“Vocabulário caririense do cearensês brasileiro”. Essa foi a maneira que o perfil do participante do Big Brother Brasil 22, Vyni, encontrou para tratar com irreverência o jeito que fala o cearense.
O jornalista Paulo Henrique Rodrigues abordou o assunto em sua coluna do Diário do Nordeste, que a gente reproduz abaixo.
Que língua é essa que o Vyni fala?
Gastrite? Não, gastura! É quando a gente sente uma coisa ruim na barriga. Por isso a gente evita comer.
Sonho? Não, soim! Soim é o nome do macaco. Atrepado. Funaré. Macaxeira.
Vyni, nosso representante no BBB, tem listado o vocabulário cearense na TV. O perfil do influencer no Instagram criou até o que chamam de “vocabulário caririense do cearensês brasileiro”.
Realmente, o nosso jeito de falar é inspirador. Levou a cordelista Josenir Alves de Lacerda a escrever uma obra-prima da poesia popular: “O Linguajar Cearense”, um cordel-dicionário.
A lista é quase sem fim
Não cabe num só cordel
Tem alpercata, alfinim
Enrabichada e berel
Chué, baé, avexado
Bãe de cuia, oi bribado
Quebra-queixo e carritel
Tem visage, sarará
Tem bruguelo e inxirido
Rabiçaca e aluá
Ispritado e zói cumprido
Bunda canastra, lundu
Dona encrenca, sabacu
Bonequeiro e maluvido
São só duas estrofes, mas até o mais cearense dos nossos conterrâneos ficaria impressionado com tanta palavra. A dama da poesia é de um talento que nos orgulha. E o nosso linguajar é rico na maneira de dar nomes às coisas e aos sentimentos.
Mas também temos riqueza na forma de pronunciar. E aí você já deve ter notado que o Ceará pode ser dividido em dois. O chamado dialeto da Costa Norte do português brasileiro é o que prevalece.
Ele é falado na maioria dos nossos 184 municípios, com destaque para a Capital. Já no sul do Estado e em alguns outros municípios, o dialeto é outro. No Cariri, por exemplo, falamos o subdialeto do interior nordestino.
Apesar desses nomes bem técnicos, todos sabemos a principal diferença entre eles: o povo do Cariri não costuma falar “tchia” e “dhia”. Falamos tia e dia sem chiado. E também falam assim paraibanos, pernambucanos, potiguares e outros nordestinos que moram no Sertão. O Vyni é falante desse dialeto.
Importante pontuar que é diferente do dialeto do Recife, que é aquele falado pelo Gil do Vigor. Mas ambos não palatalizam, não chiam com T e D.
O subdialeto do interior do Nordeste é também o mais comum de ser visto na TV como uma forma representar toda uma região. Este cronista mais experiente se lembra de “A Indomada”, de “Pedra sobre Pedra”. Você, mais jovem, deve se lembrar de Dona Lurdes, a simpática personagem de Regina Casé que protagoniza “Amor de Mãe”.
Mas, se o subdialeto do interior nordestino é o mais comum na ficção, no telejornalismo é o contrário. Ainda prevalece a tendência a usar as pronúncias que palatalizam ou que se se aproximem do padrão do Centro-Sul.
Alguns precisam até mesmo recorrer a profissionais da fonoaudiologia para se adequar.
Na verdade, se o Brasil são muitos, pode-se dizer que o Nordeste também é um bocado.
Está aí o Vyni para provar que o nosso jeito de ser é um dos nossos pontos fortes. Por isso, a boa conduta é não botar boneco com o sotaque de ninguém. É preciso respeitar e celebrar a riqueza do nosso povo.
Fonte: Diário do Nordeste