O Nordeste e o seu povo têm muitas histórias para contar. E esses capítulos dizem respeito a momentos únicos onde a população simplesmente resolveu não mais compactuar com o regime político vigente. Seja a monarquia ou a república,o fato é que a população desafiou a ordem estabelecida criando comunidades autônomas, algumas como  verdadeiros países.

Nordeste teve movimentos históricos

Conheça cinco desses movimentos históricos que marcaram a região e deixaram um legado duradouro. E a certeza de que o povo nordestino quando “pegou ar” ao longo de sua história pensou até na independência como forma de luta por liberdade.

Canudos (1896-1897)

O arraial de Canudos, no interior da Bahia, foi o centro de um dos mais conhecidos movimentos de resistência da história brasileira. Liderado por Antônio Conselheiro, Canudos era uma comunidade autônoma que rejeitava o governo republicano e as novas leis impostas após a Proclamação da República. Com uma população que chegou a mais de 30 mil pessoas, Canudos funcionava como uma sociedade alternativa, com suas próprias regras e liderança religiosa. O governo federal enviou quatro expedições militares para destruir Canudos, resultando em um dos maiores massacres da história do país, com a morte de quase todos os habitantes do arraial.

Saiba mais Sobre a Guerra de Canudos

Confederação do Equador

A Confederação do Equador foi uma revolta separatista que ocorreu em 1824, no contexto das tensões entre as províncias nordestinas e o recém-estabelecido Império do Brasil. Originada em Pernambuco, a revolta se espalhou por várias outras províncias nordestinas, incluindo Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. Os líderes da Confederação defendiam a formação de uma república independente, contrária ao governo centralizado do Imperador Dom Pedro I. O movimento foi suprimido com brutalidade pelo governo imperial, mas deixou marcas profundas na luta por autonomia e liberdade na região.

Quilombo dos Palmares (1605-1694)

O Quilombo dos Palmares foi um dos maiores e mais duradouros quilombos da história brasileira, localizado na Serra da Barriga, na atual Alagoas. Fundado no início do século XVII, Palmares era uma comunidade autônoma formada por escravizados fugitivos, indígenas e até brancos pobres que resistiam à dominação colonial. Sob a liderança de Zumbi dos Palmares, o quilombo resistiu a várias expedições militares enviadas para destruí-lo. Palmares representava um verdadeiro “país” livre dentro do território colonial, com governo, economia e sistema de defesa próprios. O quilombo existiu até 1694, mas sua história de resistência continua a inspirar movimentos sociais até hoje.

LEIA TAMBÉM
– O STF mantém Sport como Campeonato Brasileiro de 1987
– Nordeste terá investimento bilionário para conectar escolas
– Nordeste pode ganhar Porto Verde em parceria com a China

Revolta dos Malês (1835)

A Revolta dos Malês foi uma insurreição de escravizados muçulmanos de origem africana que ocorreu em Salvador, na Bahia, em 1835. Os Malês, como eram chamados, planejavam estabelecer um governo islâmico na Bahia, inspirados por sua fé e cultura. Embora o movimento tenha sido rapidamente suprimido pelas autoridades coloniais, a revolta destacou a resistência dos escravizados e a influência das culturas africanas na formação do Brasil. A Revolta dos Malês não teve a extensão territorial dos outros movimentos mencionados, mas seu impacto cultural e religioso foi significativo.

Revolta de Princesa (1930)

A princípio, a Revolta de Princesa foi um movimento armado que aconteceu em 1930 no município de Princesa Isabel, no Sertão da Paraíba, e liderado por José Pereira, um coronel local. Ao mesmo tempo, a revolta foi uma reação contra o governo estadual de João Pessoa, que tentava centralizar o poder e reduzir a autonomia dos coronéis. Dessa forma, Princesa Isabel, sob o comando de José Pereira, declarou independência do Brasil. Se tornou verdadeiramente um país. Em síntese, a República de Princesa tinha bandeira, hino, exército próprio, moeda circulante e controle sobre as vias de acesso à cidade. O movimento sofreu derrota com a intervenção das forças federais, pouco antes da Revolução de 1930. Contudo, derrotou por algumas vezes forças regionais de Patos e da capital, a então cidade de Parahyba, que pouco tempo depois passaria a se chamar João Pessoa.

Resumo dos cinco “países” que surgiram no Nordeste

LEIA TAMBÉM:
– CLP: Paraíba é o estado mais competitivo do Nordeste
– Nordeste tem 9 dos 10 maiores parques eólicos do Brasil
– Estudo revela onde estão os 332 superinteligentes do Nordeste
Em suma, esses movimentos entraram para a história não apenas por sua resistência, mas também pelo desejo de construir sociedades mais justas e livres. Dessa forma, suas histórias refletem a diversidade e a complexidade da luta pela autonomia e liberdade no Nordeste brasileiro.

Texto: Eliseu Lins