O Nordeste brasileiro é uma das regiões mais afetadas pelas mudanças climáticas, que trazem desafios e oportunidades para o desenvolvimento sustentável. Para discutir como a Inteligência de Estado pode contribuir para impulsionar políticas públicas regionais que enfrentem esses desafios e aproveitem essas oportunidades, foi realizado o Encontro do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) Nordeste, em Salvador/BA, nesta quinta-feira, 9 de novembro.
O evento reuniu representantes dos nove estados da região, entre autoridades federais, estaduais e municipais, acadêmicos, empresários e líderes de associações civis de interesse. Foram abordados assuntos como transição energética, defesa civil, El Niño e Inteligência Econômica.
Na abertura do encontro, o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Luiz Fernando Corrêa, destacou que as instituições devem trabalhar em conjunto na elaboração de planos de adaptação que minimizem os impactos das mudanças climáticas aos mais vulneráveis, considerando a realidade local. “É preciso avançar na atuação estatal conjunta e antecipada, já que desastres são sazonais e, portanto, previsíveis e mitigáveis”, disse Corrêa. “Cabe a nós utilizar ferramentas que possuímos para que juntos possamos atuar na prevenção de riscos e mitigação dos impactos desse fenômeno”, completou.
Hidrogênio renovável
Uma das alternativas para a transição energética é o uso do hidrogênio renovável, que é produzido a partir de fontes limpas, como a energia solar e eólica. No Nordeste, há projetos em andamento no Ceará e na Bahia, que foram apresentados no primeiro painel do evento.
Manoel Messias de Freitas Filho, representando o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), explicou que o Ceará tem potencial para se tornar um polo de produção e exportação de hidrogênio verde, que é obtido a partir da eletrólise da água usando energia renovável. Segundo ele, o estado possui vantagens competitivas, como a disponibilidade de energia eólica e solar, a infraestrutura portuária e a proximidade com os mercados europeu e norte-americano.
Roberto Fortuna Carneiro, secretário-executivo da Comissão Especial para Implementação de uma Economia de Hidrogênio Verde na Bahia, relatou que a Bahia também tem condições favoráveis para o desenvolvimento dessa cadeia produtiva, que pode gerar emprego, renda e desenvolvimento regional. Ele citou que o estado tem a maior capacidade instalada de energia renovável do país, além de contar com o apoio de instituições de pesquisa e de empresas interessadas no setor.
El Niño e mudanças climáticas
O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Paulo Nobre, expôs em palestra a relevância de discernir informação e desinformação, a dimensão da ameaça do aquecimento global e os impactos socioeconômicos da intensificação do fenômeno El Niño no Nordeste.
O El Niño é um fenômeno climático que ocorre quando há um aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, afetando o regime de chuvas e temperaturas em várias partes do mundo. No Nordeste, o El Niño costuma provocar secas mais severas e prolongadas, comprometendo a agricultura, a pecuária, a segurança hídrica e a qualidade de vida da população.
Nobre alertou que as mudanças climáticas atingiram pontos irreversíveis, além de afetarem o ciclo hidrológico e aumentarem a pressão de desertificação sobre o Nordeste. “O quanto as gerações presentes e futuras experimentarão um mundo mais aquecido e diferente depende de escolhas no presente e no futuro próximo”, declarou Nobre. Segundo ele, a cooperação entre os atores nacionais de Estado e da indústria na defesa dos patrimônios naturais nacionais é uma necessidade imperiosa para a segurança alimentar, hídrica e energética nacional.
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Políticas públicas e defesa civil
Também foram discutidas no encontro políticas públicas para mitigação e adaptação aos impactos das mudanças climáticas. Samanta Della Bella, gerente-geral de Mudanças Climáticas da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, afirmou que as condições econômica, social e ambiental possuem papel importante de resposta a esse cenário. “A informação tem que chegar e cada setor precisa ter seu papel definido nesta política”, disse. Ela comentou ainda as vulnerabilidades da região, tanto na área litorânea, com a alta do nível do mar, quanto no interior, com a desertificação.
O painel de Defesa Civil, com a presença da Secretaria Nacional de Defesa Civil e de representantes das defesas civil da Bahia e de Maceió/AL, destacou a preocupação com parcela relevante da população brasileira– cerca de 10 milhões de pessoas – exposta à vulnerabilidade extrema. São 28 mil áreas de risco de desastres no país, segundo a Defesa Civil.
Os participantes do painel ressaltaram a importância da integração entre os órgãos de defesa civil e de inteligência, bem como da prevenção e do planejamento para reduzir os danos causados por eventos climáticos extremos, como enchentes, deslizamentos, secas e incêndios. Eles também apresentaram as ações realizadas em seus estados e municípios para enfrentar essas situações, como o monitoramento, o alerta, a assistência e a recuperação.
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O Encontro do Sisbin Nordeste foi uma iniciativa da ABIN, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente da Bahia (SEMA) e o Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do Ministério Público da Bahia (CEAF). O objetivo foi promover o intercâmbio de informações e experiências entre os integrantes do Sisbin e os demais atores envolvidos com o tema das mudanças climáticas no Nordeste, visando fortalecer a capacidade de produção de conhecimento e de apoio à tomada de decisão.