O aumento do salário mínimo para R$ 1.320,00, previsto para ser pago a partir do próximo dia 1º de maio, pode contribuir para um maior aquecimento da economia brasileira. Um levantamento do Instituto Locomotiva, divulgado em fevereiro, estima que o acréscimo de R$ 18,00 ao salário deve injetar aproximadamente R$ 9,5 bilhões em recursos adicionais na economia.
Se somado com o reajuste já aplicado em janeiro deste ano, que colocou mais R$ 90,00 no mínimo (aumentando-o de R$ 1.212,00 para R$ 1.302,00), a injeção total deve chegar a R$ 78 bilhões. O aumento total de R$108,00 representa um crescimento de 8,9% e um aumento real de 2,8%, descontando-se a inflação aferida pelo índice oficial, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).
O cálculo baseia-se no total de empregados, empregadores, autônomos, e beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) que têm rendimento equivalente ao salário mínimo. Atualmente, segundo o estudo do Locomotiva, eles somam cerca de 60,3 milhões de pessoas. O impacto positivo dos aumentos pode ser ainda maior, pois muitas empresas e prefeituras municipais baseiam-se no valor oficial de um mínimo para definir as suas tabelas salariais, com a tendência de acompanhar o índice anunciado pelo governo.
Outra tendência é de que o dinheiro desses aumentos salariais seja utilizado nos pequenos e médios estabelecimentos de comércio e serviços, principalmente na compra de alimentos, roupas, medicamentos e outros itens de necessidade básica. Para o economista e professor Ítalo Spinelli da Cruz, do curso de Administração da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe), o reajuste do mínimo gera uma injeção de recursos para o primeiro segmento de famílias, aumentando a propensão de consumo dos 50% mais pobres, o que pode levar à um estímulo a economia como um todo.
“Apesar do valor do aumento ser relativamente pequeno, ele tem uma representação significativa em termos de ganhos reais. Nos últimos quatro anos, o poder de compra do salário mínimo foi reduzido, diante do cenário inflacionário, e os aumentos salariais não foram capazes de recompor as perdas do poder de compra, dado os aumentos de preços”, explica Ítalo.
O governo federal sinaliza que pretende adotar uma política focada na recuperação e valorização permanente do salário mínimo, com aumentos que superem a inflação. Nesta quarta-feira, 12, isso foi reiterado pelo ministro do Trabalho, Luiz Marinho, durante uma audiência da Comissão de Trabalho da Câmara dos Deputados. Segundo ele, integrantes do governo e de centrais sindicais formaram um grupo de trabalho para estudar os parâmetros dessa política, devendo apresentar uma proposta nos próximos dias ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para o professor Ítalo, a concessão de aumentos reais ao salário mínimo ajuda na melhoria na economia, mas isso também depende de como andará o cenário econômico do país e a adoção de outras medidas de estímulo. “A retomada da valorização do salário mínimo a partir de 2023, pode ocasionar em efeitos econômicos positivos, porém o contexto econômico, o controle inflacionário, e a formulação de políticas públicas menos regressivas em relação a distribuição de renda e do funcionamento da atividade econômica, serão importantes para que estes efeitos sobre a economia sejam evidenciados”, concluiu ele.