Vencedor dos festivais de Gramado e Roterdã, o filme Carro Rei tem dado o que falar ao bordar assuntos futuristas com a temática nordestina. Dirigido pela pernambucana Renata Pinheiro, Carro Rei tenta imaginar o futuro da humanidade enquanto tenta compreender o presente. A diretora quis contar uma história que ressoa com muita gente no Brasil, principalmente com quem mora em grandes centros urbanos.
“As cidades são desenhadas para os carros e não para os transeuntes”, diz Renata em conversa com a CNN. “Vemos jardins virando estacionamentos, cinemas virando estacionamentos, tudo é muito feito para isso”.
A cineasta, portanto, resolveu contar a história de Uno, um menino que, ao nascer no banco de trás de um táxi, adquire o poder de falar com carros. Com a ajuda do tio mecânico Zé Macaco (Matheus Nacthergaele), ele transforma seu veículo favorito em uma criatura capaz de ouvir, falar e até se apaixonar. Juntos, eles pretendem salvar a companhia de táxis do pai de Uno, que sofre com novas leis voltadas para carros mais velhos.
Com uma bela fotografia, ecoando as raízes de direção de arte de Renata, “Carro Rei” fala sobre transhumanismo, mas também aborda a questão do meio ambiente, intrinsicamente ligada aos danos ecológicos gerados diretamente pela produção e utilização de carros, principalmente no mundo subdesenvolvido.
Trazendo o tema da ficção científica fora do eixo Rio-São Paulo, Renata continua contribuindo para o cinema pernambucano a cada projeto que realiza.
“Gosto de revelar os ‘brasis’ que não são muito levados para as telas. Gosto de revelar personagens mais loucos ainda que um Zé Macaco que estão por aí”.
Matheus e o macaco
O uso de partes de automóveis, provenientes de ferro-velhos, sendo incorporadas ao corpo humano é um dos aspectos mais interessantes de “Carro Rei” e é com Matheus Nacthergaele que o transhumanismo do longa atinge seu pico.
O ator interpreta Zé Macaco, um mecânico que se revela um gênio incompreendido. Vítima de humilhações constantes das pessoas da cidade e da própria família, o mecânico se isola e, ao mesmo tempo que começa a trabalhar mais fundo ainda nos automóveis de sua oficina, vai se relegando ao estado mais primitivo da humanidade.
“Na ideia original, Zé Macaco tinha esse nome por ser o cara da borracharia, que troca os pneus”, diz o ator Matheus Nachtergaele. “Mas em um filme cujo protagonista é um carro que fala, achei que deveria levar esse apelido até as últimas consequências.”
O papel é digno de dó, segundo Matheus. Zé Macaco é um homem deformado, talvez por se parecer com o símio, mas, para Matheus, tal deformidade pode ser fruto de um problema social.
“A fábula é contada através do carro, mas é possível falarmos do celular também. Hoje, ele é o lugar da diversão, da informação, da fake news, do sexo, do afeto… E cada vez menos as pessoas se encontram sem a interferência da máquina”.
Assista ao trailer de “Carro Rei”:
FONTE: Com a CNN