Nos últimos anos, a produção de algodão agroecológico na Paraíba registrou um crescimento surpreendente de 400%, segundo dados da Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer).
Em 2021, apenas cinco famílias se dedicavam ao cultivo de algodão orgânico. Hoje, esse número já alcança 68 famílias, em um movimento que está transformando a economia agrícola da região.
O avanço no setor se deve, em grande parte, à melhoria da renda familiar gerada pela produção. Segundo Severino Vicente da Silva, presidente da Cooperativa dos Agricultores do Município de Ingá e Região (Itacoop), mais conhecido como “Seu Biu”, cada safra de algodão pode render até R$ 10.000,00 por família. “Antes, os agricultores cultivavam apenas para subsistência.
Agora, além de continuarem plantando alimentos, como feijão, milho e jerimum, para garantir a soberania alimentar, eles agregam valor com o algodão”, explica.
Além do benefício financeiro, o projeto está baseado em um modelo de sustentabilidade social, no qual os contratos de compra garantida com grandes empresas têxteis e de confecção asseguram o escoamento da produção. Isso cria uma cadeia produtiva sólida e sustentável, promovendo o desenvolvimento rural e a segurança econômica das famílias envolvidas.
Certificação internacional GOTS e novos mercados
Outro ponto que promete alavancar ainda mais a produção é a busca pela certificação GOTS (Global Organic Textile Standard). Francisca Vieira, presidente da Associação Brasileira da Indústria da Moda Sustentável (Abrimos) e líder do projeto Algodão Paraíba, destaca que o preço do quilo do algodão pago pelas empresas envolvidas já é o maior do Brasil, e a certificação internacional deve abrir novos mercados, tanto nacionais quanto internacionais. “Estamos trabalhando para a obtenção do certificado desde 2017, quando iniciamos conversas com representantes da GOTS na Alemanha. Naquela época, o Brasil sequer tinha uma certificadora credenciada”, afirma Francisca.
A obtenção do selo GOTS é esperada para outubro de 2024 e deverá garantir acesso a mercados de alto valor agregado, ampliando os territórios de cultivo para atender à crescente demanda por algodão sustentável.
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O projeto também comemora a criação da primeira sementeira social de algodão orgânico do Brasil, desenvolvida pelo Instituto IA, com sementes cedidas pela Embrapa. Segundo Josey Diniz Belmont, presidente do Instituto IA, a sementeira será fundamental para garantir a preservação ambiental e a qualidade da produção. “Estamos cuidando desde a análise do solo até a seleção das sementes para assegurar a excelência e a produtividade. Esse cuidado reflete em um produto final de alta qualidade e com baixo impacto ambiental”, afirma.
O algodão produzido inclui as variedades Rubi e verde, naturalmente coloridos, além de amostras genéticas do algodão branco, todas cultivadas sem o uso de produtos químicos.