O cenário do futebol feminino brasileiro vive um momento de virada. Após conquistar a Copa América em agosto e ser vice-campeão olímpico no ano passado, a seleção brasileira ganhou não apenas troféus, mas também um holofote poderoso que ilumina desafios históricos: a falta de investimento, o amadorismo e o machismo estrutural.
Em resposta, o Governo Federal anunciou uma jogada decisiva. Em um encontro com as campeãs da Copa América nesta quarta-feira (10), o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que enviará ao Congresso Nacional, na sexta-feira (12), o Projeto de Lei do Futebol Feminino. A iniciativa promete ser um marco para a modalidade, com impactos diretos e significativos para atletas de todo o país, especialmente nas regiões com grande tradição futebolística, como o Nordeste.
Igualdade de condições é a prioridade
O cerne do projeto é simples em sua premissa, mas revolucionário em seu potencial: garantir equidade. O presidente Lula foi claro ao afirmar que o objetivo é “garantir às organizações esportivas formadas de futebol feminino, os mesmos direitos e benefícios conferidos às de futebol masculino, inclusive os recursos financeiros”.
Isso significa que clubes e associações que investirem no futebol feminino terão acesso aos mesmos incentivos fiscais e benefícios legais já concedidos ao futebol masculino, uma mudança que pode redirecionar milhões em recursos para a base e o profissionalismo das mulheres no esporte.
Combate ao machismo e proteção às atletas
O projeto vai além do financeiro. Ele carrega um forte caráter social, assumindo o compromisso de combater a discriminação, a intolerância e a violência contra mulheres relacionadas ao futebol. Além disso, aborda uma questão crucial para a carreira das atletas: a maternidade.
O Ministro do Esporte, André Fufuca, destacou que “as atletas, hoje, se engravidarem, não têm acesso aos direitos delas”. O novo PL pretende mudar essa realidade, garantindo licença-maternidade remunerada e estabilidade employment, assegurando que a gravidez não signifique o fim da carreira de uma jogadora.
Fim do amadorismo? A meta pela profissionalização
Contudo, um dado chocante apresentado pelo ministro Fufuca ilustra a dimensão do desafio: 80% das atletas brasileiras são amadoras. Para mudar essa realidade, o projeto traz uma regra audaciosa: todos os times das quatro divisões do futebol feminino só poderão ter, no máximo, 4 atletas amadores em seus elencos.
A medida força uma profissionalização acelerada do mercado, criando mais vagas com carteira assinada e obrigando os clubes a estruturar carreiras profissionais para suas jogadoras.
Os pilares do Projeto de Lei do Futebol Feminino
A tabela abaixo resume os principais eixos da proposta:
Pilar do Projeto | O que Propõe? | Impacto Esperado |
---|---|---|
Igualdade de Benefícios | Estende aos clubes de futebol feminino os mesmos incentivos financeiros e legais do masculino. | Atrair investimento privado e institucional para a modalidade. |
Combate à Discriminação | Políticas para combater o machismo e a violência no esporte. | Criar um ambiente mais seguro e acolhedor para mulheres e meninas. |
Proteção à Maternidade | Garante direitos trabalhistas, como licença-maternidade, para atletas gestantes. | Permitir que atletas conciliem a carreira esportiva com a vida familiar. |
Profissionalização | Limita o número de atletas amadoras em clubes das quatro divisões. | Formalizar vínculos trabalhistas e criar mais empregos formais no esporte. |
Desenvolvimento de Base | Incentiva parcerias entre escolas, universidades e clubes para capacitar talentos. | Fortalecer a base e melhorar a formação de novas atletas. |
Visão de Futuro: Universidade do Esporte e Copa de 2027
Ao mesmo tempo, o presidente Lula também sinalizou um plano ousado para o longo prazo: a criação de uma Universidade Federal do Esporte. A instituição não seria para “ensinar a jogar bola”, mas para aprimorar esportistas com conhecimento de alto nível em áreas como fisiologia, nutrição, psicologia e gestão esportiva.

Marta é nordestina e a maior jogadora de futebol de todos os tempos.
Tudo isso converge para um grande objetivo: preparar o Brasil para sediar a Copa do Mundo Feminina de 2027 da melhor forma possível. Como disse a goleira Claudia Luana, vestir a camisa da seleção é um “sentimento único”. A meta agora é garantir que o país dê a todas as suas atletas a estrutura e o respeito que elas merecem para transformar esse sentimento em ainda mais conquistas.
O Nordeste, berço de tantos craques, tem tudo para ser um dos maiores beneficiados por essa nova jogada, ganhando não apenas mais clubes profissionais, mas também centros de formação e desenvolvimento que possam revelar as próximas estrelas do futebol mundial.