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InícioJanaína Araújo - Na casa dos 50Joana e uma declaração contra o abandono

Joana e uma declaração contra o abandono

Ganhei um encontro para desmistificar alguns mitos que envolvem as mulheres com mais de 50 anos. Este texto tem um tom descritivo e vai narrar falas de mulheres reais numa mesa de café da manhã, que envolvem silêncio, opressão, liberação e, claro, o amor para salvar nossas vidas ressecadas pelos discursos construídos pelo patriarcado e o hipercapitalismo.
A autora Bell Hooks nos adverte que o amor é revolucionário e estou contando uma estória sobre uma nova forma de estar no mundo baseada no amor que nos transforma. O verbo “estar” é utilizado no sentido mais literal de expressar realmente o lugar e tempo e a importância da presença de ser no mundo.

Nesta mesa recheada de guloseimas matinais, somos quatro mulheres. Maria Izabel e Joana, ambas com quase 60 anos e a outra mais velha, Maria, porém com mais de vitalidade, com 81. Eu, que acabei de chegar aos 50, me ponho a ouvir um diálogo sobre nós, mulheres mais velhas e o mundo.

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“Uma mulher com 50 anos já está velha, deveria ficar mais recolhida e deixar essa conversa de namorar homem mais jovem para lá”, retruca Maria, mastigando um pãozinho quentinho.
“Tudo depende, Maria! Mas uma coisa prefiro: a solidão e cuidar dos netos do que um novo relacionamento”, reflete Maria Izabel.
Eu começo a ficar atenta, como uma leitora ávida para fazer perguntas.

Joana, que ficou viúva há 10 anos, relata que realmente os homens são mais instintivos e não merecem muita confiança. “Realmente os homens são infiéis e nós mulheres nascemos para aguentar. Aguentar para não ficar sozinha”.

Pergunto eu, olhando para todas com o coração nas mãos. “Mas e o amor? Onde foi morar? Onde anda nosso brilho? E o Cupido? E Afrodite? Será que vamos atravessar o Mito de Teseu que abandonou Ariadne numa ilha após fazer juras de amor?”
Maria, que está com raiva da vida, afirma que o amor não existe, e num estilo quase Spinozista, declara: “O amor sobe e desce, é mais um estado de humor do que uma realidade”.
Joana se retrai como se estivesse levando uma flechada: “Eu ainda acredito no amor baseado na confiança. Trocaria o nome de amor por respeito, por amizade, por vida. Tem mulheres que namoram com homens mais jovens e existe respeito e confiança. Vejo um sinal de amor. Vejo sinais que o mundo está mudando”.
Respirei e tomei o restante do café.

Estou treinando escrever novas narrativas nesses artigos publicados neste site e fiquei observando com muita atenção as mulheres e seus discursos fabricados e preconcebidos de dor. Uma pontinha de alegria surge quando, pelo menos uma delas reage, se retorce, não se rende, se revela como, enfim, como se ela mesma fosse uma breve declaração de amor.
Joana, com seus cabelos grisalhos, que tem medo de um novo relacionamento, não se rendeu ao abandono de Teseu. Nela ainda habita uma mulher que se habita e que não se deixa oprimir, Joana é aquela que tenta uma nova forma de estar no mundo, baseada no amor, na confiança, na amizade, na vida.

P.S. Este encontro não é uma ficção.

Coluna – Na casa dos 50

Janaína Araújo
Jornalista, mestra em Comunicação pela UFPB e doutoranda em Ciência da Informação. Gosta de meditar e não aceita rótulos.

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