Neste livro somos convidados a viver com o autor sua jornada angustiante: sua viagem através da memória, sua volta para o passado através de cem anos de história familiar na tentativa de descobrir que erros e acertos os seus parentes cometeram até chegar, ele próprio, aos seus acertos e erros. Se, ao fim do livro, ele vai conseguir suas respostas? Cabe a cada leitor tirar suas conclusões… Sem esquecer que um “carcará” é aquela ave que pega, mata e come…. E, é claro, também morre. (Os Carcarás, p. 10 e 11)
A princípio, o trecho do prefácio escrito pelo dramaturgo Aguinaldo Silva dá o tom sobre a abordagem de Maciel Silva, escritor, ator e produtor Cultural, na obra Os Carcarás. No enredo, a vida pregressa da família do escritor é exposta: as feridas são abertas e as dores afloram. São detalhados os mistérios das religiões, lendas e tantas outras histórias que assombraram as noites do agreste e a mente dos moradores, os carcarás, os quais dão nome à produção.
Ao mesmo tempo, a mistura entre a realidade e fantasia proposta por Maciel é ambientada, na maior parte do enredo, no sítio da família Silva. De acordo com o autor, diferente de todas as terras ao redor, a propriedade era improdutiva: nada crescia e florescia naquele chão. A infertilidade do terreno é desmistificada ao longo das 200 páginas e faz companhia às dores, alegrias, dificuldades e vitórias vividas pelos personagens.
Ancestralidade
Para intensificar a relação do leitor com a ancestralidade de Maciel, a imagem da capa é uma ilustração da foto de casamento dos pais. O momento faz parte de um dos capítulos. Contudo, a morte da mãe do autor logo após o último ponto final do processo de escrita fortalece a homenagem: “O fim do livro é o fim da vida dela,” adianta o autor.
Maciel Silva é ator, humorista, autor e roteirista, formado em Artes Cênicas e graduando em História. Em 2016 venceu o prêmio de humor do grupo Parlapatões com personagem O Palhaçinho triste. É natural de Panelas, Pernambuco, e vive atualmente em São Paulo.