiosas e festas culturais |
Rio Grande do Norte | Natal, Ceará-Mirim | Manifestações menores, mas com forte valor simbólico |
Caruaru (PE), considerada a capital do forró e das festas juninas, é também o epicentro da tradição bacamarteira, abrigando diversas irmandades e grupos de bacamarteiros, como o famoso Batalhão 87.

Fé e tradição: a força das Irmandades
A princípio, mais do que simples apresentações, os bacamarteiros são parte de irmandades ou batalhões, grupos organizados que mantêm a tradição viva com hierarquia, fardamento e rituais próprios. Muitos desses grupos seguem ritos religiosos, como novenas e missas, e fazem parte das procissões juninas. O barulho do bacamarte não é visto como violência, mas como um gesto de devoção.
As indumentárias, muitas vezes inspiradas em uniformes militares do Império ou da Guarda Nacional, representam honra e respeito à cultura e aos antepassados. Assim, os bacamarteiros costumam portar seus trajes com orgulho, muitas vezes feitos artesanalmente por alfaiates locais.
Como funcionam os bacamartes?
Os bacamartes utilizados nas apresentações são armas adaptadas artesanalmente. Utilizam pólvora sem projéteis — apenas para produzir o som do disparo. Os cuidados com a segurança são rigorosos e os rituais de preparação envolvem limpeza, armazenamento seguro da pólvora e ensaios coordenados.
Durante as festas, os disparos seguem coreografias que muitas vezes formam duelos simbólicos, fileiras sincronizadas ou “caminhadas de fogo” que tomam as ruas, marcando as passagens dos santos padroeiros ou momentos específicos das festas religiosas.
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Patrimônio e resistência cultural
Diversos municípios já reconheceram os bacamarteiros como patrimônio cultural imaterial, e há iniciativas para garantir ainda mais proteção e apoio à prática. Além disso, em Caruaru, por exemplo, o ofício dos bacamarteiros já é protegido por lei municipal.
A tradição também é passada de geração em geração, com pais ensinando os filhos a manusear os bacamartes, a confeccionar as roupas e a respeitar os ritos da tradição. Dessa maneira, para muitos, ser bacamarteiro é mais do que uma escolha: é um legado.

Cultura que resiste
Portanto, em tempos de globalização e transformações sociais, os bacamarteiros do Nordeste mantêm viva uma das expressões mais autênticas da cultura popular brasileira. Afinal com fé, disciplina e paixão, seguem rompendo o silêncio das ruas com o som que ecoa história e identidade.
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