Seminário sobre mobilidade sustentável, debate o etanol como solução para o emprego, energia e meio ambiente
Especialistas reunidos em um seminário sobre mobilidade sustentável, vislumbram que o mundo deve caminhar no sentido de promover uma verdadeira revolução energética, em busca de fontes alternativas para fazer girar a roda da economia global, de forma a preservar o meio ambiente e as condições de vida no planeta.
Neste cenário, o etanol da cana-de-açúcar desponta com grande potencial de ser protagonista nesta mudança de matriz energética, desde que o mundo se convença que a eletrificação dos veículos não seja a única solução.
Para Alex Giacomelli, diretor do Departamento de Energia do Ministério das Relações Exteriores, a preocupação global com a segurança energética despertada pela guerra entre Rússia e Ucrânia, abre espaço para a necessidade de diversificar as fontes de energia. “É isso que o Brasil vem defendendo e vem fazendo muito bem. E nesse cenário que o etanol deverá ter um papel significativo não só para o Brasil, mas para o mundo”.
O professor da UNIFEI e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético da UNICAMP, Luiz Augusto Horta Nogueira, afirma ser muito difícil, a curto prazo, substituir todo o sistema energético baseado no gás natural, no carvão. “Mas certamente, estamos passando a viver um tempo novo nesse sentido, que reconheça que uma dependência tão concentrada de alguns países é um risco, uma inconveniência”, disse.
Alex Giacomelli
Segundo ele, a médio prazo, e, talvez mais breve do que se imagina, pode surgir uma grande oportunidade para o Brasil oferecer seu combustível limpo, renovável, competitivo em termos de preço, além de mostrar todo seu Know how no segmento. “E nesse sentido, a guerra irá acelerar a transição energética na direção do etanol, entre outras fontes renováveis”, explica.
De acordo com o professor Paulo Saldiva, titular do Departamento de Patologia da USP, a política de combustível, geralmente focada na questão do preço, também deve levar em consideração os custos que os gases do efeito estufa provocam na saúde humana.
“O etanol com tecnologia adequada é neutro, praticamente na emissão de gases de efeito estufa. Ele reduz a emissão de partículas, reduz a emissão de hidrocarbonetos, reduz a produção de compostos, portanto, o etanol daria lucro e essa externalidade deveria ser consultada na discussão da matriz energética”, aponta o professor.
O deputado federal Arnaldo Jardim, da Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético, lembrou que setenta países no mundo já têm normas hoje de adição do etanol ou de uso do etanol, portanto caracterizando um movimento que é internacional. “Destaco a votação da legislação sobre o RenovaBio que desdobrou se em normas definidas pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) estabelecendo horizontes para que os CBIOs pudessem ser emitidos”, disse.
Arnaldo Jardim
Para o parlamentar, o etanol é a mais sofisticada moeda verde que o Brasil tem hoje. “Porque ela é transacionada na bolsa de valores, na B3, tem parâmetros de certificação muito bem estabelecidos, auditados, portanto, criando uma possibilidade de exatamente quantificar e monetizar, esse aspecto das externalidades que são beneficiadas”, disse.
Jardim também citou o lançamento do plano decenal de expansão de energias do MME, onde está previsto para o biodiesel um crescimento de 26,8% e 40,8% na produção de etanol, ou seja, o que pode nos consolidar internacionalmente, como o país de vanguarda na produção de biocombustíveis”.
Com relação à legislação, apesar de considerar adequada, o professor Luiz Horta alegou que o Governo tem tido comportamentos um pouco erráticos nesse sentido.
“O Governo definiu metas para o biodiesel, voltou atrás, e, não esclareceu isso. Então é muito importante que o Ministério de Minas e Energia, que tem programas tão interessantes quanto o “Combustível do Futuro”, persista no caminho coerente de reforço da transição energética”, cobrou.
Luiz Horta
Horta entende que existem condições para que as metas de redução de emissões sejam cumpridas. “Não é uma questão de alimentos ou bioenergia, é uma questão de produzir ambos, pois temos espaço para isso. Quem imagina que a eletricidade vai ser a solução para mover os automóveis em baterias está equivocado. É eletricidade com biocombustível. O Brasil hoje está usando uma fração da sua superfície para produzir biocombustíveis. São 5 milhões de hectares, num país de 850 milhões de hectares. Situação similar observamos em uma série de outros países tropicais como Colômbia, Guatemala e países na África”, ressaltou.
Para o professor o que falta num sentido mais amplo, é uma certa vontade política. “Existe um grande nível de desinformação entre os países que deveriam estar consumindo muito mais etanol do que estão consumindo. Existem países que estão produzindo e exportando etanol de qualidade, e que ainda não usam uma gota, porque têm um preconceito plantado por interesses que defendem o status quo, para não usar etanol. Por isso que o que está acontecendo na Índia é muito interessante. Ela acelerou bastante o programa de etanol. Os indianos descobriram que estão atrasados e vão se arrepender de não ter tomado antes essas medidas. Países da Ásia, da África, da América Latina podem ser grandes produtores de biocombustível para uso do planeta todo”, afirmou.
Paulo Saldiva
Horta ressalta que o Brasil é hoje, no setor de transporte em termos das economias importantes do planeta, de longe a que mais introduziu energia renovável na matriz energética. “Somos o que os outros países pretendem ser com essa ilusão, com essa sereia do veículo elétrico. Quando você olha na Alemanha, por exemplo, mais de 80% da energia é produzida do carvão, de fontes fósseis, onde está a vantagem da energia elétrica? A energia elétrica que faz sentido é aquela que usa etanol para gerar eletricidade, é o veículo híbrido que são os que menos emitem no mundo”, constatou.
O professor destaca ainda que, há cerca de 10 mil anos atrás fizemos a revolução agrícola, evolução importantíssima na humanidade. “Nós deixamos de caçar e coletar alimentos e passamos a plantar, a criar animais, formando-se as cidades, os estados. Agora estamos vendo grande parte da humanidade usando energia estocada no subsolo, causando problemas ambientais, problemas de segurança energética. É hora de fazer outra revolução, a revolução energética”, conclui.
FONTE: JORNAL DA CANA