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O dia em que Napoleão planejou fugir para o Nordeste

A Revolução Pernambucana de 1817 foi muito mais do que um movimento regional. Este episódio de luta pela independência no Brasil ganhou o conhecimento do mundo na época. As provas são as conexões com um dos maiores nomes da história europeia: Napoleão Bonaparte.

Mas, de fato, as movimentações políticas e militares daquele período no Nordeste chegaram a envolver planos ousados. Dentre eles, um plano de resgate de Napoleão para o Nordeste.

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Como os pernambucanos queriam resgatar Napoleão?

Em 1815, Napoleão Bonaparte foi derrotado e capturado pelas forças britânicas. Desse modo, foi exilado na ilha de Santa Helena, uma localização extremamente isolada no meio do Atlântico Sul, entre o Brasil e a África. Essa ilha era uma verdadeira prisão no meio do nada, cercada por milhares de quilômetros de oceano.

Enquanto isso, no Brasil, a insatisfação com o domínio português crescia, culminando na Revolução Pernambucana de 1817, um levante que buscava instaurar um governo independente na região.

A conexão entre franceses e pernambucanos

Durante a Revolução Pernambucana, os líderes rebeldes enviaram um representante, conhecido como Cabugá, para os Estados Unidos com o objetivo de buscar apoio e reconhecimento formal para o movimento.

No entanto, o que aconteceu lá foi além do esperado. Cabugá foi contactado por militares franceses que haviam se exilado nos Estados Unidos após a queda de Napoleão. Estes oficiais eram leais ao imperador e ainda esperavam, de alguma forma, trazê-lo de volta ao poder.

Quem estava por trás desse contato era ninguém menos que José Bonaparte, irmão de Napoleão, que via na aliança com os pernambucanos uma oportunidade de ajudar a libertar Napoleão de seu exílio.

Dessa forma, os franceses propuseram apoiar militarmente a Revolução Pernambucana em troca de uma rota de fuga para Napoleão, que incluiria um trajeto da ilha de Santa Helena até Fernando de Noronha e, de lá, para os Estados Unidos. A ideia era que Napoleão pudesse eventualmente retornar à França.

O que diz a história sobre os pernambucanos e Napoleão

O professor Flávio José Gomes Cabral, da Universidade Católica de Pernambuco, apresentou uma pesquisa no Encontro Nacional dos Professores Universitários de História, onde narra algumas cenas.

Dessa forma, ele narra:

“Em 1° de março de 1818, Luís do Rego Barreto (1777-1840), último governador régio pernambucano, se correspondia por carta com o ministro do reino Tomás Antônio Vila Nova Portugal (1755-1839) dando conta da situação de sua província, da Paraíba e o do Rio Grande do Norte, regiões onde a revolução rebentada há quase um ano havia sido pacificada à custa de muita perda de sangue.

Revolução Pernambucana de 1817
Revolução Pernambucana de 1817 Foto: Domínio Público

Nessa correspondência ele demonstrava receio de que outro levante, agora urdido no estrangeiro, em particular nos Estados Unidos da América do Norte, por elementos que foram enviados àquele país pelos revolucionários pernambucanos, pudesse novamente inflamar a província.

Luís do Rego vinha recebendo da América do Norte constante correspondência do abade José Correia da Serra, que serviu no período de 1816 e 1820 a coroa, na qualidade de embaixador plenipotenciário nos EUA, informando a chegada de emissários do governo revolucionário e os planos arquitetados por ele para sustentar a revolução. O abade tomou ciência, através de Antônio Simões Rosado Freire, da presença de Antônio Gonçalves da Cruz, dito Cabugá, na capital americana.

Ele havia partido de Pernambuco, no calor da revolução, em 24 de março de 1817, como agente diplomático, para conseguir apoio e o reconhecimento do governo de Washington para a jovem república criada no Nordeste brasileiro. O emissário levou na bagagem 60:000$000, destinados a comprar armas e munições para combater as tropas de D. João VI, na esperança de alistar mercenários”. 

Uma Missão Interrompida pelo Tempo

E foi nesse contexto que Cabugá conheceu o coronel francês Latapie e outros franceses que estavam nos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, eles tomaram conhecimento da eclosão da revolução pernambucana.

E que José Bonaparte os mandariam a vir a Pernambuco para verificar se a revolução era tal qual se dizia. O objetivo era um só: colocar os planos de resgate de Napoleão em prática.

A princípio, a proposta era ousada. Contudo, tinha um grande obstáculo: o tempo. A Revolução Pernambucana, que durou apenas dois meses, não resistiu o suficiente para concretizar qualquer plano de resgate.

O período curto da insurreição foi insuficiente para permitir a execução de uma missão tão complexa como a fuga de Napoleão.

Apesar disso, a mera presença de militares franceses de alta patente em solo brasileiro, prontos para apoiar a revolução em troca do resgate de Napoleão, demonstra o quão entrelaçadas estavam as lutas pela liberdade e independência em diferentes partes do mundo.

A notícia dessas movimentações chegou a circular na França, criando esperanças entre o povo francês, que ansiava pelo retorno de Napoleão ao poder.

Como era o plano de resgate de Napoleão para o Nordeste?

AssuntoDescrição
Contexto HistóricoEm 1815, Napoleão estava exilado na ilha de Santa Helena após sua derrota. No Brasil, a insatisfação com o domínio português culminou na Revolução Pernambucana de 1817.
A Missão do CabugáDurante a Revolução Pernambucana, Cabugá foi enviado aos EUA para buscar apoio. Lá, encontrou militares franceses leais a Napoleão. A proposta era apoio à revolução em troca do resgate de Napoleão para Fernando de Noronha.
Envolvimento de José BonaparteAo mesmo tempo, José Bonaparte, irmão de Napoleão, estava por trás do contato com Cabugá, vendo na aliança com os pernambucanos uma oportunidade para libertar Napoleão.
Relatos HistóricosEm março de 1818, o abade José Correia da Serra, embaixador nos EUA, alertou o governador de Pernambuco sobre a chegada de emissários do governo revolucionário em busca de ajuda estrangeira.
Papel de CabugáCabugá viajou aos EUA para buscar apoio do governo de Washington. Ele levou dinheiro para comprar armas e munições. Lá, ele conheceu militares franceses interessados em apoiar a revolução em troca do resgate de Napoleão.
Missão Interrompida pelo TempoA Revolução Pernambucana, que durou apenas dois meses, não foi suficiente para realizar o plano de resgate de Napoleão. A curta duração da insurreição interrompeu essa parceria.

 

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Uma Conexão Fascinante

Embora o plano nunca tenha se concretizado, o episódio revela uma faceta fascinante e pouco conhecida da Revolução Pernambucana de 1817.

Não foi apenas um movimento de resistência contra o domínio colonial. Mas também um elo inesperado em uma rede internacional de alianças e estratégias envolvendo figuras históricas de peso.

Este é um exemplo impressionante de como as aspirações de liberdade e independência, mesmo em contextos tão distintos, podiam se conectar de formas surpreendentes.

LEIA MAIS: – Cinco vezes na história que o Nordeste gritou independência

No final, a Revolução Pernambucana não foi bem-sucedida, e Napoleão terminou seus dias em Santa Helena.

No entanto, a tentativa de ligar o destino de um imperador europeu exilado a uma rebelião no Nordeste ilustra o rico mosaico da luta pela independência na América Latina.

Texto: Eliseu Lins e Rafael Lins

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