Fernando de Noronha zera casos de Covid-19 e estuda reabertura gradual da ilha
Passaram-se 44 dias desde o anúncio do primeiro caso de Covid-19 na ilha de Fernando de Noronha. Neste sábado (09/05), com a confirmação de que os últimos quatro casos ainda em investigação foram descartados, a Administração da Ilha anunciou que conseguiu zerar a doença no arquipélago. Todos os 28 pacientes que foram infectados pelo novo coronavírus estão curados e não há mais casos suspeitos da doença.
O fim dos casos de coronavírus em Noronha coincide com o fim da quarentena, que tem prazo para encerrar neste domingo (10). Desde o dia 20 de abril os moradores da ilha vivem em regime de isolamento total, que vem sendo conhecido no país como lockdown. Com a medida, estabelecida pelo Decreto Estadual 48.955, os moradores passaram a ter que preencher formulários via internet solicitando autorização da administração para sair de casa. A liberação era dada apenas para necessidades essenciais. Para o Administrador Guilherme Rocha, o respeito da população pelas medidas restritivas implementadas foi fundamental para esse resultado:
“Temos que agradecer a população, que precisa ser parabenizada. Sofremos muito quando anunciamos a quarentena, dia 20 de abril, como uma medida rígida, porém necessária. Agora, enquanto o Brasil começa a entrar no lockdown, Noronha já está saindo. É o primeiro lugar a zerar o coronavírus e mostrar ao Brasil e ao mundo um exemplo prático de que o isolamento dá certo. Todas essas ações inconvenientes e chatas trazem hoje esse resultado. Tudo isso é reflexo do respeito que a população teve pelas medidas implementadas pelo governo. A gente é mais forte quando a gente se une, quando a gente está junto e quando a gente se respeita. Isso fez Noronha vencer e passar por essa pandemia”, afirma Guilherme.
Com o fim da quarentena, o governo trabalha em um protocolo de flexibilização gradual das atividades na ilha. Em um primeiro momento, a reabertura será para os moradores que estão no arquipélago, como adianta o administrador: “Ainda teremos regras e recomendações, porque zeramos os casos mas precisamos ter a certeza de que o vírus não circula mais na ilha. A abertura para a comunidade se dará em algumas etapas, com algumas recomendações a serem seguidas. É preciso toda cautela do mundo. Todos os 28 pacientes que foram contaminados estão curados e os suspeitos, descartados, mas é necessário todo o cuidado para não termos uma nova onda e precisar começar tudo de novo. O continente ainda está em uma situação muito perigosa. Daí a nossa preocupação em trabalhar de forma controlada para ver como vai ser o retorno dos moradores que estão no Recife, pelo risco de contaminação que estão vivendo”.
Agora o foco das autoridades sanitárias em Noronha será o estudo epidemiológico que começará na próxima semana. Serão testados em torno de 900 voluntários entre homens e mulheres, de diversas faixas etárias e de todas as regiões da ilha. Os participantes serão selecionados de forma aleatória. A pesquisa fornecerá evidências para orientar ações de vigilância e de controle da doença e também irá apoiar a tomada de decisão da Administração e do Governo do Estado na retomada das atividades sociais e econômicas na ilha. “O estudo epidemiológico irá determinar se o vírus ainda circula na ilha em pacientes assintomáticos, se circulou em outros lugares onde não foi detectado. O resultado deve sair ainda entre 15 e 20 dias”, explica Guilherme Rocha.
O caso de sucesso em Noronha foi resultado de uma série de medidas restritivas tomadas no momento certo. Quando foi anunciado que um funcionário do aeroporto Wilson Campos havia sido contaminado, confirmando o primeiro caso de Covid-19 na ilha, no dia 27 de março, o Governo do Estado já havia decretado o fechamento do arquipélago para visitantes. Os turistas que estavam visitando a ilha precisaram deixá-la entre os dias 17 e 20 de março, com a ajuda de voos extras. O aeroporto, limitado a um voo semanal, ficou aberto apenas para embarque e desembarque de moradores e servidores. Gradualmente as restrições foram aumentando. A partir do dia 05 de abril, moradores também não puderam mais entrar. Na sequência, o desembarque foi vetado também para servidores. O Porto de Santo Antônio também teve suas operações limitadas. Um rigoroso protocolo passou a ser empregado pela vigilância de saúde, na chegada dos barcos de cabotagem, para a investigação epidemiológica dos tripulantes.
Também foi fundamental a estratégia de testagem em massa adotada pelo Governo na ilha. Todas as pessoas que tinham contato com pacientes confirmados eram postas em isolamento domiciliar e testadas para a doença. Assim foi possível acompanhar e controlar a propagação do vírus. Noronha registrou 28 casos de Covid-19, sendo 17 homens e 11 mulheres, entre 25 e 59 anos.
Com a suspensão das atividades turísticas e do comércio, principais atividades econômicas da ilha, muitos moradores ficaram sem nenhuma renda. A Administração, com o apoio do Governo do Estado e de algumas parcerias, adquiriu 2 mil cestas básicas para serem distribuídas com a população. Além disso foi criado o vale-gás, um crédito de 200 reais por mês para ajudar na compra de gás de cozinha, água mineral e gêneros alimentícios.
Também foi feita pela Administração a doação de óleo diesel para as embarcações de pescadores que voluntariamente saem para o mar, para trazer peixe e distribuir com os moradores. Um trabalho coordenado pelo Conselho Distrital, que esteve sempre ao lado da Administração, na tomada de decisões.
“A gente deve muito a essa comunidade. No início a gente via pessoas chamando essa doença de gripezinha, pessoas não obedecendo as normas e foi preciso tomar algumas posições, como aumentar o efetivo policial, mas foi pensando na ilha. E o trabalho vai continuar, porque a gente está livre do vírus mas a necessidade de ajuda ainda é grande. Isso não vai parar. Estamos trazendo mais cestas básicas, dois mil quilos de legumes e frutas, uma remessa de uma doação de filé de frango para ser distribuída. Esse suporte vai continuar. O nosso desejo é de poder trazer o quanto antes o nosso pessoal de volta para a ilha. Mas é preciso pedir muito a nossa comunidade que nos ajude nesse momento porque gente não pode voltar à estaca zero”, enfatiza o presidente do Conselho, Milton Luna.
Com a colaboração de toda a comunidade, empresas da ilha e governo, Noronha atravessou o momento mais difícil da pandemia. Ainda não há prazo para que tudo volte à normalidade, incluindo a reabertura para os turistas. De acordo com o administrador da ilha, é preciso muita cautela porque o novo coronavírus ainda se alastra pelo país:
“A gente se sente feliz, porque vê o trabalho dando resultado, mas infelizmente não podemos comemorar enquanto acontecem tantas mortes diárias pelo país. Se a gente está sendo exemplo para o Brasil, que esse exemplo seja seguido. Vamos rezar para isso. No momento em que estamos vendo tanto sofrimento do povo brasileiro, não há motivo para comemoração. Vamos esperar, que a hora vai chegar”, conclui Guilherme Rocha.
FONTE: SECOM PE
Foto: Daniel Filho