Na Ilha de Itamaracá, em Pernambuco, uma casa virou notícia pelo inusitado da engenharia e pela força simbólica que carrega. Batizada de Casa de Sal, a construção feita com mais de 13 mil garrafas de vidro reutilizadas chama atenção não apenas pela estética fora do comum, mas também por ser uma obra de arte viva que une arquitetura sustentável, ativismo social e memória ancestral.
Garrafas que contam histórias de mãe e filha em Pernambuco
Ao mesmo tempo, o projeto tem assinatura de Edna Dantas e sua filha Maria Gabrielly Dantas. As duas artistas ecoculturais que decidiram usar o que era lixo para criar abrigo, beleza e transformação. As garrafas de vidro foram instaladas na vertical, técnica nunca antes registrada no mundo, e formam as paredes de sete cômodos da residência localizada na Praia do Sossego.

Além da casa, outras eco-lixeiras comunitárias foram criadas com o mesmo material, totalizando cerca de 8 toneladas de vidro que saíram de circulação do meio ambiente.
Arquitetura que nasce do afeto e do território
Mais do que um projeto inovador, a Casa de Sal é resposta direta à ausência de políticas públicas que garantam moradia digna e sustentabilidade às populações periféricas. A ideia surgiu em 2019, quando mãe e filha se mudaram para Itamaracá e se depararam com um cenário de descarte irregular de resíduos, especialmente vidro, em áreas de mata e mangue.
Com experiência em gestão de resíduos sólidos e uma trajetória marcada pelo ativismo ambiental, Edna viu ali uma oportunidade de inovar com propósito. Gabrielly, designer de moda, trouxe o olhar criativo, sensível e estético.
Juntas, usaram materiais reaproveitados, móveis descartados e madeira reciclada, construindo tudo de forma artesanal — com o apoio de amigos e da comunidade local.
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Arte, moda e justiça climática
Assim, a história da Casa de Sal também é a história da Cabrochas, marca de moda sustentável criada por Gabrielly e inspirada na avó Severina, referência de força e sabedoria. Ela recria roupas a partir de peças pré-existentes, transformando moda em memória e protesto. Assim como a casa, cada peça carrega um pedaço da ancestralidade familiar e da luta por um futuro mais justo.
Para Gabrielly, a Casa de Sal é também um grito por reparação histórica:
“Pesquisas mostram que uma mulher negra pode levar até sete gerações para ter sua casa própria. A nossa casa é uma resposta a esse ciclo injusto”, afirma.
Um modelo que pode inspirar o mundo
Hoje, a Casa de Sal é um protótipo replicável. Edna e Gabrielly já atuam na Grande Recife com oficinas e ações de educação ambiental. Desse modo, propondo soluções habitacionais criativas e de baixo custo que podem ter adaptações para outras realidades.
Dessa forma, a casa é muito mais que abrigo — é um manifesto. Em tempos de emergência climática, a iniciativa dessas duas nordestinas mostra que a sustentabilidade pode (e deve) partir das periferias, com criatividade, coragem e conexão com a terra.
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