Em Salvador, exatamente no ano de 1958, nascia o mais emblemático trio de forró da música brasileira. Formado, à época, pelos músicos baianos Lindú (voz e sanfona), Coroné (zabumba) e Cobrinha (triângulo), o Trio Nordestino completa 64 anos em 2022.
Mais de seis décadas depois, o trio segue firme, atuante, mas agora com novos componentes: Luiz Mário (triângulo e voz), Jonas Santana (zabumba e vocal) e Tom Silva (sanfona e vocal). Além disso, acaba de ser homenageado com o podcast (vídeo) Trio Nordestino – Do Pelourinho Para o Mundo, já disponível no canal do grupo no YouTube.
Com um time de convidados composto pelos três músicos da formação mais recente, além do ex-zabumbeiro e atual empresário do grupo, Carlos Santana (mais conhecido como Coroneto), e do sanfoneiro Beto Sousa, que integrou o trio por 25 anos, o programa é resultado de um projeto idealizado pelo produtor cultural carioca Raphael Rabello, mediador do encontro.
“A ideia é homenagear o trio, dar às pessoas que gostam do trabalho dele a chance de saber um pouco mais das histórias de bastidores. É também contribuir um pouco com o acervo audiovisual de material sobre a história da música regional porque a história do Trio Nordestino se confunde com a própria história do forró”, orgulha-se Rabello.
O papo entre eles rendeu tanto que os 90 minutos de gravação se transformaram em mais de duas horas de conversa e, assim, entre tantos causos curiosos, o empresário Coroneto, por exemplo, pôde relembrar histórias do falecido avô Coroné, um dos fundadores do grupo original no final dos anos 1950.
Para o zabumbeiro Jonas, participar do podcast foi um grande motivo de orgulho. “Nele, contamos alguns acontecimentos passados nesses 64 anos de história, de conquistas, de perdas de integrantes, de novas formações e tantas viagens pelo Brasil e exterior”.
Mais valorização
E mesmo o forró tendo sido declarado Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil desde o ano passado, tanto Luiz Mário quanto Jonas Santana acreditam que o mais famoso ritmo nordestino ainda não é devidamente valorizado dentro da música brasileira.
“Infelizmente, temos pouco espaço nas grandes mídias, quase não se vê músicas de forró tradicional entre as ouvidas ou acessadas, e é difícil conseguir apoios e patrocínios para novos projetos. Mas vamos resistindo e mostrando que o forró é música brasileira de raiz e merece muito respeito”, comenta Luiz Mário.
Jonas concorda e diz ainda que, pela qualidade musical do forró, ele deveria ser mais visto e apreciado. “O forró é rico de ritmos, cultura e linguagem. Precisa de mais reconhecimento, valorização e menos preconceito”.
E além da notória relevância do forró, sobretudo para o Nordeste, segundo Rabello, é fundamental frisar também a importância do Trio Nordestino para a música regional e, por tabela, a brasileira.
“Eles são grandes representantes do forró, assim como Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Zé Ramalho e tantos outros. O Trio Nordestino está junto dessa turma”, lembra o mediador.
Com mais de seis décadas de estrada, os ‘garotos’ não se acomodaram e seguem com novos projetos na manga. Estão planejando um show com músicas do CD feito em homenagem a Gilberto Gil – um trabalho lançado nas plataformas digitais em 2020 – que deve virar turnê. Além, é claro, dos preparativos para os festejos juninos.
Passagem do tempo
O Trio Nordestino começou fazendo o circuito de casas noturnas de Salvador. Tempos depois, com o sucesso das canções Carta a Maceió e Chupando gelo, presentes no primeiro disco, o grupo passou a gravar um LP por ano, lançando vários sucessos.
Em 1970, saiu o disco com a música Procurando tu (Antônio Barros), que se transformou no maior sucesso do grupo, alavancando mais de um milhão de cópias vendidas e levando-os das paradas sertanejas para as rádios dos mais diversos segmentos do país.
O sucesso nacional acabou colocando o trio no primeiro lugar das paradas musicais, do programa de TV de Silvio Santos, durante 90 dias, e a receber o Troféu Chico Viola pelo segundo lugar na vendagem de discos de 1970, só perdendo para o Rei Roberto Carlos.
Com mais de 40 álbuns gravados, e levados pela nova onda do forró que, em 2000, voltou a ser sucesso entre os jovens e tocar nas rádios, os integrantes ganharam os holofotes e foram quatro vezes à Europa, onde fizeram shows em Paris e Londres. E em 2017, o álbum Trio Nordestino Canta o Nordeste foi indicado a Melhor Álbum de Raízes Brasileiras no Grammy Latino.
Trio Nordestino – Do Pelourinho Para o Mundo foi contemplado pelo Prêmio Riachão, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, através da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.
FONTE: Do A Tarde