Início » Cotidiano » Pesquisa no Nordeste mostra efeitos da chikungunya em crianças e adolescentes

Cotidiano

Pesquisa no Nordeste mostra efeitos da chikungunya em crianças e adolescentes

Quando pensamos em chikungunya, logo imaginamos adultos sofrendo com dores articulares debilitantes. Mas e as nossas crianças? Como essa doença, transmitida pelo mesmo mosquito da dengue, afeta os mais jovens? Uma pesquisa inédita da Fiocruz, ...
Redação, da Agência NE9
30 de setembro de 2025 - às 11:20
Atualizado 30 de setembro de 2025 - às 11:20
4 min de leitura

Quando pensamos em chikungunya, logo imaginamos adultos sofrendo com dores articulares debilitantes. Mas e as nossas crianças? Como essa doença, transmitida pelo mesmo mosquito da dengue, afeta os mais jovens? Uma pesquisa inédita da Fiocruz, realizada na Bahia, joga luz sobre essa questão crucial e revela dados que every pai e mãe precisa conhecer.

Durante quatro anos, no município de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, pesquisadores acompanharam de perto 348 crianças e adolescentes com idades entre 2 e 17 anos. O objetivo era claro: desvendar os efeitos reais do vírus chikungunya nessa faixa etária, que costuma ser menos estudada.

As conclusões, publicadas recentemente, quebram paradigmas e acendem um alerta: a chikungunya é uma ameaça significativa e pode deixar sequelas mesmo nos corpos mais jovens.

A chikungunya em crianças e adolescentes

O acompanhamento foi detalhado, com coletas periódicas de sangue e consultas médicas para monitorar qualquer sinal de febre ou outros sintomas. A tabela abaixo resume os principais achados da pesquisa:

Dado do EstudoResultado Encontrado
Total de participantes no início348 indivíduos (2 a 17 anos)
Já tinham anticorpos contra Chikungunya (início do estudo)23 indivíduos
Participantes que completaram o acompanhamento311 indivíduos
Taxa de Infecção (entre os que completaram o estudo)17% testaram positivo
Casos confirmados por RT-PCR25 casos
Casos confirmados por Sorologia28 casos
Infecções Assintomáticas9,4% (uma minoria significativa)
Desenvolvimento de Dor Articular Crônica (Artralgia)12% dos casos confirmados
Taxa de Soroconversão (produção de anticorpos)84% nos casos positivos

Os sintomas e sequelas

O coordenadora da pesquisa, Viviane Boaventura, da Fiocruz Bahia, explica que, ao contrário do que se poderia imaginar, a grande maioria das infecções em crianças e adolescentes foi sintomática. A febre alta e as dores intensas nas articulações, marcas registradas da doença, também atingiram este público.

No entanto, o dado mais alarmante diz respeito às sequelas. Doze por cento dos jovens infectados – ou seja, 1 em cada 8 – desenvolveram artralgia crônica. Isso significa que as dores nas articulações persistiram por meses após o fim da fase aguda da doença, a ponto de atrapalhar atividades diárias simples, como brincar, escrever ou praticar esportes.

Imunidade incompleta e um alerta para a prevenção

Outra descoberta importante foi que, embora 84% dos infectados tenham desenvolvido anticorpos detectáveis, uma parcela significativa não apresentou essa resposta imunológica. Isso levanta questões sobre a proteção duradoura contra novas infecções.

A pesquisa também constatou que, mesmo durante surtos da doença na região, apenas 20% dos participantes foram expostos ao vírus. Esse número, que pode parecer baixo, na verdade evidencia o quanto a população pediátrica permanece vulnerável e a necessidade urgente de estratégias de prevenção mais eficazes.

O que isso significa para as famílias?

Os resultados da Fiocruz deixam claro que a chikungunya não é uma “doença de adulto”. Ela representa um risco real e substancial para a saúde das crianças e adolescentes, com potencial de causar desconforto prolongado e impactar sua qualidade de vida.

A mensagem final é um reforço na importância do combate ao mosquito Aedes aegypti. Eliminar criadouros, usar repelentes e adotar todas as medidas de proteção individual não são apenas cuidados para os mais velhos. São atos essenciais para proteger o presente e o futuro dos nossos jovens.

A chikungunya pode ser silenciosa para uma minoria, mas para a maioria das crianças, seus efeitos são dolorosamente claros – e podem ser duradouros. A prevenção continua sendo a nossa maior arma.

Assuntos