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Cidade da Paraíba retoma produção do algodão em escala industrial e mira

O município de Ingá, a 101 km de João Pessoa, convida associações de agricultores, instituições públicas e privadas, imprensa e clientes para o “Dia de Campo”, no dia 12 de setembro.

Enraizado na Caatinga, com baixo índice de chuvas, Ingá está colhendo algodão com alta produtividade. A princípio, o algodão orgânico é cultivado pela agricultura familiar e pelas comunidades quilombolas alcança 1200 quilos por hectare. Plantado com contrato de compra garantida com tecelagens e confecções tem atraído novos agricultores saindo de 5 para 46 hectares em apenas um ano. “A retomada da produção em Ingá é um resgate cultural e histórico. Vamos colocar a cidade de volta no mapa do algodão do país”, anuncia Robério Lopes Burity, prefeito da cidade.

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Na década de 1940 Ingá era o segundo maior produtor de algodão do Brasil. Denominado ‘Ouro branco’ trouxe prosperidade, mas também dissabor. “Nos anos 80, com a praga do bicudo, todos perderam tudo, do fazendeiro ao trabalhador do roçado, sem distinção. Uma tragédia. O algodão foi praticamente extinto. Sem perspectiva de futuro, grande parte dos agricultores foi embora”, relembra Severino Vicente, 70 anos, conhecido como Biu.

Biu desistiu do algodão em 1983, no entanto, hoje, como Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, tem a missão de convencer os vizinhos a plantar. Para isso, enfrentou o próprio trauma servindo como exemplo. “Confesso que estava receoso. Plantei somente 5 hectares, mas tive uma ótima safra e ganhei dinheiro. Este ano, já estamos em 46 hectares. Das 43 famílias associadas, 38 já vão colher algodão orgânico em setembro, inclusive a minha família”, comemora.

Novas perspectivas

Com novas perspectivas, o campo vem atraindo mulheres e jovens. Em 2021, havia apenas uma mulher no campo, este ano já são 17. A produção em Ingá envolve as comunidades de Pedra D’água, Distrito de Pontina, Sítio Pontina, Sítio Cutias, Fazenda São Paulo, Sítio Cururu, Fazenda Umatai, Sítio Pedra Lavrada e Sítio Piaba. Todos os trabalhadores são capacitados para a agricultura inovadora e agroecológica pela Empresa Paraibana de Pesquisa Extensão Rural e Regularização Fundiária – Emater. Desta forma, eles aprenderam que é possível enfrentar e vencer o bicudo sem usar veneno.

Algodão orgânico e a sustentabilidade local

De acordo com a Textile Exchange, menos de 1% da safra de algodão no Brasil é orgânico. O algodão da Paraíba, além do valor agregado pela certificação, tem produção orientada pelos princípios da sustentabilidade ambiental, social e econômica. O trabalho tem como guia os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da agenda 2030 da ONU, cujas metas envolvem erradicação da pobreza, boa saúde e bem estar, cidades e comunidades sustentáveis, entre outras. Como consequência, o valor pago ao agricultor pelo quilo do algodão é o maior do país.

O cultivo é consorciado com milho, feijão e fava. Além de funcionar como barreira de proteção, faz parte da estratégia da segurança alimentar. “Se chover muito, perde o feijão e o milho. Se não chover quase nada, perde a fava. De qualquer forma, o algodão floresce e tem fibra. E com o dinheiro da colheita podemos sustentar a família”, diz Biu.

“Constatamos em Ingá uma ótima qualidade técnica do algodão. A iniciativa do prefeito ao propor o ‘Dia de Campo’ é uma novidade porque agrega agentes do setor público e do setor privado e uma oportunidade de apresentar para os outros municípios da região novas soluções. Valorizamos, sobretudo, os que levam o algodão do pequeno produtor para o mundo por meio de pesquisas que geram novos tecidos e produtos de moda agregando ainda mais valor ao algodão. Nós estamos levando esse conhecimento e esta experiência para outros países da América Latina”, declarou Adriana Gregorin, coordenadora regional do projeto +Algodão.

Uma indústria para transformar a cidade

De acordo com a Prefeitura, a meta é tornar Ingá referência brasileira em algodão orgânico. As ruínas da antiga fábrica têxtil de 10.000m² já foi desapropriada pela prefeitura. A ideia é beneficiar aproveitando todos os subprodutos do algodão.

O gestor da cidade revela que aguarda a análise do projeto Cooperar, da Secretaria da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento do Semiárido (Seafds), para a saída do segundo galpão, para a etapa do óleo. “Planejamos desta forma restaurar a nossa história e promover a independência dos agricultores, com geração de emprego e renda, fomentando a economia da região, tendo em vista que a cidade de Ingá é um município pólo”, diz Burity.

Artesanato

Ao mesmo tempo, o  projeto “Labirinto de Ingá” reúne mulheres em novos caminhos para a técnica artesanal, que estava em decadência na região pelo baixo valor de venda. Reunidas em associação, já estão produzindo para confecções.

O “Dia do Campo” inclui a apresentação de produtos indicando um futuro para o labirinto na Indústria Criativa da Moda. “O projeto ‘Labirinto de Ingá’ aproxima as mulheres das áreas rurais que moram distantes uma das outras. Isso fortalece o senso de comunidade e de colaboração entre elas”, justifica Burity, indicando que está atento a outra meta da ODS: realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos econômicos.

O Dia de Campo realizado pela Prefeitura de Ingá tem apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Paraíba), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Paraíba), Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer), e Secretaria de Estado da Agricultura Familiar e Desenvolvimento do Semiárido (SEAFDS).

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