Empresa canadense assina carta de intenções para projeto no Piauí
A região Nordeste do Brasil desponta como foco global de mineração estratégica, e agora atrai também o olhar de investidores estrangeiros. A mineradora canadense Origen Resources assinou uma carta de intenções para adquirir um projeto de exploração de terras raras no estado do Piauí — um passo que combina com o recente relatório do Banco do Nordeste (BNB), que apontou uma produção de cerca de R$ 11 bilhões de minerais críticos e estratégicos apenas no Nordeste em 2024.

O que está em jogo
A carta de intenções da Origen contempla dois blocos de concessão localizados no interior do Piauí, com extensão de 3.978 hectares, além do direito de preferência sobre mais cinco áreas exploratórias. Segundo a empresa, já foram coletadas amostras de superfície que indicaram teores de até 1,61% de óxidos totais de terras raras — resultado considerado significativo para esse tipo de jazida.
O interesse corporativo canadense destaca que as terras raras são fundamentais para a produção de ímãs permanentes, baterias, turbinas eólicas e equipamentos de alta tecnologia. Além disso, o estudo preliminar aponta para a possibilidade de ocorrência de depósitos de argila de adsorção iônica (IACD) — modelo geológico menos agressivo ao meio ambiente e exclusivamente explorado em países como a China.
Contexto regional e potencial estratégico
O relatório do BNB ressalta que a produção de minerais críticos no Nordeste alcançou cerca de R$ 11 bilhões em 2024, com participação expressiva em insumos como níquel, cobre, titânio, vanádio e silício. Complementarmente, o estudo destaca que a região possui alto potencial para outros recursos estratégicos, como terras raras, grafita, tungstênio e bauxita.
De acordo com o governo do Piauí, o movimento de empresas estrangeiras reforça a necessidade de avanço em mapeamento geológico, regulação e infraestrutura de mineração na região. A diretora-presidente do Serviço Geológico do Brasil (SGB), Sabrina Góis, reuniu-se recentemente com o governador Rafael Fonteles para debater parcerias e estudos técnicos sobre o potencial mineral do estado.
Etapas e condições da aquisição
- A Origen Resources dispõe de 150 dias de exclusividade para condução de due diligence (análise técnica, jurídica e regulatória) nos blocos de concessão.
- Em caso de aprovação dos resultados, a empresa assumirá 90% de participação, com pagamento inicial de US$ 50 mil, emissão de 2 milhões de ações e compromisso mínimo de investimento de US$ 1 milhão nos dois anos seguintes.
- Ao final do período, o vendedor recebe 15% das ações da companhia e assento no conselho de administração.
Por que essa iniciativa é relevante
- Alinhamento global: Em cenário de transição energética, a demanda por minerais estratégicos como terras raras tende a crescer expressivamente. A região Nordeste pode se posicionar como fornecedora relevante.
- Valor agregado: Ao mesmo tempo, o foco não é apenas extrair a matéria-prima. Mas integrar a cadeia de valor — o que representa oportunidade de emprego, tecnologia e desenvolvimento local no Piauí e região.
- Desenvolvimento regional: Assim, o avanço desse tipo de projeto pode impulsionar a economia em áreas tradicionalmente fora do centro industrial. Desse modo, contribui para a diversificação econômica do Nordeste.
- Regulação e sustentabilidade: O fato de que o potencial está sendo explorado em paralelo com mapeamento e regulação busca evitar exploração predatória e promover práticas mais sustentáveis.
Desafios a superar
- Infraestrutura de apoio: estradas, energia, porto e logística ainda são gargalos em diversas regiões do Nordeste para mineração em escala.
- Regulação e licenciamento: o tempo de arranque depende de estudos sólidos, licenciamento ambiental e regulação minerária, que ainda demandam avanços.
- Beneficiamento local: para geração de emprego e valor, será necessário que parte do processamento dos minerais ocorra no Brasil, e não apenas exportação da matéria-prima.
- Mercado global volátil: os preços de minerais críticos oscilam conforme políticas internacionais e supply chain global — o que pode afetar a atratividade.
Portanto, a combinação entre alto potencial geológico, interesse internacional – como o da Origen Resources – e o impulso institucional por mapeamento e regulação coloca o Nordeste, e em especial o Piauí, numa posição estratégica no mapa global da mineração de terras raras e minerais críticos. Embora a produção direta de terras raras na região ainda não seja expressiva, os R$ 11 bilhões produzidos em 2024 reforçam a credibilidade da região como polo emergente.
Afinal, se bem conduzido, esse movimento pode não apenas gerar riqueza e empregos. Mas também fomentar uma nova cadeia industrial no Nordeste – integrada, sustentável e orientada para a economia do futuro.
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