Os vibradores são atores cativos nas nossas cabeceiras da cama ou nas nossas bolsas. Se não estão lá, aparecem em algum anúncio de redes sociais. Ou na conversa de bar com as amigas. De qualquer maneira, esse aparelhinho que foi ganhando novos formatos ao longo de décadas anda frequentando muito mais nossas subjetividades, corpos e imaginários.
Nunca se ouviu, viu, sentiu tanta coach falar em prazer feminino sem conversar sobre a potência, a beleza, o afago dos vibradores. Estamos nessa era do boom do poder dos sugadores de clitoris e seus benefícios para o bem-estar das mulheres – não importa a idade, se você está solteira, casada ou vive numa relação aberta ou fechada – os novos brinquedinhos chegaram de vez para mexer com corpos e prazeres do feminino.
A revolução dos vibradores também mudou o aprendizado e as mães estão compartilhando seus segredos para com as filhas mais jovens. Meu aprendizado pessoal foi solitário e minha mãe jamais conversaria sobre orgasmo aos 15 anos, mas hoje, podemos entender que o corpo da menina-mulher pode seguir outros percursos sem opressão e vergonha. No site Mina Bem Estar, por exemplo, uma reportagem publicada em maio deste ano narra essa transformação.
Novas experiências com o próprio corpo
Raíssa comprou o primeiro vibrador de sua vida, aos 15 anos, em 2022, com ajuda da mãe, Gabriela, 39 anos, que escolheu o modelo. A jovem relata que a relação com a mãe sempre foi de muita amizade e companheirismo e que sempre teve abertura e que isso a deixou muito segura. “Ela me ensinou a ter respeito com meu próprio corpo e também com o meu desejo”, declara a jovem, que hoje tem 16 anos. O trecho da reportagem traz a fala da mãe que afirma que “hoje, percebo o quanto deixei de ter experiências sexuais boas por falta de conhecimento sobre o meu corpo. Gostaria que com ela fosse diferente. Desejo que o processo dela (de descoberta sexual) seja mais leve e satisfatório do que o meu”, resume.
A reportagem também apontou o desafio de olhar o corpo feminino com mais liberdade e das meninas conversarem sobre masturbação. Ainda é um tema polêmico e nesse paradoxo atual, vamos vivendo experiências. É o caso de uma amiga, de 59 anos, que resolveu comprar seu primeiro brinquedo numa loja de sexshop. Fui com ela dando um suporte emocional: com boné para não ser reconhecida e no balcão a conversa com a atendente ainda foi tensa. Para disfarçar pedimos um brinquedo como se fosse para uma outra amiga, que jamais entraria numa “lojinha como aquela”. Ela saiu feliz, no final das contas, porque estava dando um passo para dentro de si mesma. Eu sai dando muitas risadas da cena inusitada e feliz pela solidariedade feminina.
O primeiro vibrador era a vapor
Para concluir, vale lembrar que o primeiro vibrador era a vapor, criado por George Taylor , em 1869, e no começo do século XX a empresa Hamilton Beach patenteou o primeiro vibrador elétrico, que passou a ser vendido como eletrodoméstico. A sua criação foi para fins medicinais para tratar o que chamava de “histeria” ou a doença do ventre, uma crença mais que maluca que dizia que massageando a vulva, a mulher tinha lubrificação e contrações e depois se sentia melhor, ou seja , ela tinha um “paroxismo histérico”. Como os médicos perdiam tempo com o tratamento, criaram o aparelhinho para ajudar com a estimulação.
É interessante observar como tudo se transforma. Antes o vibrador visto como medicação, hoje, uma libertação para sua autonomia. São muitos desafios, mas seja meninas, mães, mulheres mais velhas, estamos vivendo novos tempos. Definitivamente, melhores.
JANAÍNA ARAÚJO
Coluna – Na casa dos 50
Fotos: Freepik e reprodução/redes sociais