Elizabeth Teixeira: a nordestina marcada para viver faz 100 anos

Elizabeth Teixeira
Elizabeth Teixeira

Neste dia 13 de fevereiro de 2025Elizabeth Teixeira, ícone da luta pelos direitos dos trabalhadores do campo e figura emblemática da resistência camponesa no Brasil, completa 100 anos de vida. Antes de mais nada, sua trajetória, marcada por lutas, perdas e superações, é um legado de coragem e dedicação à causa dos mais vulneráveis. Ao mesmo tempo, ela se tornou um símbolo da resistência rural, especialmente após sua participação no filme Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, obra que imortalizou sua história e a de seu marido, João Pedro Teixeira, líder camponês assassinado em 1962.

Uma Vida de Luta e Resistência

Nascida em 1925, na fazenda Anta do Sono, em Sapé, Paraíba, Elizabeth Teixeira era filha de um dono de engenho e tinha um destino traçado: casar-se bem e viver conforme as tradições da época. No entanto, seu encontro com João Pedro Teixeira, um jovem camponês e ativista, mudou completamente o rumo de sua vida. Aos 15 anos, Elizabeth se casou com João Pedro, com quem teve 11 filhos. Juntos, eles se tornaram pilares das Ligas Camponesas, movimento que marcou o início da luta pela reforma agrária no Brasil.

A princípio, a vida de Elizabeth teve um abalo profundo com a morte de João Pedro, assassinado em uma emboscada em 1962. Após a tragédia, ela assumiu a liderança da luta camponesa. Desse modo, enfrentou perseguições, prisões e a necessidade de viver na clandestinidade por 17 anos, sob o nome de Marta da Costa. Durante esse período, ela foi separada de seus filhos, que foram criados por parentes e amigos. Apesar das inúmeras tragédias familiares, incluindo o suicídio de sua filha mais velha e o assassinato de um filho pelo outro, Elizabeth nunca abandonou a causa pela qual tanto lutou.

O Legado de Elizabeth Teixeira

A história de Elizabeth ganhou projeção nacional com o filme Cabra Marcado para Morrer, dirigido por Eduardo Coutinho. O documentário, que mistura realidade e ficção, retrata a vida de João Pedro e a luta de Elizabeth pelos direitos dos trabalhadores rurais. Ao mesmo tempo, o filme foi interrompido pela ditadura militar em 1964, mas as imagens capturadas até então se tornaram um registro histórico fundamental da resistência camponesa.

Elizabeth Teixeira. Foto: Documentário TV ALPB
Elizabeth Teixeira. Foto: Documentário TV ALPB

Elizabeth Teixeira é frequentemente comparada a Eunice Paiva, figura central do filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles. Ambas representam a força e a resiliência das mulheres que lutaram contra a opressão e a injustiça em um dos períodos mais sombrios da história do Brasil.

Celebração do Centenário

Para celebrar os 100 anos de Elizabeth Teixeira, o Memorial das Ligas e Lutas Camponesas, fundado em 2009, organizou uma programação especial em Sapé, cidade onde ela viveu parte de sua vida. A exposição Elizabeth Teixeira: 100 Faces de uma Mulher Marcada para Viver, o lançamento da terceira edição do livro Eu Marcharei na Sua Luta: Memórias Camponesas e do cordel Elizabeth: Mulher de Luta, de Juliana Soares, estão entre as atividades que homenageiam sua trajetória.

Resumo da Trajetória de Elizabeth Teixeira

AnoEvento
1925Nascimento de Elizabeth Teixeira na fazenda Anta do Sono, Sapé, Paraíba.
1940Conhece e se casa com João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas.
1962João Pedro é assassinado em uma emboscada. Elizabeth assume a liderança.
1964Perseguida pela ditadura, entra na clandestinidade como Marta da Costa.
1984Lançamento do filme Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho.
2009Fundação do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas.
2025Elizabeth Teixeira completa 100 anos.

Uma Heroína Popular

Em suma, Elizabeth Teixeira é mais do que uma líder camponesa; ela é uma heroína popular, cuja coragem e determinação inspiraram gerações. Sua luta pela reforma agrária e pelos direitos dos trabalhadores rurais continua relevante em um país onde a desigualdade no acesso à terra persiste. Como afirma Juliana Teixeira, sua neta e historiadora:
“Ela acredita de verdade que é possível, que o homem do campo possa ter uma vida melhor, mais digna, com direitos. É uma mulher incrível.”

Assim, hoje, Sapé é uma cidade cercada por assentamentos, um legado visível da luta de Elizabeth e João Pedro. Sua história nos lembra que a resistência e a esperança são capazes de transformar realidades e construir um futuro mais justo.

Confira abaixo um documentário sobre Elizabeth Teixeira produdizo pela TV Assembleia.

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