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Farol do Mucuripe: símbolo de Fortaleza que ressurge após séculos de história

Com investimento de R$ 2,9 milhões, o Governo do Ceará revitalizou o Farol do Mucuripe, restaurando fachada, almeias (elementos arquitetônicos históricos), cúpula, pisos, ornamentos, escadaria de acesso, varanda e lampadário.
Eliseu Lins, da Agência NE9
6 de outubro de 2025 - às 06:04
Atualizado 6 de outubro de 2025 - às 06:04
4 min de leitura

Em uma cerimônia carregada de emoção, foi entregue à população do Ceará, no dia 5 de outubro de 2025, a requalificação do Farol do Mucuripe, equipamento histórico que volta a brilhar no litoral de Fortaleza. A princípio, o momento é visto pela comunidade como a realização de um sonho coletivo, reverberando identidade, memória e futuro.

Origem e importância histórica

O Farol do Mucuripe foi planejado no início do século XIX, com planta aprovada em 1829, mas sua construção só se concretizou entre os anos de 1840 e 1846. A edificação foi erguida com alvenaria, madeira e ferro, em estilo considerado barroco, e com trabalho de pessoas escravizadas. ipatrimonio.org+2Repositório Institucional UFC+2

Logo após sua conclusão, ainda em 1846, o farol sofreu um incêndio, tendo passado por reformas posteriores em 1872. Dessa maneira, ele operou como farol ativo até cerca de 1957, sendo referência de navegação para embarcações que se aproximavam de Fortaleza.

Conforme o crescimento urbano de Fortaleza, a paisagem mudou: prédios elevados começaram a comprometer a visibilidade da luz do farol, o que contribuiu para sua desativação.

Transformações ao longo do tempo

  • Desativação e perda de função técnica: em meados da década de 1950, o Farol velho foi desativado (1957–58), pois sua utilidade como guia para navegação foi diminuindo.
  • Museu do Jangadeiro: na década de 1980, após restauração liderada pela Divisão do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, o edifício foi adaptado para abrigar o Museu do Jangadeiro, com acervo voltado à história das jangadas, da pesca e da Fortaleza colonial.
  • Tombamento: o Farol foi oficialmente tombado como patrimônio estadual (Lei nº 9.109 de 1968, Decreto nº 16.237 de 1983), reconhecendo seu valor arquitetônico, cultural e simbólico.
  • Declínio e abandono: com os anos, o prédio perdeu parte de sua manutenção, teve a cúpula danificada e ficou bastante deteriorado, marcado pelo abandono até o início das obras mais recentes. O

A restauração e os novos usos

Com investimento de R$ 2,9 milhões, o Governo do Ceará revitalizou o Farol do Mucuripe, restaurando fachada, almeias (elementos arquitetônicos históricos), cúpula, pisos, ornamentos, escadaria de acesso, varanda e lampadário. Alé disso, também foram feitos trabalhos de iluminação interna, externa e cênica, bem como paisagismo, melhoria do entorno com urbanização, instalação de praça de brinquedos e academia ao ar livre.

O espaço restaurado agora integra oficialmente os equipamentos culturais do Estado, com expectativa de se tornar ponto de cultura, lazer, turismo e geração de renda para moradores da área do Grande Mucuripe.

A voz da comunidade

Moradores veem o Farol como muito mais que um marco físico: é memória viva, identidade local e símbolo de pertencimento. Lideranças comunitárias celebram a entrega como conquista que contribui para reverter estigmas, fortalecer o turismo de base comunitária, promover arte local e proporcionar espaços públicos para convívio.

Histórias pessoais também se misturam à história do Farol: Seu Lucas, carpinteiro de 73 anos que chegou ao bairro aos 10, relata ter participado de reformas anteriores, lembra dos tempos em que o Farol era parte ativa da vida local, e agora vê a restauração como algo para as gerações futuras.

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Símbolo presente na bandeira e no imaginário cearense

O Farol do Mucuripe é um dos símbolos oficiais do Estado do Ceará, estampando a bandeira estadual. Sua arquitetura e presença à beira-mar fazem dele um dos marcos mais antigos de Fortaleza.

Portanto, a reinauguração do Farol do Mucuripe sela uma trajetória que atravessa quase dois séculos — desde sua construção por mãos escravizadas, passando por incêndios, reformas, abandono, até a recuperação recente. Afinal, seu renascimento não é apenas físico, mas simbólico: devolve-se à cidade um patrimônio que dialoga com sua origem, sua cultura, e suas esperanças. E com as novas luzes acesas, Fortaleza reafirma que não se esquece de seus marcos, nem de seu povo.

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Eliseu Lins

Eliseu Lins é baiano de nascimento e paraibano de coração. Jornalista formado na UFPB, tem mais de 20 anos de atuação na imprensa do Nordeste. É pós-graduado em jornalismo cultural e ocupa o cargo de editor-chefe do NE9 desde 2022.