A poesia oral e popular é um dos pilares da identidade cultural do Nordeste. Entre viola, rimas improvisadas e folhetos pendurados em cordas, os repentistas e cordelistas nordestinos perpetuam uma arte secular que segue conquistando gerações. Historicamente, algumas regiões se destacam como verdadeiros berços dessa tradição.
A princípio, o repente nordestino, também conhecido como “desafio”, é uma forma de poesia cantada e improvisada, geralmente acompanhada por viola. Já o cordel é a poesia impressa, vendida em feiras e mercados em forma de folhetos pendurados em cordas — daí o nome.
Onde estão os maiores polos do repente e do cordel no Nordeste?
Assim, cidades do interior de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte são reconhecidas nacionalmente pela força dessa expressão artística. Municípios como São José do Egito (PE) e Campina Grande (PB) formaram gerações de poetas populares e são referências no cenário da poesia oral e escrita.
Confira na tabela abaixo as regiões nordestinas de maior atuação histórica de repentistas e cordelistas:
Estado | Cidade/Região Destaque | Reconhecimento Cultural | Personalidades Notáveis |
---|---|---|---|
Pernambuco | São José do Egito | Conhecida como “Capital da Poesia” | Lourival Batista (Louro do Pajeú), Dedé Monteiro |
Paraíba | Campina Grande, Guarabira | Forte tradição em feiras de cordel e desafios | Manoel Monteiro, Oliveira de Panelas |
Ceará | Juazeiro do Norte, Crato | Berço de cordelistas influenciados pelo Padre Cícero | Patativa do Assaré, Rouxinol do Rinaré |
Rio Grande do Norte | Mossoró, Caicó | Importantes festivais de violeiros e cordelistas | João Batista do Nascimento (João Redondo) |
Piauí | Oeiras, Teresina | Atuação crescente de jovens cordelistas | Cineas Santos (influência na literatura local) |
Cultura que atravessa gerações
A tradição do cordel e do repente no Nordeste vem sendo passada de geração em geração, muitas vezes de pais para filhos. Festivais, encontros de violeiros e espaços de memória ajudam a manter viva essa arte genuinamente brasileira. Além disso, escolas e universidades têm contribuído com projetos que aproximam os jovens dessas manifestações.
O sertão do Pajeú, em Pernambuco, por exemplo, tem se consolidado como um território poético, onde praticamente cada município tem ao menos um poeta popular. Já em cidades como Campina Grande e Juazeiro do Norte, os cordelistas mantêm bancas nas feiras livres, divulgando histórias da cultura nordestina, causos e críticas sociais rimadas.
Patrimônio cultural do Brasil
Consequentemente, o repente foi registrado como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 2018, e o cordel também recebeu esse reconhecimento em 2018. Dessa maneira, a valorização institucional dessas expressões tem impulsionado políticas públicas e ações de fomento à cultura popular nordestina.
Ademais, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte não são apenas polos geográficos: são territórios da palavra cantada e escrita. O repente e o cordel continuam sendo espelhos da alma nordestina — um canto que resiste, emociona e educa.
Grandes nomes da Literatura de Cordel: da resistência cultural às raízes do sertão
Raimundo Santa Helena: o cordelista guerreiro

Nascido em Santa Helena (MA), Raimundo Luiz do Nascimento teve sua vida marcada pela tragédia e pela superação. Após a morte do pai em confronto com o bando de Lampião, ainda em 1927, deixou a casa aos 11 anos buscando justiça. Trabalhou em diversos ofícios em Fortaleza e ingressou na Marinha em 1943, participando da Segunda Guerra Mundial e sendo condecorado duas vezes pelo presidente da República.
Sua estreia no cordel veio em 1945, com o título “Fim da Guerra”. Fundador da Cordelbras, ele é autor de mais de 300 títulos, com mais de dois milhões de exemplares em circulação. Também foi o criador da Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Entre seus livros, destacam-se “Lampião e o sangue de meu pai” e “Um marujo na esquina do mundo”.
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Severino Milanês: poeta da cantoria e da fantasia
Natural de Vitória de Santo Antão (PE), Severino Milanês da Silva dedicou sua vida à cantoria e à poesia popular até seu falecimento em 1956. Seus folhetos abordam desde embates verbais (pelejas) até romances encantados, com príncipes e princesas, revelando seu apreço por temas clássicos e lúdicos.
Manoel Monteiro: o mestre do cordel contemporâneo
Nascido em Bezerros (PE), em 1937, Manoel Monteiro é reconhecido como um dos maiores cordelistas vivos do Brasil. Seu trabalho é respeitado pela qualidade literária e riqueza temática, cobrindo os mais diversos aspectos da vida humana. Assin, seus versos rimados e narrativas envolventes têm sido adotados por escolas em várias cidades como instrumento de valorização da cultura popular.
Mestre Azulão: o guardião dos romances cantados
José João dos Santos, conhecido como Mestre Azulão, nasceu em Sapé (PB) em 1932. Com mais de 100 folhetos publicados, é um dos últimos cantadores de viola ainda em atividade que preservam o romance tradicional do cordel. Vive no Rio de Janeiro, onde se destacou na Feira de São Cristóvão, abrindo espaço para outros poetas nordestinos. Sendo assin, sua obra também ganhou espaço no meio acadêmico, com apresentações em universidades brasileiras e estrangeiras.
Leandro Gomes de Barros: o pai do cordel brasileiro
Leandro Gomes de Barros nasceu em Pombal (PB), em 1865, e faleceu em Recife (PE), em 1918. É considerado o pioneiro da Literatura de Cordel no Brasil, com uma produção estimada em mil folhetos. Foi o mais influente editor da sua época, levando a poesia popular a diferentes cantos do país por meio de um sistema de distribuição com agentes. Aliás, Sua obra-prima “O cavalo que defecava dinheiro” segue sendo referência do gênero até hoje.
Manoel Camilo dos Santos: tradição e memória da poesia impressa

Natural de Guarabira (PB), Manoel Camilo nasceu em 1905 e se destacou como cantador nas décadas de 1930 e 1940. Com o tempo, passou a se dedicar à escrita e publicação de folhetos, fundando editoras como a Folhateria Santos e A Estrela da Poesia. Também publicou mais de 80 títulos e é membro fundador da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, ocupando a cadeira nº 25.
Portanto, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte não são apenas polos geográficos: são territórios da palavra cantada e escrita. O repente e o cordel continuam sendo espelhos da alma nordestina — um canto que resiste, emociona e educa. Afinal, autores desses estados, representam o vigor, a criatividade e a resistência da literatura popular nordestina. Por fim, suas obras continuam influenciando novas gerações de poetas e são fundamentais para manter viva a tradição do cordel no Brasil.
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