Durante décadas, as rezadeiras do Nordeste foram referências espirituais em comunidades urbanas e rurais da região. Mulheres simples, de fé inabalável, carregavam no coração e na fala o poder de curar, benzer e aconselhar através de orações e rituais passados de geração em geração. Mas o que era exatamente essa prática? Como surgiu? E por que praticamente desapareceu do cotidiano das cidades e vilarejos?
O que eram as rezadeiras?
As rezadeiras — também chamadas de benzedeiras ou curandeiras — eram mulheres reconhecidas popularmente por suas habilidades espirituais. Elas eram procuradas para rezar contra o “mau-olhado”, curar “quebranto”, aliviar dores físicas e emocionais, e até proteger contra doenças.
Com rezas específicas, uso de ramos de plantas como arruda, alecrim, manjericão e espada-de-São-Jorge, essas mulheres realizavam rituais com palavras repetidas em tom suave, muitas vezes misturando catolicismo popular com elementos da religiosidade afro-brasileira e indígena.
Como surgiram as rezadeiras no Nordeste?

A tradição das rezadeiras é fruto de um sincretismo cultural que atravessa séculos. Ela tem raízes:
Africanas, por meio dos conhecimentos de ervas e espiritualidade trazidos pelos povos escravizados;
Indígenas, com o uso medicinal das plantas e conexão com a natureza;
E europeias, com a forte influência do catolicismo popular trazido pelos portugueses.
Com o tempo, esse saber foi se consolidando nas periferias das cidades e, principalmente, em comunidades rurais nordestinas, onde o acesso à medicina tradicional era escasso. As rezadeiras se tornaram, então, verdadeiras agentes de saúde e fé, acolhendo os mais pobres com palavras, orações e empatia.
O que aconteceu com as rezadeiras? Por que estão desaparecendo?

A figura da rezadeira começou a desaparecer principalmente a partir da segunda metade do século XX. Entre os principais fatores, estão:
Avanço da medicina convencional e dos serviços de saúde pública;
Crescimento das igrejas evangélicas, que frequentemente demonizam práticas populares como rezas e benzimentos;
Urbanização e mudança de hábitos culturais, com perda de tradições orais;
Falta de continuidade geracional, já que poucas jovens assumiram o papel das antigas rezadeiras.
Hoje, são poucas as comunidades que ainda contam com uma rezadeira ativa. Em geral, são mulheres idosas, muitas vezes esquecidas, mas ainda respeitadas por quem guarda gratidão por suas bênçãos e conselhos.
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Legado e importância cultural das rezadeiras nordestinas
Apesar de estarem em extinção, as rezadeiras permanecem vivas na memória afetiva de milhares de nordestinos. Seus rituais simples, porém potentes, mostram o valor do cuidado, da escuta e da espiritualidade como formas de cura.
Hoje, pesquisadores, artistas e movimentos culturais têm buscado resgatar e documentar essas práticas como patrimônio imaterial do Nordeste. Dessa forma, algumas universidades já estudam os saberes populares das rezadeiras, valorizando esse conhecimento ancestral como parte da história da medicina alternativa e da cultura brasileira.
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