O cenário político nacional começa a esquentar, e, como de costume, os olhos se voltam para o Nordeste há um ano das eleições. Se em 2022 vivemos a festa das reeleições, com 18 dos 20 governadores tentando a permanência no cargo saindo vitoriosos, o panorama para 2026 é uma reviravolta completa. A princípio, nacionalmente, apenas 9 dos 27 atuais governadores buscam a reeleição. E é no Nordeste que essa taxa é mais significativa: 5 dos 9 estados terão seus chefes do Executivo na disputa.
A região não é apenas um gigante eleitoral – foi o grande bastião de Lula em 2022. Dessa forma, garantiu 69,34% dos votos válidos no segundo turno –, mas também concentra quase 27% da população brasileira e uma fatia relevante do PIB nacional. As movimentações nos nove estados nordestinos, portanto, não são apenas locais; são peças-chave no xadrez que definirá os rumos do país.
A reeleição e os palanques nacionais
Dos cinco governadores que buscam a reeleição, três são do PT (Ceará, Bahia e Piauí) e dois do PSD (Pernambuco e Sergipe). A lógica dos recursos federais, que tanto explicou as vitórias de 2022, pode se repetir, mas com novos atores. A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSD), por exemplo, aparece em uma posição interessante: conta com o apoio financeiro do governo Lula e conseguiu uma significativa previsão de investimentos de R$ 7,5 bilhões para o próximo ano.
No entanto, a estrada não será fácil para todos. Em Pernambuco e na Bahia, Raquel Lyra e Jerônimo Rodrigues (PT) enfrentam, respectivamente, João Campos (PSB) e ACM Neto (União Brasil), adversários que hoje lideram as pesquisas em seus estados.
O presidente Lula, que certamente buscará a reeleição, tem no Nordeste seu principal reduto. Para ampliar seus percentuais, ele pode acionar palanques estaduais, especialmente em estados onde seus números foram menores, como Alagoas (58,68%) e Pernambuco (67%). A relação com Raquel Lyra, que tem se distanciado publicamente do PT, será um dos fios mais interessantes a se observar.
Quais os estados do Nordeste que vão eleger sucessores?
Enquanto cinco governadores tentam se manter, os outros quatro – da Paraíba, Maranhão, Rio Grande do Norte e Alagoas – concluem seus mandatos e trabalham para eleger seus sucessores. Isso abre espaços para cenários altamente competitivos e fragmentados, como na Paraíba, onde não há um favorito claro, e no Rio Grande do Norte, onde a saída de Fátima Bezerra (PT) pode criar uma polarização entre a esquerda e a direita, representada pelo senador Rogério Marinho (PL).

A situação em cada estado do Nordeste
Estado | Governador Atual | Situação | Principais pré-candidatos | Cenário Previsto |
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Bahia | Jerônimo Rodrigues (PT) | Busca Reeleição | Jerônimo Rodrigues (PT) x ACM Neto (UNIÃO) | Disputa muito equilibrada. A aliança com o PSD será crucial. |
Sergipe | Fábio Mitidieri (PSD) | Busca Reeleição | Fábio Mitidieri (PSD) x Edvaldo Nogueira (PT) x Valmir Francisquinho (PL) | Cenário de incerteza, dependendo das alianças nacionais do PSD. |
Pernambuco | Raquel Lyra (PSD) | Busca Reeleição | João Campos (PSB) x Raquel Lyra (PSD) | Campos lidera as pesquisas. Aliança de Raquel com o PL é um risco. |
Ceará | Elmano de Freitas (PT) | Busca Reeleição | Elmano de Freitas (PT) x Ciro Gomes (PDT – possível) x Capitão Wagner (PL) | Eleição fragmentada. Candidatura de Ciro reorganizaria a oposição. |
Piauí | Rafael Fonteles (PT) | Busca Reeleição | Rafael Fonteles (PT) x Ciro Nogueira (PP – possível) | O cenário mais tranquilo. Fonteles lidera com ampla vantagem. |
Maranhão | Carlos Brandão (PSB) | Conclui Mandato | Orleans Brandão (MDB – situacionista) x Roseana Sarney (MDB) x Eduardo Braide (PSD) | Teste de força do ministro Dino. Disputa familiar no MDB. |
Paraíba | João Azevêdo (PSB) | Conclui Mandato | Cícero Lucena (PP), Adriano Galdino (Republicanos), Lucas Ribeiro (PP) e Efraim Filho (União Brasil) | Cenário completamente aberto e multipolar. |
Rio Grande do Norte | Fátima Bezerra (PT) | Conclui Mandato | Natália Bonavides (PT – cogitada) x Rogério Marinho (PL) x Allyson Bezerra (UNIÃO) | Polarização PT x Bolsonarismo. Disputa muito indefinida. |
Alagoas | Paulo Dantas (MDB) | Conclui Mandato | Renan Filho (MDB) | Grupo de Renan Calheiros é favorito, com Arthur Lira (PP) como ator central. |
Um Termômetro Nacional
O Nordeste se apresenta, mais uma vez, como o principal termômetro político do Brasil. As disputas locais refletem as nacionais: a força do lulismo, a reorganização da direita, a força dos nomes estaduais e a complexa teia de alianças do centrão. As eleições para governador na região não definirão apenas os rumos de nove estados, mas darão o tom e a direção da corrida presidencial. Em outubro de 2026, o Brasil começará a ser definido nas urnas do Nordeste.