Desde o desafio proposto em 2017 pelo príncipe Charles, no Reino Unido, de tornar a moda uma indústria limpa, 23 das mais renomadas marcas e varejistas globais já se comprometeram a usar somente algodão 100% sustentável até 2025. No entanto, de acordo com a Textile Exchange, que gerencia o projeto no Brasil, atualmente 22% do algodão mundial é sustentável e apenas 1% do algodão produzido no mundo é orgânico.
Na Paraíba, uma espécie de algodão é cultivada no sertão pela agricultura familiar, chamando a atenção do mercado internacional. Com demanda crescente, a produção da fibra deve ganhar escala com a participação de oito marcas de moda do Brasil na Milan Fashion Week, de 21 a 27 de setembro, na Itália, um dos mais importantes eventos de moda do mundo.
Cultivado em assentamentos rurais, o algodão da Paraíba já nasce colorido em tons de bege, marrom e verde. Orgânico, sem irrigação e sem tingimentos, gera economia de 87,5% de água na cadeia produtiva têxtil. Desta forma, a moda encontra no algodão colorido orgânico uma alternativa para transformar o setor têxtil e de confecção, a 4ª maior do mundo, em uma indústria viável, com uso de fibras naturais, limpas e menos poluentes.
Com realização da Brasil Eco Fashion Week – BEFW em parceria com a Fashion Vibes, de Milão, as marcas brasileiras que usam o algodão colorido da Paraíba devem provocar uma expansão do cultivo no campo. Entre elas, a Natural Cotton Color, com sede em João Pessoa, capital do Estado. A marca é conhecida por fomentar a economia local por meio do plantio do algodão colorido com contrato de compra garantida com os agricultores, incluindo o trabalho das artesãs destas áreas rurais na produção,, trazendo à tona a viabilidade de uma moda socialmente justa, economicamente viável e que promove o desenvolvimento local.
“De duas toneladas de algodão cultivados em 2012 já chegamos a 120 toneladas, tudo com certificação internacional de produto orgânico, gerando renda para mais de 400 famílias”, explica Francisca Vieira, CEO da empresa. A empresária destaca que o alcance internacional também é resultados do desenvolvimento de novos fios e tecidos pela indústria têxtil da região.
Inovação na indústria têxtil: Denim colorido sem tingimento e jacquard de algodão com seda
Com a coleção, a empresa vai apresentar em Milão o Denim 100% orgânico que possui cor, mas sem nenhum tipo de tingimento, o jacquard de algodão com seda e, ainda, tecidos desenvolvidos com fios que fundem o algodão com resíduos de seda e de linho. “Há também ternos produzidos em moletinho de algodão com seda. E o smoking que deixa de ser black tie para se apresentar marrom, cor natural do algodão colorido orgânico”, revela Francisca.
Para Rafael Morais, diretor executivo do BEFW, a partipação destas marcas de moda ajuda a posicionar o Brasil como referência neste segmento da indústria, nutrindo o interesse global por moda ética e sustentável”, diz.
Para Yulia Palchykova, diretora do Fashion Vibes e realizadora da mostra BEFW em Milão, a moda brasileira chama a atenção do mercado mais atento à sustentabilidade em oposição ao fast fashion. “O Brasil é rico em matérias-primas, mas também em criatividade baseada na diversidade cultural. Nosso objetivo é evidenciar o desenvolvimento nesta direção, promovendo designers que valorizam em suas coleções as suas raízes, a sua cultura”, disse.
A coleção da Natural Cotton Color reúne 16 looks, entre eles, 12 femininos e quatro masculinos. As peças foram criadas por Francisca Vieira, CEO da marca, e pelo consultor e designer Rafael Lemos, com modelagem desenvolvida por Raquel Grassi.
Sustentabilidade na moda: arranjos produtivos e apoio de entidades locais
A marca tem como identidade a inserção do trabalho artesanal com inovações no design para agregar valor às peças. Nesta coleção Ipês do Brasil: do Cerrado ao Sertão, foram envolvidos dois arranjos produtivos: os bordados foram produzidos pelas artesãos de Brasília no projeto Moda Connect e as rendas e crochês pela Associação das Rendeiras de Renda Renascença do Cariri Paraibano – Renasci.
As ações da empresa com o cultivo do algodão colorido estão alinhadas a vários dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ODS 2030 da Organização das Nações Unidas, como o Objetivo 2, Promover a agricultura sustentável; o Objetivo 8, Trabalho decente e crescimento econômico; o Objetivo 9, Promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação; o Objetivo 12, Garantir padrões de produção e consumo sustentáveis, entre outros.
O desfile da Natural Cotton Color em Milão conta com o apoio do Centro de Tecnologia Têxtil do Senai da Paraíba por meio da consultoria do designer Rafael Lemos. A inovação artesanal teve desenvolvimento e capacitação realizados com apoio do Sebrae Paraíba. As peças do desfile foram produzidas com tecidos feitos em parceria com as indústrias têxteis Ecosimple e Unitextil. Os looks serão apresentados com bolsas da Makano e calçados femininos In-soul Shoes, produzidos com matéria-prima da Rato Roi com desenhos de Flavia Vanelli. Os calçados masculinos são fabricados pela Plantae.
A escolha da “modelo de prova” para o evento em Milão também seguiu princípios sociais ao escolher Luana Silva, moradora no centro histórico de João Pessoa na comunidade do Varadouro, onde fica a sede da Natural Cotton Color. Luana é uma jovem talento descoberta por Francisca Vieira.
A empresa reforça a identidade da marca reproduzindo no desfile a música mais popular de um ícone da Paraíba e do Brasil: Jackson do Pandeiro. Conhecido como “O rei do ritmo” o cantor, compositor e multi-instrumentalista reflete na música “Chiclete com banana” uma preocupação em manter o samba brasileiro puro, livre da influência de ritmos estrangeiros.
FONTE: ASSESSORIA