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Poeta paraibano lança tradução da literatura russa em formato de cordel

Foi visitando um sebo de livros raros, que Astier Basílio teve a inspiração para seu novo projeto. “Vi a primeira edição de várias obras de poetas como Iessiênin, Akhmátova, Pasternak e, do ponto de vista editorial, era muito parecido com os folhetos dos cordelistas nordestinos”. Trabalhando há três anos traduzindo e estudando a obra do poeta russo Óssip Mandelstam (1891-1938), Astier Basílio decidiu compartilhar este processo editando, em forma de cordel, os poemas de temática política, o que resultou no folheto: “Sal no machado”(edições Samizdat, Campina Grande, 40 pgs).

O lançamento será nesta quinta (dia 25), a partir das 17:30,no evento Por do Sol Literário, na sede da Academia Paraibana de Letras.

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Todos os poemas são comentados. Além de aspectos da escolha da tradução, Astier contextualiza histórica e politicamente os poemas. “Mandelstam é um poeta, ao mesmo tempo, muito metafórico, e de certa forma difícil, mas que escreveu tendo como fonte de inspiração os episódios de sua própria vida”. É o caso do poema que dá título ao cordel, “Sal no machado”, escrito em 1921, sob o impacto da perda do amigo e mestre, Nikolai Gumiliov, assassinado a mando do regime acusado de conspirar contra os bolcheviques.

Os poemas traduzidos são: “À noite no quintal, um rosto foi lavado”, “Tempo”, “Leningrado”, “Na cozinha nós dois e lá se sente”, “Tíbia e sem pão, Crimeia. Primavera fria…”, “Lar sem alarido, igual a papel”, “Nós vivemos sem estar mais sentindo o país…”, “Se os inimigos nossos me pegarem”. Alguns destes poemas foram publicados em revistas e suplementos como Estado da Arte, do jornal Estado de São Paulo, jornal Rascunho, do Paraná e na revista de pós-graduação da Mackenzie.

Sobre a ligação entre a poesia russa e a poesia popular nordestina, Astier avalia que há muitas ligações. “Primeiramente, são duas tradições poéticas extremamente musicais que trabalham, de modo criativo, o repertório de formas fixas. A oralidade também é algo em comum. Óssip Mandelstam, por exemplo, não escrevia os seus poemas: compunha-os de cabeça e depois os textos eram escritos por sua mulher Nadejda. Algo que o aproxima de Augusto dos Anjos, que também costumava compor desta forma. Não à toa a poesia de ambos tem esse beleza rítmica e musical”.

Sobre o poeta

Nascido na capital da Polônia, Varsóvia, Mandelstam veio para a Rússia quando tinha três anos de idade. Filho de uma abastada família de comerciantes judeus, Mandelstam estudou por dois anos em uma das mais importantes instituições de ensino do mundo, a Universidade Sorbonne, em Paris. De volta a São Petersburgo, onde morava, não chegou a concluir seus estudos. Sua vida caiu em desgraça quando escreveu o poema que ficou conhecido como “Epigrama de Stalin”, vindo a ser preso, em 1934, por atividades anti soviéticas, degredado no sul da Rússia, na cidade de Voronej. Preso uma segunda em 1938, vindo a falecer no campo de trabalhos forçados, em Vladivostok.

Nos anos 1960, graças à publicação no ocidente dos livros de memória de sua viúva Nadejda Yakovleva, a história e o legado de Mandelstam passaram a ser conhecidos em todo o mundo. No Brasil, Mandelstam integra a antologia “Poesia russa moderna”, editada e traduzida pelos irmãos Campos e Boris Schnaiderman.

Sobre o tradutor

Astier Basílio é mestre em literatura russa pelo Instituto Estatal Pushkin, de Moscou e atualmente é doutorando em literatura russa pelo Instituto de Literatura Maksim Górki, também na capital russa, onde mora.

É autor de 15 livros, entre coletâneas de poemas, contos, peça de teatro e folhetos de cordel. Venceu os prêmios Novos Autores Paraibanos, em 2000, na categoria poesia, com o livro “Funerais da Fala”; o prêmio Nacional Correio das Artes, em 2010, na categoria poesia, com o livro “Finais em extinção”; o prêmio Nacional de Dramaturgia, pela Funarte, com a peça “Maquinista”, em 2014. Foi finalista do prêmio Sesc de Literatura, em 2017, com o seu romance “Supermercado Brasil Novo”.

Escreveu o folheto de cordel “A chegada de Jon Snow no inferno”, em 2017. Compôs, em parceria com Braulio Tavares, “A Peleja de Braulio Tavares, o Raio da Silibrina, com Astier Basílio, o Arquipoeta das Borboremas”, em 2003 e em parceria com o poeta Glauco Mattoso, em 2004, escreveu “Peleja de Astier Basílio com Glauco Mattoso”.

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