Operação liberta 41 ararinhas-azuis no Sertão do Nordeste

Uma operação minuciosa e colaborativa garantiu a chegada de 41 ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) ao Aeroporto de Petrolina (PE), marcando mais um avanço na reintrodução da espécie na fauna brasileira. Cerca de 10 auditores fiscais federais agropecuários participaram do processo de importação e inspeção das aves.

Viagem da Alemanha ao Brasil

A ação, fruto de uma parceria entre diversas instituições, reforça o compromisso com a preservação ambiental e a recuperação de uma espécie nativa do Nordeste, extinta na natureza há mais de duas décadas.

Originárias das regiões de Curaçá e Juazeiro, no Norte da Bahia, as ararinhas passarão por um período de quarentena de três semanas para avaliação de saúde, antes de serem transferidas para o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul, em Curaçá. O projeto é coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), em conjunto com a organização alemã Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), que mantém um criadouro especializado na preservação de espécies ameaçadas.

Para viabilizar a chegada das aves ao Brasil, uma ampla mobilização envolveu órgãos como o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro) e o Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão), além do suporte logístico da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF), Receita Federal e CCR-Aeroportos.

auditores recebem ararinha azul em petrolina
Auditores recebem ararinha azul em Petrolina foto reprodução

De acordo com o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), o processo de importação foi iniciado em outubro do ano passado e exigiu rigorosos protocolos sanitários para evitar a entrada de doenças exóticas no Brasil. “Cada etapa foi cuidadosamente planejada, incluindo a inspeção do local de quarentena e reuniões técnicas sobre biossegurança”, explicou Marta Pedrosa Maior, auditora fiscal federal agropecuária.

Além das verificações de documentação e das condições sanitárias das ararinhas, a fiscalização incluiu a inspeção dos passageiros e da aeronave, que partiu da Alemanha, país com restrições sanitárias para Febre Aftosa e Peste Suína Africana. A operação também exigiu a eliminação de resíduos do serviço de bordo e itens proibidos, visando proteger a agropecuária nacional.

Agora, as aves permanecem sob monitoramento para exames de Influenza Aviária e Doença de Newcastle. Após a confirmação da saúde do grupo, elas serão transferidas para Curaçá, onde a BlueSky Caatinga, organização privada voltada à recuperação ambiental e geração de renda sustentável por meio de créditos de carbono, conduzirá o processo de reintrodução.

Preservação na Caatinga: Um Novo Capítulo

De acordo com Ugo Vercillo, diretor da BlueSky, a ararinha-azul foi severamente impactada pelo tráfico de animais, com o último exemplar selvagem desaparecendo em 2000. No entanto, os esforços de conservação têm apresentado resultados promissores. Em 2020, um primeiro grupo de 52 ararinhas chegou ao Brasil, resultando nas primeiras solturas em 2022. Desde então, 20 aves foram reintroduzidas na Caatinga, e o restante segue em reprodução controlada.

“As ararinhas têm se adaptado bem ao bioma e já tivemos os primeiros filhotes nascidos tanto em cativeiro quanto em vida livre, algo extremamente positivo para a consolidação da espécie na região”, afirmou Vercillo.

A nova remessa de aves passará por uma seleção criteriosa antes da soltura, prevista para junho. A expectativa é que novos casais se formem e que a população cresça de forma sustentável. “Esse projeto tem superado as previsões iniciais e representa um marco para a conservação no Brasil, especialmente para o Nordeste, que abriga essa espécie única no mundo”, concluiu o diretor da BlueSky.