No coração seco da caatinga nordestina floresce uma raiz que carrega séculos de mistério, espiritualidade e resistência: a jurema-preta (Mimosa tenuiflora). Muito mais que uma planta, ela é a base de uma religiosidade profunda, que une saberes indígenas, tradições africanas e influências europeias — e hoje, até a ciência psicodélica olha para ela com interesse renovado.
A história dessa planta sagrada está no livro A Ciência Encantada de Jurema, do jornalista Marcelo Leite. Fruto de extensa pesquisa de campo e imersão em terreiros do Nordeste e Sudeste, a obra revela como o uso ancestral da jurema-preta deu origem ao que hoje conhecemos como Jurema Sagrada ou catimbó-jurema, uma das expressões mais fascinantes da religiosidade brasileira.
Essa tradição espiritual, marcada por rituais com bebidas psicodélicas, cânticos, tambores e entidades como mestres, mestras, caboclos e exus, desafia classificações rígidas. A Jurema Sagrada não é um ramo da umbanda ou do candomblé. Embora dialogue com ambos, é uma religião autônoma, forjada na resistência ao colonialismo e na convivência entre povos originários, africanos escravizados e missionários europeus.
Resumo sobre a jurema
Aspecto | Descrição |
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Nome da Planta | Jurema-preta (Mimosa tenuiflora) |
Local de Origem | Caatinga nordestina |
Significado Cultural | Símbolo de mistério, espiritualidade e resistência |
Livro Referência | A Ciência Encantada de Jurema, de Marcelo Leite |
Bases da Tradição | Saberes indígenas, tradições africanas, influências europeias |
Nome da Religião | Jurema Sagrada ou Catimbó-Jurema |
Elementos dos Rituais | Bebidas psicodélicas, cânticos, tambores, presença de mestres, mestras, caboclos e exus |
Relação com Outras Religiões | Não é umbanda nem candomblé, mas dialoga com ambas |
Origem da Tradição | Resistência ao colonialismo; convivência entre povos indígenas, africanos escravizados e missionários europeus |
Conceito de “Ciência Encantada” | Integração entre espiritualidade e conhecimento; valorização ancestral |
Composto Químico em Estudo | DMT (presente na jurema) |
Uso Científico Atual | Pesquisas para tratar depressão, traumas e outras doenças mentais |
Percepção Histórica | Antes vista como feitiçaria ou bruxaria, perseguida e marginalizada |
Percepção Atual | Reconhecida como conhecimento ancestral e objeto de estudo científico |
Importância Cultural | União entre mundos, símbolo de cura da alma e do corpo, inspiração para a ciência moderna |
Frase-chave | “Há muito de encantado no que chamamos de conhecimento — e muito de ciência no que chamamos de fé.” |
Uma Ciência Encantada
O termo “ciência encantada” que dá título ao livro de Marcelo Leite não é apenas uma metáfora. Hoje, cientistas ao redor do mundo voltam os olhos para substâncias psicodélicas. Um exemplo disso é o DMT — presente na jurema — com o objetivo de tratar depressão, traumas e outras doenças mentais. Mas para os juremeiros, a planta sempre teve esse poder de cura, não apenas do corpo, mas da alma.

Assim, o que antes era considerado feitiçaria ou bruxaria, perseguido pela polícia e marginalizado pela sociedade, ganha novo status como conhecimento ancestral e campo legítimo de pesquisa. A espiritualidade da Jurema, forjada no sofrimento e na resistência, mostra que o Brasil profundo tem muito a ensinar ao mundo.
A jurema não é apenas uma planta; é símbolo de resistência cultural e espiritual. Ao mesmo tempo, seu culto une mundos, cura feridas e agora inspira também a ciência moderna. Como diz o livro, há muito de encantado no que chamamos de conhecimento — e muito de ciência no que chamamos de fé.