Natal consegue antecipar, em até uma semana, ações de controle, combate e prevenção de arboviroses. Isso é possível graças ao desenvolvimento de tecnologias de vigilância entomológica, epidemiológica e estratificação de risco. O monitoramento feito de forma ativa e sistemática tem garantido à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) condições para detectar a ocorrência de surtos, controlar epidemias em curso, promover ações para controle vetorial com baixo custo operacional e monitorar a transmissão de doenças pelo Aedes aegypti, como dengue, zika e chikungunya.
Pioneiro no Brasil, o sistema de ovitrampa foi desenvolvido em uma parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde de Natal e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Trata-se de um depósito escuro com uma palheta de fibra de madeira e a armadilha é altamente específica para a espécie do mosquito, atraindo as fêmeas do Aedes aegypti para depositarem os ovos naquele depósito. Com esse sistema, é possível estimar a quantidade de insetos em uma área.
Após uma semana os agentes de endemias do Centro de Controle de Zoonoses recolhem essas palhetas de fibra de madeira, nas quais os ovos ficam presos, para análise de contagem dos ovos. Em média, cada fêmea pode ter de quatro a seis posturas de ovos, cada uma delas com uma média de 200 embriões.
Rede de monitoramento
Esse modelo de vigilância, chamado de entomológica, conta com uma rede de monitoramento com 630 ovitrampas, distribuídas nas quatro regiões de Natal, em pontos fixos, a cada 300 metros.
Márcia Cristina, chefe do núcleo de entomologia do CCZ, conta que o quantitativo de ovos na palheta é variável, mas consegue predizer o número de fêmeas presente em uma determinada área. Além disso, a evolução da metodologia, que vem sendo utilizada desde 2015, possibilitou uma importante descoberta: a da transmissão vertical dos arbovírus.
“Estudos preliminares apontavam para o entendimento que a fêmea do Aedes, em sua idade de maturidade, só se contaminaria se ela se alimentasse de alguém infectado com algum dos arbovírus. Hoje, já sabemos que há a transmissão vertical”.
De acordo com Márcia, o ovo do mosquito já nasce infectado. Se nascer fêmea, quando se transformar num mosquito alado já está apta a transmitir a arbovirose. E se for macho, haverá contaminação quando ele copular com alguma fêmea. “A natureza está sempre nessa evolução e na busca pela sobrevivência da espécie”, concluiu.
A chefe do departamento de vigilância em saúde da SMS, Vaneska de Brito, explica como esse novo entendimento permitiu a estruturação das ações de combate e prevenção. “Agora, sabendo disso, conseguimos ter um modelo preditivo de execução, porque eu consigo ver o crescimento vetorial. Se eu tenho uma maior quantidade de vetor eu tenho maior possibilidade de adoecimento. E se esse ovo já vai nascer positivado para a arbovirose, então, na primeira situação já vão ter pessoas doentes”.
Vaneska complementa dizendo que o adensamento vetorial já não é mais decisivo para que aconteça um surto. “Se eu tiver o conjunto completo: o mosquito, o vírus e a pessoa suscetível, pode acontecer uma infestação, um surto ou uma epidemia. Isso traz gravidade à situação e mostra a necessidade de ações mais efetivas dentro dos territórios e, claro, uma maior responsabilidade da população”.
Ações
As ações de intervenção para controle vetorial têm como principal atividade as visitas realizadas pelos agentes de combate às endemias nos imóveis da cidade, e é por meio dessa atividade que o CCZ promove ações de orientações à população quanto às medidas de prevenção das doenças. Além disso, os agentes são responsáveis pela aplicação de larvicidas, para a eliminação dos criadouros potenciais de Aedes aegypti. A ação acontece quinzenalmente. Um total de 420 servidores estão envolvidos nessas ações de controle e combate, distribuídos entre o trabalho de campo, laboratorial e de análise de dados.
A diretora do CCZ , Amanda Morais, diz que o trabalho realizado hoje no município é um diferencial no Brasil e no mundo. “As análises entomológicas saem junto com as epidemiológicas. Toda essa estrutura nos permite conseguir estar dentro do período do ciclo do vetor, que é de uma semana, como também possibilita o acompanhamento de casos humanos de adoecimento – que é por semana epidemiológica”.