O cultivo do algodão atravessa um novo e vigoroso ciclo de expansão no Nordeste, marcado por investimentos públicos, inovação tecnológica e pela recuperação da cotonicultura em estados estratégicos como Piauí, Maranhão e Bahia. Segundo o Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE), vinculado ao Banco do Nordeste, a região deve alcançar em 2025 uma produção recorde de 942,7 mil toneladas, o que representa crescimento de 16,2% em relação ao ciclo anterior. O resultado consolida o Nordeste como a segunda maior região produtora de algodão do país, atrás apenas do Centro-Oeste.

De berço histórico à retomada produtiva
O Nordeste tem uma relação centenária com o algodão. No século XVIII, o Maranhão liderava as exportações brasileiras para a Europa, impulsionando a economia local e nacional. Já no século XIX, o algodão ultrapassou o açúcar e se tornou a principal cultura da região. Entretanto, a partir da segunda metade do século XX, crises climáticas, falta de modernização e a praga do bicudo-do-algodoeiro levaram ao declínio da atividade, abrindo espaço para o avanço do Centro-Oeste.
Agora, o cenário é outro. A região do Matopiba — que abrange partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — desponta como um dos polos mais dinâmicos do agronegócio nacional. Com uso intensivo de tecnologia, irrigação moderna e sementes geneticamente aprimoradas, os produtores nordestinos têm recuperado a competitividade e reposicionado o algodão entre as culturas mais rentáveis do campo.
Investimentos estaduais e inovação
O movimento de retomada é sustentado também por políticas públicas e programas de revitalização. No Ceará, o Programa Estadual de Revitalização da Cotonicultura busca fortalecer o cultivo familiar, oferecendo assistência técnica, sementes de qualidade e incentivo à mecanização leve. Já na Bahia, o uso de sistemas de irrigação de precisão e sementes de alto rendimento tem garantido alta produtividade, mesmo em períodos de estiagem.
Em âmbito nacional, a área destinada ao algodão cresceu 6,7% na safra 2024/2025, ultrapassando 2,15 milhões de hectares. O Nordeste acompanha esse avanço com protagonismo, apostando em modelos produtivos sustentáveis, integração com cooperativas e parcerias entre agricultores e institutos de pesquisa.
Nordeste em destaque no mercado internacional
O “ouro branco” voltou a brilhar também no cenário global. Em 2024, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e se consolidou como o maior exportador mundial de algodão. O Nordeste teve papel decisivo nesse desempenho, com crescimento expressivo nas vendas externas: +28,4% em volume e +8,6% em valor, superando a média nacional.
A Bahia e o Piauí foram os estados que mais se destacaram. No caso piauiense, as exportações mais que dobraram em peso (+106,2%), embora o preço médio tenha recuado em relação ao ciclo anterior — reflexo do aumento da oferta global.
Desempenho da cotonicultura nordestina (safra 2024/2025)
| Estado | Produção estimada (t) | Crescimento (%) | Área plantada (ha) | Destaques |
|---|---|---|---|---|
| Bahia | 630.000 | +12,5% | 975.000 | Maior produtor do Nordeste; alta produtividade com irrigação e tecnologia de precisão |
| Piauí | 160.000 | +22,8% | 210.000 | Expansão rápida no Matopiba e recorde de exportações (+106,2%) |
| Maranhão | 110.000 | +18,3% | 160.000 | Recuperação da tradição algodoeira e investimentos logísticos |
| Ceará | 25.000 | +10,4% | 32.000 | Programa de revitalização voltado à agricultura familiar |
| Total Nordeste | 942.700 | +16,2% | 1.377.000 | Consolidação da região como segunda maior produtora do Brasil |
Fontes: ETENE/BNB, IBGE, Abapa, Anea (2025)
Situação atual e perspectivas
Hoje, o Nordeste vive uma fase de consolidação tecnológica e expansão territorial da cotonicultura. O setor movimenta cadeias inteiras de produção, desde a agricultura familiar até grandes produtores e cooperativas exportadoras. Além de gerar milhares de empregos diretos e indiretos, a retomada da cultura reforça a vocação agrícola e sustentável da região.
Com a combinação entre investimentos públicos, capacitação técnica, inovação e condições climáticas favoráveis, o Nordeste se posiciona como um novo polo estratégico do agronegócio brasileiro — resgatando sua tradição histórica e projetando um futuro de desenvolvimento econômico e social mais equilibrado.
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