O nome Chico Science é sinônimo de inovação, identidade e resistência cultural. Mesmo após quase três décadas de sua morte, o artista pernambucano segue sendo uma das figuras mais influentes da música nordestina contemporânea. A princípio, ele capitaneou nos anos 90 o movimento manguebeat — uma mistura potente de ritmos regionais, cultura urbana e crítica social.
Como surgiu o manguebeat?
Nascido Francisco de Assis França, em 1966, no bairro de Rio Doce, em Olinda (PE), Chico Science foi um visionário que enxergou nas ruas do Recife uma nova forma de expressar a alma nordestina. Dessa forma, em meio ao abandono das políticas públicas, à desigualdade e à efervescência cultural dos anos 90, ele criou um movimento que misturava o maracatu, coco, ciranda e embolada com rock, rap, funk e música eletrônica.
Ao mesmo tempo, o manguebeat nasceu oficialmente com o lançamento do Manifesto Caranguejos com Cérebro, em 1992, idealizado por Chico e pelo artista Fred Zero Quatro (do Mundo Livre S/A). Dessa maneira, o texto propunha “alimentar a lama do mangue com ideias novas”, transformando o Recife em um centro de criação, inovação e orgulho regional.

Nação Zumbi e a projeção internacional
Assim, com a banda Chico Science & Nação Zumbi, o artista lançou dois discos icônicos:
- Da Lama ao Caos (1994)
- Afrociberdelia (1996)
Ambos os álbuns são considerados marcos da música brasileira. O som percussivo, com tambores de maracatu e letras que retratavam o cotidiano das periferias recifenses, levou o grupo a festivais internacionais e conquistou a crítica mundial.
Canções como “A Cidade”, “Rios, Pontes & Overdrives” e “Maracatu Atômico” se tornaram hinos de uma geração que via no manguebeat a união entre modernidade e tradição, entre o Nordeste profundo e o mundo globalizado.
A mensagem: crítica social e valorização da cultura popular
Mais do que um estilo musical, o manguebeat foi uma filosofia de resistência cultural. Chico Science defendia o Nordeste como polo criativo e pulsante, e não apenas como sinônimo de pobreza ou seca.
Suas letras falavam de identidade, desigualdade, ancestralidade e consciência social, colocando o Recife e o Nordeste no mapa da música alternativa mundial. Ele provou que era possível ser moderno sem negar as raízes, e que o tambor podia dialogar com a guitarra elétrica e o computador.

O legado vivo de Chico Science
Mesmo com sua morte precoce em 2 de fevereiro de 1997, aos 30 anos, Chico Science deixou um legado que segue inspirando artistas de diferentes gerações e estilos. Bandas e nomes como Cordel do Fogo Encantado, BaianaSystem, Nação Zumbi (sem Chico), Karina Buhr, Otto e Mundo Livre S/A continuam a expandir os ideais do manguebeat.
Além da música, sua influência atinge o cinema, a moda, a literatura e as artes visuais, reforçando a ideia de que a cultura nordestina é múltipla, contemporânea e revolucionária.
Em 2024, o manguebeat completou 30 anos, e várias homenagens foram realizadas em Pernambuco, incluindo exposições, reedições de discos e shows tributo no Recife Antigo — território simbólico do movimento.
Chico Science e o futuro da música nordestina
A herança deixada por Chico Science é a de olhar para o passado com respeito e para o futuro com criatividade. Sua mensagem segue atual: o Nordeste é um caldeirão de sons, saberes e invenções.
Hoje, novos artistas independentes — dos beats do trap nordestino aos tambores eletrônicos do mangue 2.0 — continuam a ecoar sua influência. O Recife, berço do movimento, permanece sendo um laboratório de sons e ideias.
Ficha Cultural: Chico Science
| Informação | Detalhe |
|---|---|
| Nome completo | Francisco de Assis França |
| Nascimento | 13 de março de 1966, Olinda (PE) |
| Falecimento | 2 de fevereiro de 1997, Recife (PE) |
| Banda principal | Chico Science & Nação Zumbi |
| Principais discos | Da Lama ao Caos (1994), Afrociberdelia (1996) |
| Legado | Criador do movimento manguebeat, que uniu maracatu, rock e crítica social |
| Influência | Música nordestina contemporânea, cultura urbana, artes visuais e resistência cultural |
Portanto, o legado de Chico Science vai além da música. Ele foi um símbolo da reinvenção nordestina, um artista que provou que é possível transformar o local em universal. Afinal, sua batida, que nasceu da lama dos mangues do Recife, segue viva. Desse modo, ecoa em palcos, fones de ouvido e corações de quem acredita que a cultura é a mais poderosa forma de resistência.
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