O Nordeste é cheio de coisas únicas, inusitadas e espetaculares. Essa premissa é uma verdade que vemos do litoral ao sertão. E um desses locais fantásticos é a cidade de Salvador. A primeira capital do Brasil abriga uma pluralidade de histórias e carrega consigo uma simbologia única da construção de como nosso país. E um desses ícones da cidade baiana é o Cemitério do Ingleses. Um local quase paradisíaco, que une a vida ao mórbido com uma belíssima vista para o mar.
O local fica na Ladeira da Barra. E o cenário pode parecer estranho, mas é local de visita de milhares de turistas que buscam uma vista definitiva da Baía de Todos os Santos. E entre lápides e túmulos, o Cemitério dos Ingleses mostra-se um fantástico cartão-postal soteropolitano.
História e Fundação
Em primeiro lugar, o local teve sua fundação nas primeiras décadas do século XIX, o Cemitério dos Ingleses é um rico patrimônio histórico da Colônia Britânica na Bahia. Sua fundação ocorreu após concessão do terreno pelo então governador da Bahia, Conde dos Arcos, aos cidadãos britânicos residentes no Brasil. A necessidade de um cemitério próprio surgiu devido às restrições da época, que permitiam apenas cemitérios católicos.
A concessão formalizou-se em um tratado assinado por Dom João VI, em 1810, concedendo aos britânicos o direito de construir seus próprios cemitérios. Assim, um ano depois, nasceu o Cemitério dos Ingleses, proporcionando dignidade aos mortos do Império Britânico que, até então, eram sepultados na Península de Itapagipe junto com indigentes e criminosos.
Arquitetura e Sepultamentos
A arquitetura do cemitério, seguindo o padrão da época, tinha como inspiração nos cemitérios rurais da Europa e dos Estados Unidos. O local dos sepultamentos tinha três níveis. A parte superior reservada para os ingleses. O segundo pavimento abrigava alemães, franceses e judeus, com destaque para as lápides identificadas pela Estrela de Davi. Um terceiro local, hoje sem registros, complementava o conjunto.
O Vínculo com Charles Darwin
O cemitério guarda histórias marcantes, incluindo a passagem do jovem naturalista britânico Charles Darwin. Durante sua estadia em Salvador, em 1832, a bordo do HMS Beagle, Darwin testemunhou a morte de três tripulantes devido à malária. Dois desses marinheiros foram sepultados no Cemitério dos Ingleses, preservando uma conexão singular com o pai da teoria da evolução.
Local de turismo e encontros
Ao mesmo tempo, o Cemitério dos Ingleses se transformou em um local de turismo para muitas pessoas. Quem passa pela frente do local não imagina o que vai encontrar lá dentro. Dessa forma, quem já passou por ali desfruta de uma valiosa informação da beleza do cenário. Em resumo, é um prato cheio inovação e surpresa para impressionar turistas e até baianos que não imaginam a beleza da vista que ali tem.
Preservação e Homenagens
Hoje, o Cemitério dos Ingleses é um local tombado como sítio histórico, protegendo-o da especulação imobiliária. Mantido pela Associação da Igreja de São Jorge e Cemitério Britânico, conta com a ajuda de uma empresa agropecuária. Estima-se que mil pessoas tenham sido sepultadas ali, sendo 560 catalogadas. Visitantes, atraídos pela beleza silenciosa do local, têm a oportunidade de explorar a história e homenagear aqueles que repousam ali.
Ao mesmo tempo, no dia 2 de novembro, ocorrem celebrações religiosa, marcando um tributo aos entes queridos que ali estão. Apesar das décadas que se passaram desde sua fundação, o Cemitério dos Ingleses permanece como um testemunho eloquente da relação entre vida e morte, marcando a paisagem de Salvador com sua presença única.