Uma vida dedicada a criar e outra dedicada a preservar. Assim se entrelaçam as trajetórias do artista paraibano Flávio Tavares e do colecionador Luizmar Medeiros, cujo acervo se transforma em uma grande celebração às artes visuais. Nesta quinta-feira, às 19h, será inaugurada na Casa MGA, na Avenida Cabo Branco, em João Pessoa, uma exposição que reúne 57 obras de Tavares, produzidas majoritariamente entre as décadas de 1960 e 1980. O conjunto é o resultado de mais de 40 anos de pesquisa, garimpo e paixão pela arte.
Natural de Santa Luzia, no Sertão da Paraíba, Luizmar Medeiros, 72 anos, advogado aposentado, divide sua rotina entre São Paulo e João Pessoa. A ideia da mostra surgiu durante uma visita à capital paraibana, em outubro, quando esteve em outra exposição na MGA. A partir desse encontro, tomou forma o projeto que agora ocupa o espaço cultural, com curadoria de Augusto Morais.
“Tenho pouquíssimas obras dos anos 1990 e algumas dos anos 2000. O eixo central está realmente nos anos 60, 70 e 80”, explica o colecionador. O próprio artista reconhece a importância do que será exposto. “Luizmar é uma figura rara. Vai garimpando obras que às vezes estão espalhadas, fragmentadas, e reúne tudo com grande cuidado. É emocionante ver esse percurso do meu trabalho ao longo do tempo”, afirma Flávio Tavares.
Além de preservar, a mostra também revisita sentimentos do pintor. “É uma exposição muito significativa para mim. Bate uma saudade e me faz refletir sobre como eu trabalhava naquela época”, completa.
Quem é Flávio Tavares?
- Natural da Paraíba, Flávio Tavares é considerado um dos principais nomes das artes visuais nordestinas.
- Sua produção transita por ilustração, pintura, desenho e artes gráficas.
- Tavares possui obras em coleções públicas e privadas no Brasil e no exterior.
- Ao longo de décadas de trajetória, desenvolveu um trabalho marcado por dramaticidade visual, crítica social e referências autobiográficas.
- A presença de temas como afetos familiares, religiosidade popular e contrastes urbanos é uma constante em sua pesquisa artística.



O início de uma paixão
O relacionamento de Luizmar com a obra de Flávio Tavares remonta aos anos 1970, quando ele vivia em João Pessoa como estudante do Lyceu Paraibano e, mais tarde, da graduação em Odontologia. Um grande painel do artista na antiga Clínica São Camilo, no Centro da cidade, chamou sua atenção e marcou aquele primeiro contato.
O colecionador deixou a capital em 1977, após breve passagem por Brasília, para viver em São Paulo — cidade onde construiu carreira e ampliou o interesse pelo universo das artes. O primeiro trabalho de Tavares, porém, só foi adquirido nos anos 1980, em João Pessoa. A partir de então, sua busca se expandiu para diversas praças: Rio de Janeiro, Vitória, Brasília, Petrópolis, Recife e São Paulo.
Entre as peças raras que estarão no espaço expositivo está a obra “O homem de terno branco”, adquirida em um leilão no Rio de Janeiro. Ao ver o quadro em João Pessoa, Tavares se emocionou: “Até que enfim Caixa d’Água volta para João Pessoa”, disse ele na ocasião, ao reconhecer que o retrato era do icônico personagem Manoel Caixa d’Água, figura popular da capital na década de 1970. A pintura havia sido presenteada ao escritor Jorge Amado, e retornou ao mercado após sua morte, em 2001.
Diversidade técnica e circulação pública
A coleção reúne pinturas a óleo e acrílico, desenhos, estudos e trabalhos em bico de pena, destacando o universo figurativo característico de Tavares, repleto de personagens e animais. Parte desse acervo já integrou outras exposições importantes em João Pessoa, como as comemorações dos 70 anos do artista no Centro Cultural São Francisco — período em que, devido à pandemia, o próprio homenageado não pôde comparecer.
Além de Flávio Tavares, Luizmar mantém em seu apartamento no Cabo Branco uma expressiva coleção de artistas nordestinos e paraibanos. Para ele, colocar esse material em circulação é um princípio: “A arte não existe para ficar guardada. Ela precisa ser vista”.
A atual exposição sintetiza décadas de diálogo entre artista, colecionador e a própria cidade que moldou ambos. “É uma mostra didática, que traça uma linha temporal do meu trabalho. Luizmar tem um olhar muito apurado. Ele acompanhou grande parte da minha vida profissional. Estou profundamente emocionado”, declara Flávio Tavares.
Com essa reunião de obras raras e afetos duradouros, a Casa MGA abre ao público uma oportunidade singular de conhecer, revisitar e valorizar um capítulo essencial da arte contemporânea produzida na Paraíba.
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