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Política

Ceará oficializa a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Aracatiaçu

O governo do Ceará assinou um acordo histórico nesta quarta-feira (8) que autoriza a doação de 25 hectares de terra para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Aracatiaçu, localizada no município de ...
Eliseu Lins, da Agência NE9
9 de outubro de 2025 - às 08:22
Atualizado 9 de outubro de 2025 - às 08:22
6 min de leitura

O governo do Ceará assinou um acordo histórico nesta quarta-feira (8) que autoriza a doação de 25 hectares de terra para a criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Aracatiaçu, localizada no município de Amontada. O acordo também permite a regularização fundiária para cerca de 150 famílias assentadas na comunidade de Barra das Moitas, encerrando uma disputa territorial que já dura mais de 30 anos.

Elmano assinado acordo foto divulgação

O que é a RDS do Rio Aracatiaçu?

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) é um tipo de unidade de conservação que tem como objetivo harmonizar a preservação ambiental com o modo de vida das comunidades tradicionais. No caso do Rio Aracatiaçu, a proposta envolve:

  • Área total aproximada de 14 mil hectares, sendo quase 10 mil hectares marinhos e cerca de 3 mil hectares terrestres.
  • Estudos técnicos, levantamentos de campo e intensas consultas com moradores da área para definir os limites, usos permitidos e formas de gestão participativa.
  • Criação de um conselho gestor com representação tanto da sociedade civil (moradores, comunidades tradicionais) quanto do governo.

Regularização fundiária e justiça social

A doação dos 25 hectares pela empresa Vila Moitas SPE viabiliza a regularização da posse de aproximadamente 150 famílias. O processo resolve conflitos de longa data entre moradores e empresários da região de Barra das Moitas, oferecendo segurança jurídica e territorial às comunidades que vivem de pesca artesanal, agricultura de subsistência e turismo comunitário.

Moradores destacam que, além de preservar seus meios de subsistência, esse reconhecimento oficial traz dignidade e a possibilidade de prosperar com mais autonomia. Liduina dos Santos, liderança local, afirmou que “muitas coisas boas estão vindo para a nossa comunidade” após décadas de incerteza.

pessoas em auditorio com documento de regulamentação de doação
acordo reserva de desenvolvimenro sustentavel foto divulgação

Fim de um conflito histórico

Durante o evento de assinatura, o governador Elmano de Freitas destacou o simbolismo da conquista para as famílias que lutam há décadas pelo direito à terra.

“Hoje é um dia de emoção e de reparação histórica. Estamos garantindo dignidade e cidadania a quem sempre cuidou dessa terra e viveu dela. O Ceará dá um passo firme em direção a um modelo de desenvolvimento sustentável e justo”, afirmou o governador.

O acordo encerra um impasse entre moradores locais e empresários da região, e foi articulado pela Casa Civil do Governo do Estado, com participação da Sema, Procuradoria-Geral do Estado (PGE), Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace) e da Associação dos Moradores do Distrito de Moitas.

Entre os beneficiados, a emoção foi o sentimento dominante.
Liduina dos Santos, de 66 anos, moradora da Barra das Moitas, celebrou o desfecho da longa luta:

“Foram mais de 30 anos de incerteza, e hoje a gente sente que essa terra é realmente nossa. Agora, com o apoio do governo, teremos oportunidade de crescer sem precisar sair daqui.”

Francisco Silva, pescador e líder comunitário, ressaltou a importância do reconhecimento oficial:

“Muita gente daqui vive da pesca, do turismo e do artesanato. Antes, a gente não podia construir nada sem medo de perder o que era nosso. Agora, com a regularização, vamos poder investir com segurança.”

Maria das Graças Nogueira, marisqueira e mãe de três filhos, acredita que a RDS trará oportunidades para as novas gerações:

“Meus filhos vão crescer aprendendo que dá pra viver do que a natureza oferece, sem destruir. Isso é o que a gente sempre quis.”

Natureza, ecossistemas e biodiversidade

A área contemplada pela futura RDS inclui ecossistemas de manguezais, dunas, planícies fluviomarinhas, praias e foz de rio. Em consultas públicas e estudos ambientais, foram identificadas espécies da flora e fauna que dependem desses ambientes para reprodução, abrigo ou alimentação.

Além disso, a região é reconhecida pela fragilidade ambiental, o que torna essencial a proteção legal para evitar degradação causada por ocupação irregular, turismo desordenado ou impactos de empreendimentos privados.

Passeio de barco pelo mangue no Rio Aracatiacu. Foto @murillogf_

Turismo comunitário e desenvolvimento local

Uma parte fundamental do projeto envolve promover o turismo comunitário, de forma regulada e com benefícios para os moradores. Algumas das ações previstas incluem:

  • Construção de três píeres para facilitar o acesso de visitantes e embarcações.
  • Pavimentação de mais de seis quilômetros de vias da comunidade.
  • Urbanização da praça central da Barra das Moitas.
  • Linhas de crédito para construção de acomodações turísticas pelos membros da comunidade local.
  • Capacitação em gestão, hospitalidade e conservação ambiental.

Essas iniciativas visam assegurar que o turismo, quando ocorrer, seja um gerador de renda, emprego local e valorização cultural — e não uma fonte de exploração ou dano ambiental.

Desafios e próximos passos

  • Consulta Pública: uma consulta foi realizada no município de Itarema para apresentar os estudos técnicos da RDS.
  • Cartografia Social: oficinas com moradores permitiram mapear usos do território, identificar áreas de risco e delimitar zonas que precisam de proteção especial.
  • Gestão participativa: exigir equilíbrio entre os interesses públicos, privados e das comunidades; garantir que o conselho gestor seja representativo e eficaz.
  • Recursos para infraestrutura: para fazer as ações previstas (piers, urbanização, créditos) é necessário financiamento consistente e acompanhamento técnico.

Importância para o Ceará e potencial de impacto

A criação da RDS do Rio Aracatiaçu representa um passo importante para o Estado do Ceará em várias frentes:

  • Ambiental: preserva ecossistemas costeiros, manguezais e biodiversidade marinha e terrestre; protege áreas vulneráveis ao avanço urbano ou da especulação imobiliária.
  • Social: assegura moradia, posse de terra e dignidade para famílias tradicionais; fortalece identidades culturais da região.
  • Econômico: com turismo sustentável bem planificado, pode aumentar a geração de renda local, criar empregos e atrair investimentos públicos e privados.
  • Governança: estabelece modelo de gestão comunitária e participação social efetiva, que pode servir de referência para outras reservas RDS no Nordeste.

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Aracatiaçu representa muito mais que um avanço ambiental — é um símbolo de justiça social, pertencimento e futuro sustentável.

Portanto, com a regularização fundiária, as famílias poderão planejar o futuro com segurança, transformando o território em referência para o turismo comunitário e a economia verde.

Afinal, o projeto fortalece a imagem do Ceará como líder em políticas ambientais inovadoras no Nordeste, promovendo um equilíbrio entre crescimento econômico, inclusão social e preservação ambiental.

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Eliseu Lins

Eliseu Lins é baiano de nascimento e paraibano de coração. Jornalista formado na UFPB, tem mais de 20 anos de atuação na imprensa do Nordeste. É pós-graduado em jornalismo cultural e ocupa o cargo de editor-chefe do NE9 desde 2022.