Início » Economia » Nordeste pode impulsionar meta brasileira de biocombustíveis; saiba como

Economia

Nordeste pode impulsionar meta brasileira de biocombustíveis; saiba como

Estudo recente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) aponta que o Brasil poderá mais que dobrar a oferta de biocombustíveis até 2050 sem invadir áreas de vegetação nativa, aproveitando entre 20 e 35 ...
Eliseu Lins, da Agência NE9
10 de outubro de 2025 - às 07:19
Atualizado 10 de outubro de 2025 - às 07:19
5 min de leitura

Estudo recente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema) aponta que o Brasil poderá mais que dobrar a oferta de biocombustíveis até 2050 sem invadir áreas de vegetação nativa, aproveitando entre 20 e 35 milhões de hectares de pastagens degradadas, dentro de um total de cerca de 100 milhões disponíveis. Com isso, o consumo de biocombustíveis saltaria de 102 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep) em 2024 para 221,1 Mtep em 2050.

Uma pergunta natural é: como o Nordeste pode ajudar e se beneficiar desse ambicioso cenário?

A seguir, os principais pontos:

Conheça o Potencial existente no Nordeste

  1. Produção já relevante de bioenergia
    O Nordeste contribui de forma significativa para a produção de bioenergia no Brasil. Em 2024, estados como Alagoas, Pernambuco e Bahia se destacaram na geração de bioeletricidade a partir do bagaço da cana. Alagoas, por exemplo, foi responsável por cerca de 27% da produção regional.
  2. Agricultura familiar e oléaginosas locais
    Há iniciativas no Nordeste com culturas como mamona, girassol e palma (maçuába) que se adaptam bem ao clima semiárido. O programa de biodiesel social, selo biocombustível social, prevê apoio maior para a agricultura familiar no Nordeste.
  3. Pesquisa, inovação e biofábricas
    Centros como o CETENE e projetos como a biofábrica de Pernambuco atuam no melhoramento genético, micropropagação de cana e outras cultivares para uso energético. Isso favorece produtividade e torna mais competitiva a oferta de matéria-prima para biocombustíveis.
  4. Uso de áreas degradadas
    Muitas regiões nordestinas possuem terras degradadas ou pouco produtivas (solo erodido, pastagens degradadas). O uso dessas terras para plantio de culturas energéticas (respeitando as condições ambientais) poderia fazer parte desse incremento de oferta sem comprometer florestas intactas. O estudo do Iema permite evitar uso de vegetação nativa.

Benefícios esperados para o Nordeste

  • Geração de emprego e renda — expansão das cadeias produtivas de biocombustíveis pode empregar agricultores familiares, pequenos produtores, beneficiadores locais (ex: cultivo, colheita, processamento).
  • Desenvolvimento regional equilibrado — com incentivo e políticas adequadas, região menos favorecida pode atrair investimentos industriais e tecnológicos ligados à bioenergia e aos biocombustíveis.
  • Redução de desigualdades — potencial para melhorar infraestrutura rural, aumentar segurança alimentar (quando cultivadas culturas de subsistência em consórcio), melhoria nas redes logísticas e de transporte.
  • Contribuição para metas climáticas — produzindo combustível limpo, reduzindo emissões de CO₂, contribuindo para os compromissos do Brasil no Acordo de Paris e nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC).

Desafios e condições para o sucesso

  • Infraestrutura de transporte e logística — para escoamento da produção (estradas, armazenamento, proximidade de usinas) são essenciais para tornar viável o custo de produção.
  • Acesso a crédito e financiamento para pequenos produtores — para compra de mudas, maquinário, irrigação, tecnologia. Sem suporte financeiro, produção local pode ficar marginalizada.
  • Políticas de incentivo e regulação adequadas — definições claras sobre o uso da terra, garantias ambientais, legislação sobre selo social, mistura obrigatória de biodiesel/etanol, apoio fiscal.
  • Concorrência com a produção de alimentos — evitar que culturas energéticas “desloquem” aquilo que era usado para alimento ou conservação ambiental. Bons arranjos agroflorestais e consórcios podem ajudar.
  • Adaptabilidade climática e uso sustentável da água — no semiárido nordestino, escassez de água é uma variável crítica. Opções de cultivares resistentes, sistemas de irrigação eficientes, aproveitamento de águas residuais ou tecnologias de manejo serão importantes.

Exemplos de ações já em curso

  • Selo Biocombustível Social reforçado para estimular biodiesel oriundo de agricultura familiar do Nordeste, com mistura obrigatória maior.
  • Sistemas agroflorestais com macaúba em Piauí e Ceará, integrando culturas alimentares e de energia, demonstrando modelos sustentáveis de produção em consórcio.
  • Biofábrica do CETENE/Embrapii que propaga mudas de cana de açúcar e outras fontes energéticas, aumentando eficiência produtiva.

Como o Nordeste pode acelerar a transição

O biocombustível de Macaúba é um dos estudos da UFLA
O biocombustível de Macaúba é um dos estudos da UFLA. Foto: Divulgação.

Portanto, para que o Nordeste não apenas “ajude”, mas seja protagonista nesse cenário de crescimento dos biocombustíveis até 2050, algumas linhas de ação parecem essenciais:

  • Focar em políticas públicas regionais específicas, com incentivos para produtores nordestinos, integrando biodiversidade, uso sustentável da terra e acesso a mercados.
  • Apoiar pesquisa e inovação local: mudas mais produtivas, cultivares adaptadas ao clima semiárido, métodos de produção sustentável (agroflorestais, consórcios).
  • Garantir crédito acessível, logística e infraestrutura adequada para escoamento.
  • Fortalecer o Selo Biocombustível Social, para que a economia familiar e comunidades locais obtenham parte expressiva dos benefícios.
  • Incluir articulação entre governo federal, estadual e municipal, instituições de pesquisa, setor privado e agricultores para viabilizar o investimento.

O Nordeste é a região com maior potêncial para biocombustíveis no Brasil. Acredito que se o poder público manter o foco em politicas públicas com esse foco, a região vai colher grandes frutos em breve.

LEIA TAMBÉM

Eliseu Lins

Eliseu Lins é baiano de nascimento e paraibano de coração. Jornalista formado na UFPB, tem mais de 20 anos de atuação na imprensa do Nordeste. É pós-graduado em jornalismo cultural e ocupa o cargo de editor-chefe do NE9 desde 2022.